Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>A mídia não crucifica Dirceu
>>Auto-exame do New York Times

A mídia não crucifica Dirceu


A crise do mensalão produz uma fieira de acontecimentos graves. Não propriamente uma sucessão, porque muita coisa ocorre ao mesmo tempo. Ontem, enquanto o deputado Júlio Delgado, relator do processo do deputado José Dirceu no Conselho de Ética, apresentava seu voto, era ouvido no Congresso o presidente do Citibank, Gustavo Marín. A notícia saiu discreta nos jornais de hoje. Se não tivesse a concorrência de tantas outras, teria forçosamente maior destaque. O Citi é o maior banco do mundo.


Se os acontecimentos se precipitam, os jornais, onde há espaço para uma reflexão maior, têm que lutar para qualificar cada passo da crise. É o que se encontra nesta quarta-feira, 19 de outubro, nos principais diários, a respeito do firme relatório de Júlio Delgado, parlamentar tão fiel ao governo que mudou de partido para continuar na base aliada.


No noticiário equilibrado de ontem e de hoje o deputado Dirceu não acha respaldo para suas críticas genéricas à atuação da mídia.


O tiroteio de notícias


Avalie, leitor, como é difícil a tarefa da imprensa e por que é necessário não perder de vista cada episódio relevante, mesmo que isso cause a alguns uma sensação de saturação. Como hierarquizar e tratar as notícias preparadas para um dia que amanhece com tantos fatos importantes: na política, o Supremo Tribunal Federal decide se suspende ou não o processo de José Dirceu, com risco de alimentar um conflito entre poderes. Mais uma vez, um tribunal recusou habeas corpus para Paulo Maluf. O Conselho Nacional de Justiça deu 90 dias para que sejam demitidos parentes de juízes contratados sem concurso para cargos de confiança. O Brasil chega a 80 milhões de celulares, mas o foco de aftosa causa a cada dia mais prejuízos. A seca na Amazônia ameaça agora levar à propagação de doenças transmissíveis. A União Européia se declara despreparada para enfrentar uma epidemia de gripe aviária. Começa o julgamento de Saddam Hussein. Os jornais publicam relatos de enterros de jovens mortos em conflitos entre torcidas de futebol, num campeonato fraudado por juízes. Um promotor chegou a recomendar que as pessoas evitem ir ao jogo São Paulo e Ponte Preta, em Campinas, hoje, por entender que a polícia não tem como garantir a segurança em todo o trajeto até o campo.


A dificuldade é de quem resume todos esses fatos e de quem precisa tomar conhecimento deles. As duas partes devem se ajudar para construir um país e um mundo melhores.


A mídia como aliada


O secretário de Habitação do estado de São Paulo, Emanuel Fernandes, é engenheiro aeronáutico formado pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica, ITA, e funcionário de carreira do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Inpe, de São José dos Campos. Ele foi por oito anos prefeito dessa cidade do Vale do Paraíba paulista. Com base em sua formação científica, entendia que uma hipótese só deveria virar tese depois de passar por diferentes fases de comprovação, que incluiriam a contra-argumentação. Mas constatava com espanto que no jornalismo as hipóteses vão direto para as manchetes, devido ao ritmo frenético de trabalho da imprensa.


Passada a surpresa inicial, Emanuel Fernandes diz que aprendeu a valorizar o bom trabalho da mídia:


Emanuel:


– Mas com o tempo eu descobri uma outra coisa. Que a imprensa não é adversária. Para quem é correto a imprensa é um grande aliado. Embora de vez em quando eles peguem uns assuntos… fiquem pegando no pé. Mas eu tive um bom relacionamento com eles.


Emanuel Fernandes relatou ainda que, na Prefeitura de São José dos Campos, aprendeu a usar a imprensa como proteção contra quem queria fazer negócios escusos.


Auto-exame do New York Times


O editor do Observatório da Imprensa online, Luiz Egypto, chama a atenção para a história da jornalista do The New York Times Judith Miller, que passou 85 dias presa.


Egypto:


– Domingo passado, e com direito a chamada na primeira página, o New York Times publicou longa matéria sobre o caso Judith Miller, uma de suas repórteres mais estreladas. Recentemente ela amargou 85 dias numa prisão federal por recusar-se a revelar, em juízo, uma fonte de informação.


É louvável a atitude do jornalão em dar a matéria. Aliás, expor em público as suas feridas tem sido prática constante no Times desde a eclosão do escândalo Jayson Blair, aquele repórter cascateiro que assinou diversas reportagens fajutas num dos diários mais respeitados do mundo. Foi um baque, como sabemos.


Judith Miller, de 57 anos, é uma repórter tarimbada, embora às vésperas da guerra contra o Iraque tenha embarcado com tudo na versão oficial da Casa Branca sobre a existência de armas de destruição em massa nos arsenais de Saddam Hussein. E a história de sua prisão, que à primeira vista pareceu um atentado à liberdade de imprensa, agora tomou novos rumos. Veja os detalhes na edição do Observatório na Web.


(Ver: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/
artigos.asp?cod=351IMQ002
 )


Camada de ozônio


Uma nota estreita de 15 linhas, na Folha de S. Paulo, é tudo o que a imprensa dá hoje sobre uma avaliação positiva da Organização Meteorológica Mundial. A instituição diz que a destruição da camada de ozônio pode ter começado a regredir graças ao êxito de acordos ambientais. De duas, uma. Ou os jornais não atribuem grande credibilidade a essa agência da ONU, ou não se interessam pela chamada boa notícia.