Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Dines: Globo agiu corretamente
>>Democracia golpeada

Dines: Globo agiu corretamente


            Felizmente o repórter Guilherme Portanova foi libertado pelos seqüestradores do PCC no início desta madrugada, depois que um resumo da mensagem dos bandidos foi divulgado no Fantástico.


            Na opinião de Alberto Dines, a TV Globo agiu corretamente ao atender logo as exigências dos seqüestradores de seu repórter. E o fez não apenas porque essa foi a opinião dos especialistas internacionais, mas porque assim o recomendavam o bom-senso, a solidariedade com o profissional agredido e os antecedentes no episódio Tim Lopes.


            Dines diz ainda que a TV Globo aparentemente não ouviu a Polícia, nem o governo de São Paulo, muito menos o governo federal. Também fez muito bem. De nada adiantaria ouvi-los, já que as três partes até agora demonstraram absoluta incompetência e total ausência de espírito público para enfrentar os narcoterroristas do PCC e assegurar um mínimo de tranqüilidade à cidadania.


            O manifesto dos bandidos, comenta Alberto Dines, é uma peça cínica, politicamente primária e tosca. Como todos os bandos terroristas, os redatores procuram inventar pretextos humanitários, esquecidos de suas ações desumanas e bárbaras. Os próprios fatos desmentiram ontem mesmo os publicistas do PCC. Quatro ônibus incendiados à noite numa garagem de São Paulo e os 32 presos em saída temporária que voltaram a cometer crimes no próprio Dia dos Pais, aponta Alberto Dines.


           


            Democracia golpeada


            A vida do repórter foi preservada, mas a democracia brasileira sofreu um golpe terrível. Agravado pelo fato de que, durante as 18 horas em que Portanova ficou prisioneiro dos bandidos, nenhuma autoridade se solidarizou de público com a emissora, com a família, com os jornalistas ou com a população brasileira. Um episódio de dupla covardia política: a dos bandidos e a das autoridades que se omitiram.


            Abriu-se um precedente cujas conseqüências ainda é impossível avaliar. E as raízes do problema permanecem intocadas.


 


            Raízes omitidas


            Tanto na televisão, anteontem e ontem, como nos jornais, hoje, os principais fatores que facilitaram a escalada criminosa são omitidos. Em primeiro lugar, a inexistência de políticas que promovam efetivo crescimento do emprego e uma diminuição da desigualdade de renda. Em segundo lugar, falta educação de qualidade. Em terceiro lugar, os governos não tratam de saneamento básico e de uma verdadeira política habitacional. Em quarto lugar, recuperação da Polícia, que é ineficaz e parcialmente corrupta, integração entre órgãos de prevenção, repressão e investigação da criminalidade; combate mais efetivo ao tráfico de armas, que depende em parte das Forças Armadas; mudanças no funcionamento medieval da Justiça e nas leis penais, a rediscussão da questão das drogas e, sobretudo, uma radical intervenção no sistema prisional brasileiro. Em quinto lugar, mas não menos importante, a mídia precisa repensar completamente a maneira como cobre a criminalidade violenta e o trabalho da Polícia.


           


Horário nobre


O PCC não se contentou com a divulgação feita no início da madrugada de domingo, apenas para o estado de São Paulo, logo após a libertação do auxiliar técnico Alexandre Calado. As exigências dos seqëstradores foram sintetizadas pela Globo na abertura do Fantástico, em rede nacional. Após um longo bloco de explicações da emissora, o apresentador Zeca Camargo disse: A Rede Globo espera que o repórter Guilherme Portanova seja libertado. O acordo foi respeitado, e o repórter devolvido, felizmente, mas o principal meio de comunicação do país, miseravelmente órfão de ajuda oficial competente, ficou de joelhos. Isso coloca problemas sérios para a cobertura jornalística. Como teriam colocado uma recusa e o assassinato do jornalista. Não há caminho fácil nesse terreno.


 


            Em 1969, não eram bandidos


            O deputado Fernando Gabeira, que era jornalista quando participou do seqüestro do embaixador americano Charles Elbrick em 1969, condena todos os seqüestros mas recusa comparação com o de quase quarenta anos atrás. No Estadão de hoje, Gabeira diz: “Nós não éramos bandidos”. E reconhece o erro político daquela época, que a mídia costuma glamourizar em tantas recapitulações históricas ineptas, feitas por pessoas que não viveram aqueles episódios nem são capazes de consultar quem conhece o assunto. 


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