Inquérito inconclusivo
A Folha critica hoje em editorial as conclusões da Polícia Federal sobre o Dossiê Vedoin. A Polícia não conseguiu apontar a origem do dinheiro que seria usado e ainda livrou de acusações petistas que o presidente Lula chamou de “aloprados”. O PT também critica, mas por motivos opostos. O partido não queria nem que o senador Aloizio Mercadante e seu tesoureiro de campanha fossem indiciados. Ninguém menciona a revista IstoÉ.
Escândalo fluminense
O maior escândalo eleitoral do ano não foi, como diz o editorial da Folha, o caso Vedoin. Foi a eleição de candidatos do PMDB, partido da governadora que sai, Rosinha Garotinho, e do governador que entra, Sérgio Cabral, acusados de ligação com máfias.
Mínimo e inflação
A mídia dá o declaratório do salário mínimo como se fosse sério a oposição dizer que vai votar por um aumento maior. No Estadão, Rolf Kuntz lembra uma obviedade esquecida: que o valor real do mínimo vai depender da inflação.
Anac retardatária
Alberto Dines diz que a Anac teria sido mais competente se a mídia tivesse percebido antes os problemas da aviação brasileira.
Dines:
– Como em todas as situações de crise, o apagão aéreo está servindo como um tremento sacolejo em nossas estruturas. Está evidente que o Estado nacional tem um gravíssimo problema de gestão, que se agrava a cada novo dia, em vez de diminuir. O problema não é político ou partidário. Um sistema funciona, ou não funciona, independente da ideologia dos seus gestores. E a partir da tragédia da Gol ficou provado que a nossa aviação comercial desenvolveu-se em bases muito precárias. Basta lembrar que a Anac, que deveria ter sido estabelecida em 2003, só começou a funcionar efetivamente no último ano. Qual o motivo desse atraso? A descrença de alguns ministros na eficácia das agências reguladoras. Com uma Anac devidamente instalada e devidamente autônoma, problemas como o controle do tráfego aéreo há muito tempo teriam sido sanados, ou pelo menos encarados antes da grande tragédia com o Boeing da Gol. Com uma Anac rigorosa e competente a solução para a Varig poderia ter sido outra e a TAM não teria se agigantado a ponto de tornar-se incontrolável. Mas, e a mídia com isso? Claro, a mídia não pode levar a culpa pela falta de treino da Anac. Mas se a nossa mídia tivesse profissionais especializados em número suficiente este alarme já deveria ter soado há muito mais tempo.
Trabalho escravo
Quando faz boas reportagens, a mídia aponta problemas que as autoridades negligenciam. O repórter Michael Smith, da Bloomberg, sediado em Santiago do Chile, fez com outros repórteres extensa matéria sobre uso de trabalho escravo na América Latina por fornecedores de grandes empresas multinacionais. A apuração levou seis meses. Houve muita repercussão, como conta Michael Smith.
Michael Smith:
– Antes de sair a reportagem, inclusive, quando contactamos as empresas que, descobrimos, estavam usando esses materiais para seus produtos, várias empresas muito grandes, como a Ford, dos carros, ou a Whirpool, que faz geladeiras, todos disseram que não sabiam de nada e iam investigar, e por enquanto não iam comprar mais desses provedores até que comprovassem que não estavam usando trabalho escravo. E depois que saiu houve uma reação bastante forte. A Vale do Rio Doce, que é o provedor principal de minério de ferro para as empresas de ferro-gusa que às vezes usam carvão feito por escravos, dizia que não ia renovar contratos se existisse alguma suspeita de que esses clientes estavam usando trabalho escravo. Dois deputados democratas, depois de ver nosso trabalho, e de seu trabalho, disseram que iam investigar a importação de ferro-gusa brasileiro, para ver se havia alguma violação da lei americana que proíbe o uso de trabalho escravo na cadeia produtiva.
Mauro:
– Hoje o Estadão noticia que o Pará lidera a lista brasileira de trabalho escravo. Clique aqui para ler a reportagem da Bloomberg sobre trabalho escravo (em inglês).
Paulicéia em transe
O Estadão noticia acusação da corregedora das Auditorias Militares estaduais, promotora Eliana Passarelli, contra o comandante-geral da Polícia Militar de São Paulo, coronel Elizeu Eclair Teixeira Borges, por prevaricação e condescendência criminosa. No Valor, o economista Marcio Pochman diz que São Paulo pega fogo com a polarização social, a banalização de tragédias e a organização criminal, enquanto a elite se deleita com a concentração de ricos. Pochman mostra que os estados que ganharam maior participação no PIB têm economias relativamente atrasadas.