Desde 1997, profissionais de educação do estado do Rio de Janeiro vêm aprendendo a utilizar a linguagem audiovisual como instrumento de trabalho. É o que proporciona o projeto ‘Botando a Mão na Mídia’ (BMM), iniciativa do Centro de Criação de Imagem Popular (Cecip), entidade voltada para a produção de materiais educativos e para a formação de multiplicadores.
Criado em 1986, o Cecip realiza ações de educação e comunicação visando à promoção da cidadania. Inicialmente produzindo apenas vídeos, a ONG passou também a criar materiais impressos e a investir na capacitação de profissionais. Criou a TV Maxambomba, experiência pioneira de TV comunitária na Baixada Fluminense.
Com a evolução deste trabalho, o Cecip ampliou suas atividades, investindo na capacitação de jovens em técnicas de comunicação audiovisual e formando profissionais para a realização de ações educativas.
Dentro desse contexto surgiu o ‘Botando a Mão na Mídia’. No princípio, o projeto visava a atingir os estudantes de escolas públicas da Baixada para verificar a aceitação da TV Maxambomba. Aos poucos, outras escolas abriram espaço para iniciativa e os profissionais docentes foram também envolvidos. Nessa etapa, alunos e professores passaram a discutir comunicação em debates que eram filmados e editados por eles próprios.
A participação dos professores demonstrou como estes precisavam de apoio técnico no que se referia à comunicação com os alunos. Também ficou claro que a linguagem audiovisual era, potencialmente, uma poderosa ferramenta na sala de aula, já que a TV é o meio de comunicação mais utilizado pelos jovens. ‘Não podemos pedir que o jovem deixe de assistir à TV. Temos que usá-la para educação. Dessa forma o professor se aproxima da realidade dos estudantes’ comenta Noni Ostrower, coordenadora do projeto.
A partir daí, o ‘Botando a Mão na Mídia’ foi reformulado. Acreditando na escola como centro de irradiação de transformações sociais e no professor como mediador deste processo, a equipe da iniciativa decidiu focalizar sua atuação na capacitação de professores em linguagem audiovisual e em metodologia do uso do vídeo nas aulas.
Através de oficinas que têm de 20 a 30 horas de duração, o curso se divide em dois eixos. Na primeira parte os professores debatem textos sobre comunicação, assistem a programas de TV e participam de dinâmicas de grupo. Todas as atividades têm o objetivo de entender e desconstruir o discurso audiovisual e possibilitar aos participantes a construção de uma visão crítica em relação a ele. Noni afirma que ‘o discurso televisivo aparece como se não fosse um discurso construído, como se fosse natural. É necessário despertar o olhar crítico nos professores para que estes façam o mesmo com seus alunos’.
A outro eixo da capacitação consiste em ensinar questões técnicas do uso de equipamentos como videocassete, TV e câmera. Muitos professores não têm experiência com essas tecnologias, o que dificulta a utilização na sala de aula. ‘Muitas escolas têm equipamentos que não são usados porque as pessoas não sabem mexer’, comenta Noni.
Obtendo sucesso nas primeiras experiências com educadores, o ‘Botando a Mão na Mídia’ começou a se expandir. A articulação que era feita junto às escolas passou a ser feita diretamente com a Secretaria Estadual de Educação do Rio de Janeiro possibilitando a realização do trabalho com educadores de outras escolas.
Em 2001, o projeto passou a realizar cursos em parceria com telepostos, estruturas montadas pela TV Escola para formar professores. Os orientadores desses telepostos foram capacitados para multiplicarem as oficinas no interior do estado. Um kit com fita de vídeo e manual foi desenvolvido para facilitar este trabalho.
Gisele Guimarães Costa, multiplicadora do teleposto de Angra dos Reis, cidade do litoral sul do Rio de Janeiro, conta que ‘todos os que fizeram as oficinas ficaram encantados. Além das questões técnicas, passam a perceber que não podem ser meros receptores de informação, que temos que ler nas entrelinhas’.
Entre 1997 e 2003 o ‘Botando a Mão na Mídia’ capacitou mais de 1700 educadores, envolvendo cerca de 170 mil alunos da rede pública de ensino.
As entidades e pessoas que quiserem conhecer melhor o projeto ou realizar uma oficina podem entrar em contato com o Cecip pelo telefone (21) 25093812 ou pelo correio eletrônico cecip.ong@uol.com.br.
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Da redação da RETS – Revista do Terceiro Setor, (www.rets.rits.org.br)