Os bilhões do Facebook
Muita gente se pergunta como os analistas chegam aos números para avaliar empresas digitais como o Facebook. De acordo com notícias recentes, do início deste mês de janeiro, o aporte de US$ 450 milhões feito pelo banco de investimentos Goldman Sachs elevou o valor do negócio de rede social para US$ 50 bilhões.
São números que os próprios jornalistas têm dificuldade para contextualizar.
A expressão mais comum é “valor estratosférico”, como a querer dizer uma quantia de dinheiro fora do cenário dos mortais comuns.
Uma reportagem no Estado de S.Paulo desta quarta-feira tenta desvendar esse universo.
Movido basicamente por anúncios de pequenas e médias empresas, o Facebook faturou US$ 1,86 bilhão em 2010, e deve chegar aos US$ 4 bilhões de receita neste ano, segundo estimativas.
O valor anunciado da empresa não leva em conta apenas as projeções de crescimento do faturamento: também é considerada a avaliação que fazem os investidores.
Embora ainda não seja uma companhia de capital aberto, os recentes leilões de ações do Facebook têm provocado grande procura e inflacionado seu valor, o que dá uma idéia do que deve acontecer se e quando a empresa fizer sua oferta pública inicial de ações na Bolsa.
Os investidores certamente têm o olho fixo nos US$ 200 bilhões de dólares que vale outro fenômeno digital, o Google.
No entanto, muitos analistas costumam deixar de lado certos aspectos do negócio, que no universo digital podem fazer muita diferença.
Por exemplo, que efeito teria no Facebook uma denúncia massiva de invasão ou mau uso de
dados privados de seus adeptos?
Ou como o mercado reagiria ao crescimento de outras iniciativas de rede social, mais restritivas e tribalizadas, ou a concorrentes que misturem a interatividade com informações personalizadas?
Outra reportagem, publicada na Folha de S.Paulo desta quarta-feira, dá uma idéia dos esforços que a mídia tradicional, montada geralmente numa empresa jornalística de papel, ainda faz para tentar se manter competitiva.
Um sistema que permite aos jornais cobrar pelo acesso de seus visitantes online mais regulares revela que essa iniciativa não causa, em média, quedas significativas na receita e no volume de tráfego dos sites.
Isso mostra que os leitores estão dispostos a pagar por alguns conteúdos online que consideram valiosos.
Mas ainda se trata de uma realidade muito distante dos bilhões de dólares dos novos negócios digitais.
Novas emoções no ar
Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:
– Era natural que houvesse uma mudança de comportamento, de atitudes e de ênfases na nova administração federal, empossada no início deste mês. Ainda assim, não deixa de ser uma grata surpresa o protagonismo assumido pelo Ministério das Comunicações, sob o comando do ex-bancário e ex-deputado paranaense Paulo Bernardo, seguramente um dos ministros mais loquazes das duas primeiras semanas do governo Dilma Rousseff.
A seu favor, registre-se, o novo ministro não tem jogado conversa fora: ele vem se empenhando em trazer para o centro do debate político a delicada – e urgente – questão da regulação da mídia, malgrado todas as resistências e interpretações enviesadas que o tema suscita na cobertura e nos textos de opinião dos principais veículos de comunicação.
Mal comparando, o ministro assumiu-se como uma espécie de evangelizador a explicar, repetir e reiterar que regulação não é censura; que os meios de radiodifusão são concessões públicas e, por isso, devem obedecer a legislação e operar sob determinadas regras; que há dispositivos constitucionais atinentes à comunicação social que precisam ser regulamentados e, sobretudo, cumpridos; e que, finalmente, no tocante ao conteúdo, há que se garantir a viabilidade da produção nacional independente, de conteúdo local, e o veto a todo tipo de apologia ao racismo, à intolerância e a quaisquer formas de discriminação.
Tudo isso passa por um estágio prévio de formatação da proposta no âmbito do Executivo; depois, por um processo de consulta pública e consolidação antes de ser encaminhada ao legislativo.
Paulo Bernardo calcula que até o fim deste ano o projeto de novo marco regulatório para a mídia possa chegar ao Congresso Nacional. Entre seus tópicos devem constar a proibição de políticos exercerem o controle de canais de rádio e TV, e limitações à propriedade cruzada de veículos de comunicação. Como se vê, um cardápio de fortes emoções para o novo ministro. Que a cruz lhe seja leve.