Renan se livra outra vez
A imprensa vem seguindo a novela do senador Renan Calheiros desde maio.
No entanto, ao contrário das novelas de ficção, o enredo que tem como atrações um caso de infidelidade conjugal que redundou em uma sucessão de escândalos não parece capaz de surpreender o público espectador.
Renan começou negando, apresentou suas defesas, e passou pelo primeiro julgamento com o poder que lhe dava a presidência do Senado.
Fez ameaças, foi acusado de bisbilhotar a vida de seus oponentes para melhor chantageá-los e chegou finalmente à sua hora contando com poucos amigos. Mas eles foram suficientes para absolvê-lo.
Renunciou ao cargo de presidente do Congresso, onde havia capitaneado um dos mais descarados ciclos de barganhas desde o tempo do ‘é dando que se recebe’, que celebrizou o falecido deputado Roberto Cardoso Alves.
Chegou ao julgamento sem poderes, com poucos amigos, e afinal sem importância alguma.
Foi absolvido em mais um episódio, e ainda tem três acusações a enfrentar.
Mas, no fim das contas, o destino político do senador Renan Calheiros ficou muito menor diante do que revela o caso da compra de emissoras de rádio em Alagoas: agora o que interessa à opinião pública é saber como ficam os outros parlamentares que mantêm concessões de rádio e de televisão, em seus nomes ou em nome de terceiros.
A legislação é clara ao proibir esse tipo de privilégio, que dá aos seus detentores uma enorme e injustificada vantagem sobre seus concorrentes em disputas eleitorais.
Ao absolver Renan Calheiros, o plenário do Senado tenta colocar uma pedra sobre o tema que interessa, que é a questão da propriedade dos meios de comunicação.
Cabe à imprensa não deixar que a farra continue. Isso é o que o leitor deve esperar. A menos, é claro, que algumas das grandes empresas de comunicação prefiram não mexer com seus sócios.
Afinal, boa parte do poder de penetração das redes nacionais repousa no conjunto de emissoras afiliadas.
E muitas delas têm parlamentares como proprietários.
Nova tecnologia, velhos vícios
A inauguração da TV digital e o lançamento da TV Brasil mexem com o setor.
De um lado, o desafio da nova tecnologia pode criar uma oportunidade para o aquecimento dos negócios. Por outro lado, muita desconfiança ainda cerca as intenções do governo ao inventar a rede pública de televisão.
Esse é o tema do comentário de Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa.
Luiz Egypto:
– TV digital foi lançada como alguma pompa e pouca circunstância no domingo passado, num programa em rede nacional. O distinto público teve direito a pronunciamentos dos ministros Dilma Roussef e Hélio Costa, culminando com a palavra do presidente Lula. Afora o episódio canhestro da falha do teleprompter justo na fala presidencial, o que se viu e ouviu foi um rosário de boas intenções, entre elas o anúncio de um financiamento do BNDES para a rede varejista comercializar caixas conversoras, e a certeza – pelo menos no discurso – de que teremos a melhor TV digital do mundo.
Será mesmo? O que se tem como certo é que o modelo adotado é do agrado das emissoras de TV aberta. E também por isso convém guardar cautela ante o otimismo oficial. Ainda há muito chão a percorrer, muita tecnologia a desenvolver e aplicar, muita política industrial a definir.
Um boa pedida para entender esse quadro são os artigos de Gabriel Priolli e Nelson Hoineff, disponíveis na edição online deste Observatório. Vale a leitura.