Concorrer, só para vencer
Após as férias remuneradas, o Congresso recuperou a iniciativa, o que significa menos espaço e mais problemas para o governo no noticiário. O roteiro histórico dos recursos escusos que teriam sido usados pelo PT remontou às origens no depoimento dado ontem pelo economista Paulo de Tarso Venceslau. O assassinato do prefeito Celso Daniel ainda não está esclarecido, embora a polícia paulista tenha opinado que se tratou de crime comum. Uma fala do presidente Lula foi interpretada como anúncio de que não concorrerá à reeleição. Roberto DaMatta saboreia hoje o teor antropológico da declaração de Lula de que “só se deve entrar em eleição para vencer”.
Dança dos nomes
A coluna de Ancelmo Gois anuncia hoje no Globo que de um jantar no próximo sábado entre Fernando Henrique, Aécio Neves e Tasso Jereissati sairá o ungido do PSDB para a sucessão. Kennedy Alencar afirma na Folha que Fernando Henrique já escolheu Serra. Até economista dá palpite sobre a melhor candidatura. No caso, a de Alckmin, segundo José Márcio Camargo, também na Folha. Uma festa imodesta.
A bandalha da arapongagem
A Folha condena hoje, em editorial e em artigos de dois de seus colaboradores, projeto de lei do governo que prevê pena de prisão para jornalista que divulgar conteúdo de escutas telefônicas, por considerá-lo ameaça de volta da censura. Na reportagem de página inteira sobre o assunto, aparecem sem muito destaque opiniões de juristas eminentes em defesa do direito à privacidade. O jornal reconhece que se criou um mercado de espionagem ilegal, mas reforça a defesa do direito ao livre exercício do jornalismo.
Imprensa marrom
O presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Maurício Azêdo, deu ontem a este Observatório uma declaração sobre a ofensiva iniciada domingo no Jornal do Brasil contra o jornalista Lourival Sant´Anna, a pretexto de criticar a liberdade do jornalista Antônio Pimenta Neves, que era chefe de Sant´Anna no Estado de S. Paulo quando assassinou a também jornalista Sandra Gomide.
Azêdo:
– A ABI vê com muito desconforto a situação contida nessa série de reportagens que o Jornal do Brasil vem publicando, e especialmente em relação à matéria desta terça-feira, que tem um teor muito agressivo e desprimoroso em relação ao jornalista Lourival Sant´Anna, que é um importante profissional da imprensa brasileira e um destacado colaborador e funcionário do O Estado de S. Paulo.
O JB publica hoje entrevista que havia sido dada por Maurício Azêdo, na qual o presidente da ABI condena a liberdade de Pimenta.
O Observatório da Imprensa ouviu Lourival Sant´Anna.
Sant´Anna:
– Esses textos, que não são nem sequer reportagens, não são nem assinados por nenhum jornalista, são uma coleção de mentiras, de coisas que não aconteceram, mescladas com algumas coisas que realmente aconteceram. Realmente o Pimenta matou a Sandra. Realmente eu era editor-chefe do jornal naquele período, realmente eu escrevi um livro que se chama Viagem ao Mundo dos Taleban. O resto são coisas que nem sequer fazem sentido. Não coincidem com como as coisas aconteceram naquela época.
É como se fosse um delírio, alguém em estado febril que mescla – no caso involuntariamente – coisas que aconteceram com coisas que são fantasias, ficções.
Infelizmente, nesse caso é feito de forma consciente.
Mauro:
– No site do Observatório foi publicada uma entrevista completa de Sant´Anna.
Estado conservador
O colunista do jornal Valor Cristiano Romero publica hoje, dia em que o Comitê de Política Monetária decide sobre nova redução da taxa Selic de juros, um competente roteiro de discussão sobre problemas de longo prazo da economia brasileira. Ele propõe superar a estratégia gradualista de seguidos superávits primários por um ajuste fiscal mais radical. Mas isso implica reformar o Estado brasileiro.
Esse é um tema a respeito do qual a mídia ainda é tímida, o que reflete a força dos grupos de pressão que têm interesse na manutenção do statu quo. Uma sociedade que, nos seus melhores momentos, funciona para os incluídos e distribui migalhas para os outros.
Abaixo o Minhocão
A Prefeitura de São Paulo lançará concurso para que arquitetos e urbanistas apresentem projetos de solução para o abominável Minhocão. Começa aqui uma torcida pela vitória de um projeto que preveja a demolição. Vale pela carga simbólica da remoção de um trambolho que degradou toda uma área central da cidade.