Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

>>Entrando no clima
>>A História seletiva

Entrando no clima


Com o Globo destacadamente na dianteira, provavelmente por influência de alguns colunistas mais ocupados com o tema sustentabilidade, a chamada grande imprensa brasileira começa finalmente a participar mais ativamente dos debates sobre a proposta brasileira para a cúpula mundial sobre mudanças climáticas, marcada para dezembro em Copenhague.


A questão do protagonismo da imprensa, em si, ou seja, se a imprensa deve ou não intervir diretamente nos debates públicos sobre a questão ambiental e o modelo de desenvolvimento a ser adotado pelo Brasil, é questão superada.


Se os meios de comunicação já editorializaram há muito tempo outros assuntos, como política e economia, torna-se bizantino discutir se a imprensa deve ou não tomar posição ativa e declarada na questão da estratégia de desenvolvimento.


A observação do noticiário revela claramente que, dos três jornais considerados de influência nacional, o Estado de S.Paulo é o que dá mais espaço às propostas do setor ruralista, plenamente identificado com o retrocesso.


É provável que as raízes do jornal, muito fortemente vinculadas aos grandes produtores paulistas, ainda estejam influenciando suas escolhas editoriais.


A Folha de S.Paulo, diário mais urbano e com relações menos profundas no meio agropecuário – apesar de seus proprietários já terem possuído uma granja de grande porte – poderia transitar mais livremente pelo assunto, mas sua pauta continua sendo empurrada pelos acontecimentos, e não costuma surpreender os leitores com abordagens mais interessantes.


O Globo, de longe o grande jornal brasileiro que oferece a cobertura mais ampla sobre a questão da sustentabilidade, não parece ter satisfações a dar aos inimigos declarados do patrimônio ambiental e vem oferecendo uma visão mais abrangente do desafio brasileiro para Copenhague.

A reportagem de página inteira publicada nesta sexta-feira, com um grande e informativo infográfico sobre o problema das emissões de gases nocivos, é um exemplo de esforço para incluir o leitor no debate.


O que ainda falta à imprensa brasileira é contextualizar a questão climática na temática geral da agenda pública.


Ou seja, falta explicar ao leitor a relação direta entre preservação ambiental e economia sustentável, entra a preservação da Amazônia e o combate aos problemas sociais do País.


Mas isso leva tempo e dá trabalho. 


A História seletiva


Alberto Dines:


– Por que razão a mídia, tão parcimoniosa e contida na rememoração dos 70 anos do início da 2ª Guerra Mundial, agora está tão exuberante ao lembrar os 20 anos da queda do Muro de Berlim? Pode-se alegar que a reunificação da Alemanha foi um fato mais recente e ainda está presente na memória do público. Também é possível alegar o contrário: se o início da 2ª Guerra aconteceu há sete décadas e está quase esquecido não seria mais correto  desencavar o passado remoto?


Uma coisa é inquestionável: as duas efemérides, embora separadas por meio século, fazem parte de um mesmo processo. O Muro de Berlim foi a derradeira trincheira da 2ª Guerra Mundial: a Guerra Fria começou enquanto ainda fumegavam os escombros da capital alemã e continuou por outros meios. A evidente desigualdade da cobertura dos dois episódios está sendo produzida por uma avaliação simplista: como Hitler e Mussolini, definitivamente enterrados, já não representariam ameaças, o desabamento da Cortina de Ferro deixou soltos alguns fantasmas do totalitarismo de esquerda.


Ledo engano: Mussolini morreu mas o seu fascismo não foi erradicado. Está presente em vários continentes, inclusive na América Latina, mascarado com as mesmas tinturas socialistas que Il Duce utilizou no início da sua escalada política. Hitler já não existe mas há um neo-nazismo em outros quadrantes do mundo.


Ao invés de fragmentar os acontecimentos para deles tirar proveitos parciais, a mídia deveria ser fiel à sua função didática e social, oferecendo uma visão integrada dos fatos. É preciso não esquecer que a euforia com a debacle do Império Soviético logo depois da derrubada do Muro, iniciou uma delirante sucessão de asneiras como o Fim da História. E a História está ai, repleta de surpresas.