Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Publicidade para criminosos
>>A onda demagógica

Publicidade para criminosos


A imprensa de modo geral deu publicidade a manifestações antissociais que pipocam desde o início desta semana em comunidades da internet, relacionadas ao assassinato coletivo ocorrido numa escola do Rio de Janeiro.


Do Cratonotícias, no Ceará, à redação da Folha Online, em São Paulo, editores decidem que é bom jornalismo dar repercussão a criminosos que se expressam no anonimato da rede.


Desde pelo menos o dia 10 deste mês, portanto apenas três dias após o massacre que deixou 12 crianças mortas, tais notícias se reproduzem na internet, para glorificação de seus autores.


Na quinta-feira, dia 14, quando se completava uma semana do crime hediondo, as manifestações de desequilibrados em apoio ao assassino ganharam espaço em sites de grande reputação.


Ainda que os textos, de modo geral, condenem liminarmente tais  manifestações, informando que a polícia especializada está investigando sua autoria, a questão permanece: a imprensa, seja através de seus sites, blogs, seus diários de papel ou revistas semanais, deve dar platéia a esses indivíduos?


Há muito se discute o que deve fazer o jornalista diante de pessoas ou grupos que têm comportamentos claramente patológicos associados à necessidade de publicidade.


Aprende-se nas escolas de jornalismo que notícias sobre suicídio, quando publicadas com destaque, podem estimular ações semelhantes.


Da mesma forma que não se deve divulgar nomes completos de crianças e adolescentes quando envolvidos em episódios degradantes, também é ponto comum ao bom jornalismo que não se reproduz o nome de vítimas de ações deletérias quando a notícia, em si, representa um agravamento da injúria.


Os casos de estupro, por exemplo, exigem extrema delicadeza por parte dos jornalistas.


No caso desse episódio que ainda choca a opinião pública, a publicação do nome do criminoso não poderia estimular outras mentes doentias a repetir o gesto insano?


Não seria o caso de um pacto entre os jornalistas para omitir, daqui para a frente, o nome ignominioso?


Esse é um assunto para reflexões cuidadosas nas redações e nas diretorias das empresas de comunicação.


A onda demagógica


Alberto Dines:


– Para acabar com o comércio e o uso de armas ilegais não é necessária uma nova consulta popular. Nem votar às carreiras uma nova legislação. O que falta é implementar imediatamente o Estatuto do Desarmamento. A mídia foi na onda demagógica do veterano senador José Sarney, hoje chefe do Poder Legislativo, o que mostra o quanto ambos estão defasados em matéria de procedimentos legais.


É extremamente perigosa a banalização do sistema de consultas diretas, a onda plebiscitária vai fazer do Brasil uma Venezuela. De acordo com os maiores especialistas no assunto, o Estatuto do Desarmamento é bom, não precisa ser refeito, falta-lhe apenas ser obedecido.


A fúria legiferante é própria de sociedades que não acreditam na sua capacidade de acatar leis, por isso produzem  quantidades incríveis de  códigos – raros os factíveis e viavéis. A função do legislativo não consiste apenas em criar leis, também lhe cabe fiscalizar o seu cumprimento.


Acontece que nossos parlamentares preferem o caminho mais rápido e mais cômodo para chamar a atenção, sobretudo em situações de grande comoção como agora, quando a mídia está ávida por notícias. Fiscalizar é um processo lento, cansativo que nem os políticos ou a  mídia têm paciência para acompanhar.


A chacina do Realengo exige menos demagogia e mais eficácia. E também uma atitude mais holística e mais humanitária para encarar a violência. Sem armas de fogo o criminoso cometeria a mesma barbaridade simplesmente porque era um doente mental. E discutir saúde pública e saúde mental não traz votos. Nem produz manchetes.