Expectativas dos renunciantes
Hoje é dia de expectativa em relação à decisão do Supremo Tribunal Federal sobre pedido de deputados que querem evitar julgamento no Câmara. A imprensa prevê uma negativa do tribunal e, portanto, a renúncia de alguns deles. O PT diz que dará legenda para que concorram em 2006, mas isso não é garantia de apoio efetivo. E menos ainda de que os eleitores serão simpáticos à manobra.
Provocações
Em Roma, o presidente Lula saboreou os ventos de dissipação da crise do “mensalão” e anteviu vitória em 2006. Em Buriti Alegre, Delúbio Soares comemorou os 50 anos de idade prevendo que as denúncias vão virar piada de salão.
É lenha na fogueira da mídia. Mas, como se dizia na velha Roma, “audaces fortuna juvat”. A sorte ajuda os audaciosos. Pode ser.
Deu no New York Times
O The New York Times colocou em dúvida a honestidade de sua repórter Judith Miller, que passou 85 dias presa por se recusar a revelar uma fonte. A crise do jornal mais famoso do mundo parece não ter fim.
Posições explicitadas
O Alberto Dines avalia positivamente a clara tomada de posição da imprensa em face do referendo, mas em editoriais, não no noticiário.
Dines:
– Mauro, na sua edição de ontem, o Globo alistou-se formalmente no batalhão do “sim”. Na semana passada, a Folha também havia se manifestado na mesma direção. O que importa nestas duas opções é que a imprensa brasileira está aprendendo a comportar-se diante das eleições: assume uma posição clara na página de opinião e, com isso, fica livre para cobrir a campanha com isenção nas páginas de notícias. Este tipo de procedimento é usual no primeiro mundo e contrasta visivelmente com o que fez a revista Veja há duas semanas: engajou-se abertamente no “não” tão logo começou a campanha mas o fez em matéria informativa. De agora em diante, seus leitores já não saberão distinguir o que é informação e o que é opinião. Vamos ver agora como se comportarão os grandes veículos no próximo ano quando começar a temporada eleitoral. Será que assumirão posições tão claras e transparentes numa eleição para presidente da República? Apoiar uma idéia num referendo não é muito complicado. Complicado será manifestar-se contra um candidato que pode ser o próximo presidente da República.
Saúde e comportamento
As revistas Época e IstoÉ voltaram nesta semana a dar na capa temas de saúde. Um profissional da área de circulação de revistas ouvido pelo Observatório afirma que saúde e comportamento são os únicos temas capazes de fazer aumentar a venda em banca. Política não comove muito boa parte do público atual das grandes revistas. A Veja, com exceção de três semanas – corrupção na Amazônia, máfia do futebol, e defesa do Não no referendo -, dedicou as últimas 21 capas à crise do mensalão e adjacências. Nesse período, o presidente Lula, com direito a foto ou desenho, foi capa cinco vezes. Dá tristeza ver que a tiragem da revista caiu. Em agosto, a média informada pela Veja foi de 1 milhão e 247 mil exemplares. Nas três primeiras semanas de outubro, de 1 milhão e 224 mil exemplares. A Veja voltará na primeira oportunidade às capas sobre saúde ou comportamento.
Antiviral ou quarentena?
As três principais revistas brasileiras, por sinal, não deram uma linha sobre a maior ameaça potencial à saúde, a gripe aviária. Logo ela ganhará destaque. Uma divergência interessante está nos jornais de domingo (16/10). O professor de física Marcelo Gleiser diz em sua coluna na Folha de S. Paulo que, na ausência de uma vacina preventiva, a gripe tem que ser tratada com remédio, o Tamiflu. O médico e pesquisador Luiz Hildebrando Pereira da Silva, que trocou um laboratório em Paris pelo trabalho de campo em Rondônia, afirma em entrevista ao Estadão que antiviral não adianta. O que adianta, segundo Hildebrando, é colocar os virologistas brasileiros em contato com centros internacionais e pensar em situações de isolamento e quarentena. O secretário de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, Jarbas Barbosa, já havia alertado, no mesmo Estadão, contra uma inócua corrida ao remédio. O jornal reforça esse alerta nesta segunda-feira, 17 de outubro, em editorial.
Direita cortejada
Em sua coluna na Folha de ontem, Luís Nassif chama a atenção para a emergência na cena pública de uma direita tosca, ou inculta. Nassif constata o que já tinha ficado patente quando a Veja deu a capa a favor do Não no referendo. Na luta pela diferenciação, o resultado “tem sido a editorialização da notícia, o exercício de um opinionismo autoritário e raso”, para cortejar “uma classe média que há pelo menos 15 anos se deleita com linchamentos e catarses”.
Futebol mortífero
Mais uma morte em conflito de torcidas no metrô, em São Paulo. No estádio do Morumbi, um torcedor perdeu as pontas de três dedos por causa de uma bomba caseira. Perto do Parque Antártica, um ônibus foi apedrejado e uma mulher foi ferida no rosto. A mídia tem que cobrar das autoridades um policiamento competente em dias de jogos. O pior que pode acontecer é a opinião pública se acostumar com esse tipo de violência. É só pensar no que ocorreu em favelas do Rio de Janeiro.