Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Escândalos seletivos
>>Um pacto de morte

Escândalos seletivos

As revistas do final de semana fizeram uma cuidadosa seleção dos casos de corrupção que têm vindo à tona recentemente.

Mas não fica claro se o critério utilizado é o da importância, alcance ou dano provocado ao dinheiro público em cada caso, ou se simplesmente a escolha foi feita pelo nome e origem política dos envolvidos.

Os jornais de domingo publicaram uma variedade maior de escândalos, mas o leitor só poderia ter uma idéia do que representam se tivesse lido todos os jornais ao longo dos últimos dez dias.

Esse é o caso em que a mídia impressa alcançou o seu limite, ou a corrupção se tornou finalmente uma regra no Brasil, ultrapassando qualquer capacidade narrativa?

Os jornais e revistas falam continuamente da acusação de favorecimento na compra da Varig pela Gol, que teria recebido a ajuda do pulso firme da ministra Dilma Rousseff, contam dois ou três casos de fraude em departamentos de trânsito, acompanham as investigações internacionais sobre pagamento de propina da empresa Alstom a autoridades paulistas e mantêm sob fogo cerrado o deputado Paulo Pereira da Silva, presidente da central Força Sindical, acusado de montar um esquema para influenciar decisões do BNDES.

Além disso, continua dando atenção à acusação de que o casal Garotinho coordenava um esquema de corrupção policial, com um mensalão que favorecia o crime organizado no Rio.

Se observarmos as características de cada escândalo, quanto a provas e evidências, percebe-se certo desequilíbrio quanto ao empenho da imprensa em avançar nas investigações ou simplesmente esperar que lhe caia no colo alguma novidade.

Mas essa tem sido uma característica dos jornais nos últimos anos, provavelmente porque, com poucos repórteres disponíveis, não há recursos para publicar material exclusivo com certa freqüência.

De qualquer maneira, fica sempre no leitor a sensação de que cada jornal tem seus escândalos prediletos.

Além da suspeita de que alguns casos de corrupção são noticiados com muita má-vontade enquanto outros costumam mobilizar as redações, a leitura dos jornais e revistas no final de semana revela que a imprensa ainda se limita a relatar os fatos divulgados pelos investigadores, sem avançar em análises mais reveladoras sobre as origens da corrupção.

Se, para o cidadão comum, o noticiário passa a impressão de que todo o setor político está contaminado, a imprensa deveria estar cuidando de esclarecer as origens comuns dos escândalos, para que a opinião pública possa entender e exigir mudanças.

O noticiário genérico que não aponta as causas estruturais da corrupção pode minar a confiança da sociedade na democracia, já que a impressão que passa a imprensa é de que todos são igualmente corruptos.

Um pacto de morte

Acomodados com a profusão de anúncios que chegam com o Dia dos Namorados, jornais e revistas parecem ter perdido o desejo de se diferenciar.

Quem perde em cada edição são os leitores.

Mas no longo prazo é a imprensa que corre risco.

Alberto Dines:

– A leitura dos jornais e revistas do fim de semana confirma a perigosa vocação para a homogeneidade. Como que combinados, os três jornalões parecem dizer ao leitor que só precisa comprar um deles. Ao invés de competir e diferenciar-se fazem questão de uniformizar-se.

A diversidade só se manifesta através de colunistas individuais. Mais rápida, a Folha conseguiu contratar a ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Dificilmente contratará repórteres ou correspondentes, dificilmente abrirá novas sucursais para acompanhar no noticiário diário o desmatamento na Amazônia.

E se o Estado tivesse a primazia de contratar a ex-Ministra faria exatamente o mesmo.

A verdade é que Marina Silva continuará pregando no deserto, tão ou mais solitária do que quando estava instalada na Esplanada dos Ministérios.

As revistas são ainda mais condescendentes com a sua semelhança. Não se importam em confundir-se.

Com edições abarrotadas de anúncios por causa do Dia dos Namorados, todos optam pelo picadinho, certos de que com isso não serão furados ou ultrapassados pelos concorrentes.

Nosso jornalismo completou 200 anos na semana passada num estranho pacto de silêncio. Neste passo dificilmente comemorará os 250 anos – acabará antes graças a um pacto de morte coletivo.