O nível vai baixar
Os três principais jornais brasileiros, aqueles de circulação nacional, não parecem confortáveis com os últimos resultados das pesquisas eleitorais.
A Folha de S.Paulo, que nas pesquisas anteriores produziu repercussões em duas ou três edições posteriores, discutindo os números da consulta com especialistas, desta vez relegou o assunto a segundo plano logo no dia seguinte ao da divulgação dos números.
O Globo, que nas ocasiões anteriores deu manchete para as pesquisas do Ibope, desta vez colocou o assunto em plano secundário, escolhendo para chamada principal na primeira página uma reportagem sobre transporte público.
Só o Estado de S.Paulo manteve o assunto em manchete, anunciando que a candidata governista, Dilma Rousseff, tem mais chance de vencer no primeiro turno.
Na maioria dos casos, tanto na pesquisa Ibope quanto na do Datafolha, divulgada na véspera, os jornais especulam sobre a possibilidade de a tendência do eleitorado ser revertida com o início da propaganda gratuita na televisão e no rádio.
Observadores da cena política concordam, em sua maioria, que dificilmente a propaganda vai alterar uma tendência que ainda se consolida, como é o caso da liderança da candidata governista.
Mesmo contando com a simpatia explícita e declarada de quase toda a imprensa, o candidato da oposição, José Serra, precisaria de muito mais do que uma propaganda eficiente para reverter a situação: precisaria de um grande escândalo envolvendo diretamente sua principal adversária.
O risco desse cenário é que a imprensa, em vez de oferecer aos leitores informações úteis para eles formarem uma opinião sólida sobre os candidatos e seus planos de governo, passe a caçar dossiês e vazamentos de todos os tipos, como já aconteceu em eleições anteriores.
Se é de consenso geral que a ocorrência de eleições periódicas faz parte do processo de aperfeiçoamento da democracia, também não é preciso esquecer que essas disputas devem ser travadas num nível respeitoso.
Dos chamados “marqueteiros” não se pode esperar mais do que o barulho que costumam fazer, e que lhes rende muito dinheiro a cada eleição.
Mas da imprensa se espera que guarde pelo menos um pouquinho de pudor, porque depois das eleições os jornais vão continuar precisando de leitores.
E a imprensa, de credibilidade.
Observatório na TV
A campanha para valer começa agora.
Mais uma vez, o poder da televisão está em pauta, agora com a concorrência da internet, muitas vezes mais veloz e com audiências cada vez maiores.
Esta pode ser a última eleição presidencial no Brasil sob influência majoritária da televisão.
Por isso, o debate que o Observatório da Imprensa promove é essencial.
Num futuro muito próximo, as campanhas eleitorais poderão ser muito diferentes, talvez um corpo-a-corpo nas redes sociais da internet, por computadores, telefones celulares ou leitores eletrônicos.
Vale a pena testemunhar essa história.
Alberto Dines:
– Nova fase da campanha eleitoral: o palanque agora é eletrônico, na tela de TV. O horário eleitoral que hoje começa vai transbordar para o noticiário. O ritmo dos debates e sabatinas vai aumentar. Faltam apenas 48 dias para o Dia V, dia de votar. As entrevistas da semana passada na bancada do “Jornal Nacional” da rede Globo, com os principais presidenciáveis, mostraram o potencial da TV como ponte entre o candidato e o eleitor.
Apesar da penetração da internet no Brasil, o país é essencialmente televisivo e a televisão é essencialmente humanizadora. Ela aproxima, dificilmente engana. A verdade é que o comício digital ainda não aconteceu.
O fenômeno Obama não se repetiu nas eleições inglesas e talvez não se repita aqui. Cada país tem o seu espetáculo, o nosso é muito particular.
E se você gosta do assunto assista hoje à edição do “Observatório da Imprensa”, às 22 horas, ao vivo, em rede nacional, na TV-Brasil. Em S. Paulo, pelo Canal 4 da Net e 181 da TVA.