Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>A confusão Satiagraha
>>O caso não está encerrado

A confusão Satiagraha

Quanto mais se aprofunda no noticiário sobre a tal Operação Satiagraha, mais a imprensa mergulha o leitor em confusão.

Não bastasse o noticiário ser alimentado por vazamentos da própria Polícia Federal, as redações ainda são bombardeadas pela atividade intensa de jornalistas e advogados a serviço do banqueiro Daniel Dantas, cujo interesse é desacreditar a investigação policial.

Mas a razão mais evidente da confusão parece ser certa dificuldade dos editores de organizar suas páginas segundo a lógica e a relevância dos fatos.

Em uma faixa do noticiário, temos o caso em si: um banqueiro vistoso, que começou a se destacar no cenário dos negócios com a ajuda do Estado, no processo de privatização das empresas de telefonia, é acusado de aumentar seu poder e patrimônio à custa de fraudes, lavagem de dinheiro e cooptação de autoridades.

Em outra faixa, temos as suspeitas de que, durante a investigação, a Polícia Federal se associou à Agência Brasileira de Inteligência, Abin, e abusou do uso de escutas telefônicas e monitoramento de correspondência eletrônica.

Na terceira faixa, cruzam-se os procedimentos legais do caso em si e as repercussões da ação policial nos órgãos superiores da magistratura, no Executivo e no Congresso Nacional.

Assim, a leitura de tudo que foi publicado ao longo desta semana conduz o cidadão, inicialmente, a entender que a Polícia Federal e a Abin se associaram para a prática de abusos e ilegalidades, o que poderia levar à anulação do processo contra o banqueiro Dantas.

Depois, a partir de declarações colhidas no congresso de delegados federais, o leitor é conduzido a outra abordagem, levantando-se a suspeita de que a tentativa de colocar sob controle a atividade policial seria uma manobra para favorecer o banqueiro.

Finalmente, revela-se que a investigação realizada inicialmente pelo delegado Protógenes Queiroz, afastado do caso por exigência de autoridades superiores da República, foi complementada por outro delegado, que acabou comprovando as denúncias originais contra Daniel Dantas.

Agora a imprensa precisa esclarecer que, independentemente de eventuais abusos no uso de grampos telefônicos, subsistem razões objetivas para o processo contra o banqueiro seguir adiante.

Esse ainda é o fato principal na confusão chamada Satiagraha.

O caso não está encerrado

Ouça agora o comentário de Alberto Dines:

– A catástrofe com o Airbus da TAM ocorreu em 17 de Julho de 2007 há dezesseis meses e a Polícia Civil de S. Paulo já iniciou o indiciamento de dez suspeitos. A mídia acompanha o caso ‘naquela base’, reproduzindo passivamente as notas, declarações e ações oficiais. A única dissonância vai por conta de Denise Abreu, ex-conselheira da ANAC, inconformada com a inclusão do seu nome entre os responsáveis pela tragédia. Mas a primeira catástrofe aérea ocorreu há muito mais tempo, em Setembro de 2006, véspera do primeiro turno das presidenciais, portanto há 26 meses. Além de ser mais antiga e teoricamente menos complexa para deslindar, as investigações sobre a primeira catástrofe ainda não foram formalmente concluídas. Parte da imprensa antecipou algumas conclusões e todos se deram por satisfeitos o que não significa que o caso esteja esclarecido e encerrado. A colisão do Boeing com um jatinho da Embraer que seguia para os EUA desvendou o caos aéreo. Envolve uma empresa como a Gol, neste momento questionada pela compra da Varig, envolve o então ministro da Defesa, Waldir Pires, que durante as primeiras semanas tentou jogar todas as culpas nos pilotos americanos, envolve a credibilidade das autoridades encarregadas de garantir a segurança do tráfego aéreo e envolve principalmente nossa imprensa inapetente para exercer o seu papel fiscalizador. Se os escândalos são o combustível que move a mídia, esta demora é mais escandalosa do que a telenovela chamada Satiagraha.