Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Economia, eleição e mídia
>>Segurança vai a debate

Economia, eleição e mídia


O presidente Lula faz o jogo da mídia ao garantir que haverá crescimento notável em 2006. A imprensa, que sofre de compulsão declaratória, cumpre o papel de repercutir, com um ou outro toque de ceticismo. Num plano mais civilizado de debate político, todas as forças poderiam expressar votos de que isso de fato ocorra. Seria uma maneira de esvaziar a manipulação da economia dentro de uma ótica eleitoral. Desde que não se criassem vãs ilusões.



A agenda das moças


Entre os itens que passaram muito discretamente pela crise de corrupção deste ano está a agenda entregue à Polícia Federal por Jeany Mary Corner, organizadora de eventos em Brasília com garotas recepcionistas. A hipótese de que indiscretos pousassem os olhos nos nomes dessa lista de clientes deve ter dado frio na barriga de muita gente graúda. Por alguma razão, a Polícia Federal que recebeu o precioso caderno foi a de São Paulo.


Na Folha desta terça-feira, 27 de dezembro, Mônica Bergamo noticia que Jeany Mary Corner ficou sem advogado. Ele disse que, como trabalha em São Paulo, pouco pode ajudar sua constituinte, que fica em Brasília.


Biotecnologia


A Folha de S. Paulo relaciona hoje, entre os poucos projetos importantes votados no Congresso Nacional em 2005, a Lei de Biossegurança. Ela passou em março, dois meses antes de se iniciar a crise de corrupção. Modificou a composição da Comissão Técnica de Biossegurança.


Está marcada para hoje a primeira reunião da Comissão em novo formato, cujo funcionamento é muito aguardado por diferentes setores da ciência brasileira. O noticiário de ontem e de hoje a respeito desse assunto é quase invisível.



Literatura escondida


Quartim de Moraes é um jornalista veterano de São Paulo que virou editor. Foi o criador da Editora Senac e hoje é sócio da Códex. Ele concorda com a idéia de que uma produção mais disseminada de ficção literária sobre a realidade brasileira poderia ajudar a entender melhor o país. Quartim diz que não faltam obras. Para ele, o ponto de partida das dificuldades é que o Brasil é um país de relativamente poucos leitores. A dimensão acanhada da rede livreira é outro obstáculo. E a indústria do livro, que movimenta em torno de 2 bilhões de reais por ano, tem pequeno peso econômico.


Segundo o editor, a produção literária brasileira é muito maior do que a capacidade da imprensa de acompanhá-la. O espaço dedicado à literatura só não é menor, afirma Quartim de Moraes, porque as páginas dos cadernos especializados dão prestígio a quem nelas aparece.


Um aniversário notável


Hoje faz anos uma personalidade importante do Rio de Janeiro. A pianista, pintora, escultora e escritora Ivna Mendes de Morais Duvivier. Testemunha bem informada de muitos períodos importantes da vida brasileira. Sempre pronta a ajudar pessoas em situação social precária. Procure uma linha sobre ela nos jornais do Rio, leitor, e não a encontrará. Encontrará muita tinta gasta com frivolidades.


Não é um aniversário qualquer. Ela faz 90 anos hoje. Parabéns, Ivna Duvivier.



Segurança vai a debate


O jornal Valor noticia hoje que o governador Geraldo Alckmin pretende fazer da segurança pública, em 2006, um carro-chefe da propaganda positiva de sua gestão. É sempre uma opção arriscada, porque não pode haver controle muito eficaz das variáveis. Principalmente no que diz respeito à percepção da opinião pública.


Veja-se o caso gravíssimo da bomba jogada na Rua Vinte e Cinco de Março na sexta-feira passada. Em qualquer hipótese, deixa patente que existem forças poderosas organizadas para desafiar a lei, o que coloca em xeque a democracia.


Mas a escolha do governador Alckmin tem uma vantagem certa. Tende a tirar da sombra um assunto importantíssimo, e convida a mídia a tentar entender melhor, e explicar melhor, os fatores que elevaram tanto a criminalidade e a violência em São Paulo e no Brasil.


Infelizmente, esse mote já foi usado na campanha eleitoral do governador Garotinho, no Rio de Janeiro, e a criminalidade não diminuiu lá.


Como a polícia age


O chefe de quadrilha Robinho Pinga, preso em Sorocaba na semana passada, deu entrevista ao jornal O Dia durante sua viagem de avião de volta para o Rio. A retórica de criminosos minimamente articulados deve ser encarada com muita precaução. Presumivelmente, Robinho não teria ido muito longe se fosse um mentecapto.


Mas uma frase de Robinho Pinga merece reflexão. Ele disse que “a polícia, quando quer, prende”. Isso ficou muito evidente em 2005, ano em que a Polícia do Rio de Janeiro tanto prendeu Robinho e o chefe de quadrilha Sassá, da Favela da Maré, como matou Bem-Te-Vi e Soul na Rocinha.


Essa diferença de técnicas e de resultados não foi debatida na imprensa carioca.