Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Faltou à imprensa análise política

A notícia da edição online da Folha de S. Paulo de 11 de abril de 2006 sobre a denúncia do procurador-geral da República, Antônio Fernando Souza, evoca pelo menos dois pontos relevantes no aspecto político de seu ensejo jornalístico possível. Não chegaram (tais pontos) ao leitor, até o momento da elaboração deste texto, por falta de sensibilidade da grande imprensa.

No lado mais automático de uma análise política partindo de tal informação, pode-se tecer a idéia de que as instituições brasileiras parecem estar funcionando como não antes visto, sobretudo, quando a memória não deixa escapar a atuação do ‘engavetador-geral’ da República, Geraldo Brindeiro, na era FHC. De fato, diriam alguns, é prova inconteste de salubridade das instituições democráticas um procurador-geral – nomeado pelo presidente da República, claro que com aprovação prévia do Senado – apresentar uma denúncia que congrega todos, digamos, os ‘queridinhos’ daquele que o investiu no cargo.

Quadro político

É a função que lhe cabe (ao Antônio Souza), argumentariam outros, de pronto. É sabido. Contudo, na conjectura política que toca, de praxe, este País na sua recente trajetória político-histórica, jamais um procurador-geral da República ‘gozaria’ de tamanha autonomia. Por isso mesmo, na gestão FHC, o então procurador-geral Geraldo Brindeiro engavetou, de acordo com matérias da época, 242 inquéritos e arquivou outros 217, sendo que eles envolviam, além de deputados, senadores, ministros e ex-ministros, o próprio então presidente Fernando Henrique Cardoso.

Daí o porquê de se considerar um segundo ponto, ao menos. A autonomia salutar que ora se faz presente ao atual procurador-geral da República por meio de sua denúncia a ex-integrantes do alto escalão do governo e do partido do presidente Lula provoca pensar também que tal fato é, mais que prova de evolução do Estado brasileiro, ou um sinal de esvaziamento político do atual chefe executivo do país ou uma forma bem acalentada para curar de vez a febre política que ainda enfraquece o candidato Lula, ao dar um passo crucial para acabar a crise de forma a saciar a sociedade, até porque o presidente ficou de fora, como era de se esperar. Ou ainda, no lado mais otimista e menos político da questão, entender que o fazer político tem, neste momento, respeitado o que é de direito constitucional à administração pública.

Tais aspectos, inicialmente vestidos de análise meramente política – ou seja, papel a ser exercido exclusiva e supostamente pelos cientistas políticos – seriam cruciais enquanto trabalhados como notícias pela imprensa de forma contextual, o que quebraria a fragmentação pobre predominante na cobertura. Sem dúvida, seria razoável aos grandes jornais configurar um quadro político, fidedigno aos fatos recentes e passados, em prol do leitor poder se situar melhor no ambiente que se coloca à frente.

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Estudante de Jornalismo da UFBA