A reportagem do Globo deste domingo sobre o desalento da oposição política no Brasil é uma grande contribuição para o debate sobre a questão partidária e sobre estratégias de governo.
Basicamente, o trabalho do Globo é composto por declarações de políticos e analistas, mas ainda assim coloca na agenda nacional um tema que vinha sendo evitado pela imprensa.
A tese apresentada na reportagem é de que a elevada popularidade do presidente Lula fez a oposição sair de moda.
Ela foi inspirada num desabafo do senador Sérgio Guerra, presidente do PSDB, o maior partido de oposição, que se diz angustiado pelo fato de que nenhuma crítica e nenhuma notícia negativa parecem afetar o namoro do presidente da República com a maioria da população brasileira.
Segundo cientistas políticos citados pelo jornal, os modelos de gestão adotados no atual governo e pelos governos imediatamente anteriores são muito parecidos e a oposição tem pouco a inovar.
O Globo também lembra que a última pesquisa do Datafolha, divulgada sexta-feira passada, na qual o presidente Lula aparece com a aprovação de 64% dos brasileiros, consolida uma situação que já vinha desanimando a oposição.
Mas o Globo e seus entrevistados falham ao confundir oposição ao governo e oposição à estratégia de governo.
É certo que o atual presidente e sua equipe criaram uma equação econômica que produz um crescimento vigoroso com estabilidade, mas o Brasil ainda está longe de ter alcançado a trilha do desenvolvimento sustentável.
Embora os programas de transferência de renda, somados ao controle da inflação, à criação de empregos e ao aumento do valor dos salários, tenham produzido um ganho social nunca antes observado na História do Brasil, o País ainda enfrenta grandes desafios sociais, como os altos índices de violência nas grandes cidades e o não atendimento dos direitos das crianças e adolescentes.
Além disso, a depredação do meio ambiente ainda é uma grande fonte de notícias negativas.
A oposição saiu de moda porque nem os políticos nem a imprensa colocam na mesa a agenda que realmente interessa.
Faltam respostas
Ouça o comentário de Alberto Dines:
– ‘Quem – e para que – vazou o grampo no telefone do presidente do Supremo?’ Com esta pergunta simples, perturbadora e que ninguém consegue responder há pelo menos duas semanas, o jornalista Luiz Weis encerra o seu comentário de ontem no seu blog do ‘Observatório da Imprensa’. As matérias de capa da Época e da IstoÉ neste fim de semana deram uma dimensão ainda maior à pergunta de Weis. Então oficiais da ativa trabalharam na Operação Satiagraha? As forças armadas forneceram elementos para investigar o dono do Banco Opportunity que estava prestes a consumar uma mega-fusão na área da telefonia que tanto interessava ao governo? Ai aparece o Chefe de Gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho que em entrevista ao Estado de S. Paulo declara que ‘Estamos no meio de um pântano. Se acreditar em grampo vou ficar louco’. Gilberto Carvalho não foi apenas grampeado pela Polícia Federal, mas verificou pessoalmente que a PF e a ABIN colaboram numa investigação judicial, o que é teoricamente proibido. Como se não bastasse, a ‘Folha de S.Paulo’ revelou também no domingo que por menos de mil reais qualquer cidadão pode quebrar o sigilo do histórico das chamadas telefônicas de outro cidadão o que também é inconstitucional Compreende-se a preocupação da mídia brasileira com a ameaça de secessão na vizinha Bolívia. O que não se entende é a falta de respostas a uma pergunta que revela um dramático confronto nos bastidores da República: Quem – e para que – vazou o grampo no telefone do presidente do Supremo?