Terra de espiões
Os jornais dedicaram bastante espaço nos últimos dias e as revistas de fim de semana deram destaque às denúncias de que policiais fora de controle estariam exagerando no uso das escutas clandestinas de telefones e no monitoramento da correspondência eletrônica.
A revista Veja apresenta na capa, como material exclusivo, a reportagem intitulada ‘Espiões fora de controle’, na qual se afirma que o Supremo Tribunal Federal e a ante-sala do presidente da República foram alvos de espionagem.
A revista Época também trata do assunto, sob o título ‘Cuidado, você pode estar grampeado’.
Praticamente todas as reportagens se concentraram na ação da Polícia Federal, ainda como repercussão da Operação Satiagraha, que levou à prisão do banqueiro Daniel Dantas, do especulador Naji Nahas e do ex-prefeito Celso Pitta.
Mas a imprensa passou muito longe da verdadeira dimensão do problema.
A questão da espionagem, que, segundo a revista Época, está transformando o Brasil num ‘Big Brother eletrônico’, não se limita a possíveis abusos de autoridades policiais.
Segundo a imprensa, em 2007 foram autorizadas pela Justiça mais de 400 mil escutas telefônicas, mas calcula-se que pelo menos 4 milhões de brasileiros já foram grampeados.
O que a imprensa não diz, nem chegou perto, é que a prática já se tornou corriqueira em muitas empresas, como instrumento de concorrência e até mesmo na coleta de informações para a avaliação de candidatos a empregos .
O caso envolvendo a multinacional de investigação corporativa Kroll, acusada de espionar ilegalmente diretores da Brasil Telecom e Telecom Itália a mando do banqueiro Daniel Dantas, é parte de uma rotina com muitos protagonistas importantes.
Uma conhecida empresa israelense de segurança estabelecida no Brasil oferece serviços de espionagem até mesmo para os departamentos de recursos humanos de seus clientes, investigando a vida de candidatos a cargos de gerente e de executivos.
As reportagens de Veja e Época passaram tão longe do problema que não se deram conta de que até mesmo alguns de seus jornalistas podem ser beneficiários ou vítimas do esquema nacional de bisbilhotagem.
Um espetáculo grande demais
As Olimpíadas na China e a guerra entre Rússia e Geórgia mostram que a mídia alcançou o seu limite.
Alberto Dines:
– A abertura oficial das Olimpíadas de Pequim mostrou que a mídia convencional não dá conta das necessidades informativas da sociedade. Nem mesmo a imbatível TV aberta consegue oferecer uma cobertura minimamente satisfatória em matéria de quantidade e de atualidade. Muito menos a mídia do futuro, a Internet, ainda longe de viabilizar a fusão da TV com texto.
É certo que nestes Jogos de Pequim o volume de competições e a grande diferença do fuso horário favorecem as emissoras ‘all-news’, exclusivamente noticiosas, sobretudo aquelas que dispõem de canais simultâneos. Porém, mesmo essas sofrem de um defeito congênito, não têm a necessária capacidade de análise. O telespectador não absorve tanta informação sem ajuda de tutores – sem comentaristas.
E a mídia impressa, jornais e revistas? Esqueçamos as dificuldades intrínsecas da Olimpíada e fiquemos com o conflito no Cáucaso. A crise entre a Geórgia e a Rússia começou no dia 6 de Agosto, quarta-feira. Os semanários fecham as suas edições na 5ª e 6ª, nenhum deles conseguiu oferecer neste fim-de-semana uma análise compreensiva da situação.
Convém não esquecer que a Geórgia sempre foi a mais rebelde das repúblicas soviéticas, situação que só aumentou no período Putin. No caso do referendo boliviano os jornais também não estavam desprevenidos: investiram, despacharam repórteres para La Paz, mas não tiraram qualquer proveito nas imensas edições de ontem, domingo – nada foi destacado nas primeiras páginas. Como se vê, as novas tecnologias não fazem milagres.