Golpe de mestre
A fraude comandada pelo ex-presidente da Bolsa Nasdaq, Bernard Madoff, espalha seus estilhaços por todo o mundo e alcança o Brasil.
O Estado de S.Paulo informa que investidores brasileiros começam a consultar escritórios de advocacia para recorrer à Justiça internacional e tentar reaver o dinheiro perdido.
As perdas provocadas pelo esquema de pirâmide administrado por Madoff podem chegar a 50 bilhões de dólares e certamente vão afetar a já debilitada credibilidade do sistema financeiro internacional.
O golpe era tão primário que os analistas consultados pelos jornais têm até dificuldade para entender como funcionava.
O caso se torna ainda mais grave quando se observa que entre as vítimas encontram-se investidores altamente qualificados e experientes, como bancos especializados em administração de fortunas.
O que Madoff fazia era simplesmente oferecer retorno alto aos investidores, usando dinheiro de novos aplicadores para pagar os rendimentos de seus clientes.
O esquema era exatamente igual à velha pirâmide, que de vez em quando saqueia trocados de pessoas crédulas e gananciosas.
O elemento mais assustador da história toda é o fato de que, depois de descoberto, o golpe se revelou absolutamente primário, mas as autoridades financeiras dos Estados Unidos simplesmente não o enxergaram.
Segundo os jornais, o órgão encarregado de regulamentar e fiscalizar o mercado de valores mobiliários nunca nunca examinou os livros contábeis da empresa de Madoff desde que ela foi registrada, em 2006.
O que a imprensa reproduz hoje, quando se revelam detalhes do golpe, é um verdadeiro estado de choque.
Investidores, operadores e analistas do mercado financeiro se declaram estupefatos com a falta de segurança do sistema.
Segundo o Globo, os aplicadores brasileiros foram atraídos pela promessa de alto rendimento e pela possibilidade de ganhar um dinheiro que não precisaria ser declarado à Receita Federal.
As aplicações eram feitas em valores abaixo de 10 mil dólares de cada vez, para escapar da fiscalização automática.
Os jornais não conseguiram, ou não quiseram, identificar os otários, ou melhor, as vítimas brasileiras do golpe.
Pena. Eles poderiam alimentar os programas humorísticos da televisão neste final de ano.
Um ano para lembrar
As revistas de informação e os jornais preparam as tradicionais retrospectivas do ano.
Será interessante observar como a imprensa brasileira terá enxergado este surpreendente 2008.
Também será bom exercício analisar como a imprensa vai apresentar as perspectivas para 2009.
Vai ser principalmente interessante constatar se os oráculos consultados no final de 2007 vão ganhar o mesmo espaço neste ano.
Afinal, eles erraram praticamente todas as suas previsões.
O próximo ano, que deve começar envolto na nuvens da crise financeira global, também vai marcar importantes efemérides que ajudam a refletir sobre a modernidade e a imprensa.
Resta saber se os jornais não vão repetir as omissões deste 2008, quando se esqueceram de rememorar datas importantes, como a própria fundação da imprensa brasileira.
A crise abre uma janela na história para um amplo debate sobre a natureza do sistema econômico internacional, mas é preciso conferir se a imprensa está disposta ou qualificada para conduzir essa reflexão.
Alberto Dines:
– Esta passagem de 2008 para 2009 é diferente das anteriores. Já se pressente o que vai acontecer, não há mistérios: futurólogos, astrólogos e cartomantes, desta vez, não terão muito trabalho. Além de Barack Obama e sua equipe vai-se falar muito em Franklin Roosevelt e John Maynard Keynes. Também em Churchill, Stalin, Hitler e Mussolini porque em 2009, além da posse do novo presidente dos EUA, serão lembrados os 70 anos da 2ª Guerra Mundial. A pauta para o próximo ano já está delineada, resta saber se a imprensa prepara-se para acompanhá-la em profundidade. Veja hoje à noite no Observatório da Imprensa às 00:10 pela TV-Cultura. Ao vivo, às 22:40, pela TV-Brasil e em S. Paulo pelo canal 4 da Net.