Nivelamento por baixo
Quem cobrava da imprensa que o PSDB estava fora dos escândalos pode agora regozijar-se com as denúncias de desvios na estatal Furnas, onde também aparece o PT. Está feito o nivelamento por baixo. É melhor que seja exposto à visitação pública. Mesmo que custe mais algumas reputações.
A ética foi cassada
A melhor definição do que aconteceu ontem no Conselho de Ética da Câmara, onde o deputado Pedro Henry foi absolvido, está num título do Jornal do Brasil de hoje: “Conselho cassa a ética”.
Candidaturas compulsórias
O prefeito César Maia foi criticado por gastar muito tempo alimentando um blog. Fechou-o em setembro. Mas o prefeito conseguiu um modo habilidoso de continuar opinando diariamente. Usa o correio eletrônico.
Anteontem, Maia, que tem boa reputação como especialista na leitura de pesquisas de opinião, deu uma visão interessante do processo político em curso no país. Escreveu que “eleição com reeleição é na verdade um mandato de oito anos com recall aos quatro anos. O presidente é candidato compulsoriamente e a desistência é como uma renúncia no meio do mandato”.
Condenar o presidente Lula por fazer campanha é um equívoco. Mas ele também não pode criticar os adversários por isso.
A politização das religiões
O Alberto Dines critica a maneira como a mídia cobre os fenômenos de religião. Uma maneira superficial, filha do culto da banalidade, avalia.
Dines:
– Mauro, a religião vai continuar por muito tempo nas primeiras páginas dos jornais. À primeira vista, isso poderia ser visto como um prognóstico alvissareiro. Não é. A fé religiosa, que, em tese, deveria melhorar os homens está exacerbando as relações entre pessoas, grupos, nações e até mesmo facções da mesma crença, caso dos xiitas e sunitas. Apesar do progresso científico estamos retornando ao clima intolerante e inclemente da Idade Média.
O caso das caricaturas ofensivas ao Islã é apenas um episódio, os desdobramentos serão inevitáveis porque a politização das religiões é um processo contínuo e contagioso. A mídia não consegue captar o fenômeno em toda a sua extensão porque de uma forma geral, a mídia abdicou do seu dever de fazer pensar. Prefere oferecer juízos prontos, sumários, nem sempre os mais racionais, porque ela própria converteu-se numa espécie de culto – o culto da banalidade. Estamos vivendo tempos interessantes, extremamente interessantes, mas poucos conseguem perceber isso. Só vamos saber quando folhearmos os compêndios de história.
Uma crise ainda pouco conhecida
Vou repetir o que eu disse na semana passada:
A liberdade de imprensa deve ser defendida com unhas e dentes. Ponto. Mas as medíocres charges do profeta Maomé publicadas originalmente num jornal dinamarquês, e reproduzidas por solidariedade laica em outros, são um monumento de estupidez política como há muito não se via.”
Após um conhecimento menos precário do que aconteceu, eu só trocaria a palavra “estupidez” por “provocação”.
A cobertura do assunto na mídia mundial foi superficial. Nenhum veículo publicou uma cronologia competente da crise.
O primeiro-ministro da Dinamarca, Andres Fogh Rasmussen, sintetizou: “Enfrentamos uma crise global que tem potencial para fugir do controle dos governos”. A declaração foi reproduzida pela revista inglesa The Economist. Nesta sexta-feira, 10 de fevereiro, quem quiser melhores informações sobre o caso poderá encontrá-las, em inglês, na reportagem de capa da The Economist, na internet.
Problema de base
A proposta de cotas nas universidades federais para egressos de escolas públicas, negros e índios é polêmica e, ao contrário do que propõe o PT, deve ser exaustivamente discutida. A única urgência que se pode enxergar nesse caso, que tem a ver com séculos de injustiça, é a da campanha eleitoral. O problema no ensino básico é muito mais gritante, mas envolve interesses corporativos menos poderosos junto à mídia.
Corrida maluca
A praga de sensacionalismo que invadiu os principais noticiários da TV Globo é uma prova incontestável de que a montagem da pauta jornalística é uma construção muito arbitrária. Não há um primado claro dos fatos. Pesa muito o que os editores pensam que vai melhorar o ibope.
O Jornal Nacional está cada dia com mais cara do famigerado Aqui e Agora, criado pelo SBT há mais de 20 anos. Sabe-se lá o que isso poderá estimular nos próximos dias.
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