Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>A questão da sustentabilidade

A questão da sustentabilidade


Hoje conversamos com Marina Grossi, diretora-executiva do Conselho Empresarial Brasileiro pelo Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), que realiza na semana que vem, em Vitória, o Sustentável 2008 – evento que discute os rumos do desenvolvimento econômico no Brasil.


Luciano Martins: – Marina, qual é a dificuldade para internalizar nas empresas o conceito de sustentabilidade?


Marina Grossi: – A dificuldade grande para internalizar o conceito de sustentabilidade é na gestão. Hoje a gente vê essa palavra, sustentabilidade, muito em voga, mas a gente ainda vê, na estrutura das empresas, a sustentabilidade sendo tratada como uma caixinha separada. E o grande desafio é isso entrar no DNA das empresas, entrar no processo de gestão das empresas, porque a sustentabilidade é transversal, permeia todas as outras atividades.


L.M.: – A Conferência Sustentável 2008, marcada para a semana que vem em Vitória, vai tratar de algum tema relacionado à imprensa?


M.G.: – Este é o grande desafio. O Sustentável é um evento que a gente tem feito desde 2005. Nos números pares, a gente faz um ciclo de debates, então esse ano é isso. E nos números ímpares, como em 2005, 2007, a gente faz um grande evento. Esse ano, o interessante é que a gente está colocando isso de forma descentralizada no país. Então tem evento em Belém, tem esse Sustentável agora que vai tratar exatamente da Sustentabilidade e Comunicação – o papel da sustentabilidade na comunicação a gente vai tratar em Vitória. A tentativa é justamente de descentralizar do eixo Rio-São Paulo-Brasília essa discussão. A gente vê uma carência enorme, por um lado, em São Paulo, o tema está tão saturado (de ouvir falar, não que esse tema não seja necessário discutir de maneira mais profunda), mas é muito carente nessas outras cidades. E essa é uma discussão, que vai acontecer em vitória sobre o papel da comunicação na sustentabilidade é fundamental. A gente vê em vários indicadores a necessidade de aprofundar essa discussão e aí, nesse caso, vai ser o único exemplo em que o público vai ser de comunicadores, são profissionais de comunicação que são chamados – porque nos demais encontros o público é genérico, principalmente o público de empresas, mas também vem da sociedade civil e de ONGs. Mas nesse, o foco vai ser para os comunicadores.


L.M.: – Marina, como o movimento pela sustentabilidade empresarial pode ajudar a combater a corrupção e melhorar as instituições públicas?


M.G.: – Primeira coisa, acho que tem uma discussão que um pouco a sua pergunta, que é essa discussão da sustentabilidade nas empresas e também na imprensa ser feita de uma forma a evoluir do estado que está. O que acontece? Nos jornais a gente só vê notícias ruins e nas empresas, quando você pega os relatórios de sustentabilidade ou de informações sobre a empresa, você só ouve notícias boas. Então é fundamental, para os comunicadores, separar o joio do trigo e falar dos dois, do joio e do trigo. Hoje, corre uma notícia pelo meio de divulgação comum e na área das empresas, eu estou falando isso de uma maneira genérica, é claro, as empresas apontando somente a parte boa. Eu acho que a sociedade já amadureceu, está amadurecendo, então há más notícias, ninguém acredita que é tudo uma maravilha, ninguém espera, um investidor, por exemplo, não espera abrir um relatório de sustentabilidade e encontrar o Jardim do Éden lá. Se o investidor vir que está tudo muito bem, para ele não tem transparência necessária para ele investir naquela empresa: é mais importante pra ele ver as dificuldades e desafios que a empresa teve, como ela está superando isso e como ela está se expondo à superação disso, ou seja, que ela está tentando ter um monitoramento, uma transparência  com a sociedade para mostrar o que ela está fazendo naquele perfil. Então esse é um grande desafio. Corrupção é outra discussão importante também, mas toda ela você tem que ter o numerador e o denominador da discussão. O que a gente faz muitas vezes, e a gente vê no papel da sustentabilidade o que acontece com relação à mudança climática, o conceito está pouco internalizado sobre esse tema, por exemplo, que é tão complexo. E aí é um grande desafio para os comunicadores como divulgar de uma forma simples, mas sem simplificar e sem omitir a complexidade dessa discussão. Você pode tratar de forma simples, mas você tem que falar do conceito, tem que falar da relatividade, tem que falar do numerador e do denominador dessa discussão. O papel do comunicador é fundamental para cobrar [combate] à corrupção, para as políticas públicas, ou, por exemplo, está sendo feito agora o Plano Nacional de Mudança Climática pelo governo. Como é que está sendo a contribuição disso? Está tudo ok? Está tudo correto? Esse plano vai nortear o país, vai ser a plataforma que o país vai ter para discutir esse tema lá fora, para internalizar aqui dentro, para ajudar na política. E como é que está sendo feito isso?


L.M.: De fato, esse tema ainda não compareceu à pauta dos jornais.


(Transcrição de Tatiane Klein.)