O escândalo da hora
O escândalo que envolve tráfico de influência dentro do BNDES, com desvio de recursos para um esquema apadrinhado por conselheiros do banco de fomento, é o assunto que deve ocupar o lugar da falecida CPI dos cartões corporativos.
O epicentro do novo escândalo é o deputado federal Paulo Pereira da Silva, presidente da central Força Sindical.
O caso já vem se arrastando há mais de dois meses, e teve um momento de destaque no dia 24 de abril, quando foi preso o advogado Ricardo Tosto, conselheiro indicado para o BNDES por Paulo Pereira para representar a central sindical.
Tosto é conhecido por ser um dos responsáveis por manter o ex-governador Paulo Maluf fora da cadeia.
Na ocasião, Tosto saiu algemado de seu escritório, o que motivou protestos da Ordem dos Advogados do Brasil contra a Polícia Federal, que a imprensa acolheu rapidamente.
Desde então, os jornais vêm acompanhando com cautela o andamento das investigações, com uma cobertura bissexta que não facilita a seus leitores o entendimento do contexto da história.
A principal exceção é o Globo, que sempre tratou de manter o nome do deputado grudado aos nomes de todos os suspeitos citados pela polícia.
Agora o escândalo se torna uma peça pública de investigação no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados e a imprensa, em peso, elege Paulo Pereira da Silva o personagem do momento.
O pedido de cassação do deputado é manchete no Estado de S.Paulo, sub-manchete na Folha e título de primeira página no Globo.
Nas mesmas edições, os jornais noticiam o esfriamento do cadáver da CPI dos cartões corporativos.
Mais um escândalo para entreter os leitores?
Com certeza.
Mas este tem alguns ingredientes adicionais que a imprensa terá de administrar com mais cautela.
Além do advogado Ricardo Tosto, cuja influência sobre o ânimo dos jornais já se manifestou, os editores também têm que lidar com o fato de que o caso respinga no jornalista e escritor Luiz Fernando Emediato, assessor do deputado e presidente do conselho de administração do Fundo de Amparo ao Trabalhador.
Vai ser interessante observar como se desenrola a cobertura.
Com o envolvimento de um jornalista e um advogado bem relacionado com a imprensa, a história adquire ingredientes corporativistas que complicam as decisões dos editores.
Vamos ver se a imprensa demonstra contra Paulo Pereira o mesmo apetite que revelou no caso que envolveu o senador Renan Calheiros no ano passado.
A frente do desmate
A posse do novo ministro do Meio Ambiente foi, como se esperava, uma festa.
O performático ministro encontrou no verborrágico presidente da República um parceiro ideal para a solenidade, na qual se falou de tudo, menos de planos efetivos para a preservação do patrimônio natural do Brasil.
Os jornais destacam que o presidente Lula comparou a ex-ministra Marina Silva a Pelé, relevam o informalismo do novo ministro e agasalham as novas promessas de rigor no controle de desmatamento.
Apenas o Globo tirou um pouco os olhos da festa de posse e deu maior visibilidade a outro episódio importante para entender a correlação de forças que envolvem o futuro da maior floresta tropical do mundo.
Praticamente ao mesmo tempo em que tomava posse o festivo ministro do Meio Ambiente, era lançada no plenário da Câmara dos Deputados a Frente Parlamentar de Apoio às Forças Armadas na Amazônia.
Hipoteticamente, a nova frente tem como objetivo dar suporte político à permanência e ampliação das forças militares na região amazônica, pretensão que tem apoio até do ministro da Defesa, Nélson Jobim.
O problema é que a frente parlamentar nasce sob a hegemonia da bancada ruralista, cujo outro nome é desmatamento.
Os discursos, aplaudidos por comandantes de alta patente, foram um rosário de manifestações saudosistas do regime militar e de críticas à política de proteção às populações indígenas.
Estavam presentes os chefes de Estado-Maior do Exército e da Aeronáutica e o chefe de Operações Navais, do Ministério da Marinha.
Pelo teor das manifestações, os inimigos são as ONGs e o problema da Amazônia é a demarcação de reservas indígenas.
Como disse o presidente Lula na posse de Carlos Minc, ele já falou em uma semana muito mais do que Marina Silva em cinco anos e meio.
As manifestações de poder dos inimigos da floresta fazem crer que ele vai precisar de muito mais do que palavras.