Preparar a cobertura eleitoral
A eleição de 2006 está mais do que no ar. Um dos pré-candidatos, Fernando Henrique Cardoso, sugeriu ontem no Estado de S. Paulo e no Globo uma trégua na feroz luta interna do PSDB. O ex-governador Garotinho não pára de ampliar sua presença nos meios de comunicação. Foi seguido em agosto pelo prefeito César Maia.
A imprensa procura a cada eleição melhorar seu trabalho, mas tem caminhado mais lentamente do que seria necessário para prestar um serviço de boa qualidade e exercer um papel social responsável.
Ribeirão Preto
A situação do ministro Antonio Palocci não pára de se complicar. No Estadão desta segunda-feira, 5 de setembro, há denúncias do ex-gerente financeiro de uma gráfica sobre pagamentos feitos pela empresa Leão e Leão para candidatos do PT nas campanhas de 2000, quando Palocci se elegeu prefeito de Ribeirão Preto, e de 2002, aí envolvendo material de campanha de candidatos a todos os cargos em disputa, de deputado estadual a presidente da República.
Polícia e mídia
Na Folha de S. Paulo, o diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, chama a atenção para a cautela com que a mídia deveria agir se estivesse interessada no combate a irregularidades e crimes, e não, digo eu, prioritariamente empenhada numa concorrência aloprada pelo furo. Ele reconhece que o papel da imprensa é fundamental na democracia, mas explica que para a polícia, depois que saiu na mídia, fica muito mais difícil apurar os fatos, porque os envolvidos se preparam.
Paulo Lacerda só se esqueceu de dizer, e a Folha de lhe lembrar, que a midiática Polícia Federal é a primeira a convidar a TV Globo, às vezes também outras emissoras, para acompanhar suas diligências, o que tem sido criticado por advogados.
A denúncia contra Severino
O Alberto Dines espera que Severino Cavalcanti não tenha a menor condição de acusar a imprensa de ter sido irresponsável na denúncia de que ele recebia um “mensalinho”.
Dines:
– Mauro, bem sabemos que de Severino Cavalcanti pode-se sempre esperar o pior. Cada vez que o homem fala ou faz qualquer coisa, confirmam-se as piores expectativas a seu respeito. Como se dizia antigamente, parece que tem o dedo podre, para onde o aponta aparece o nepotismo, o tráfico de influência, o fisiologismo e até coisas piores. É por isto que a cruzada do deputado Fernando Gabeira para tirar Severino da presidência da Câmara, em apenas cinco dias, obteve tanta repercussão. Mas diante da acusação de Veja de que Severino recebia um propina mensal do dono de um restaurante da Câmara vale a pena experimentar um exercício especulativo – e se a denúncia for falsa? E se o dono do restaurante do décimo-primeiro andar da Câmara estiver fazendo uma chantagem, como diz Severino, como é que fica Veja e como é que fica o resto da imprensa, que trombeteou a matéria de capa da revista antes mesmo que entrasse em circulação? Severino não se licenciou do cargo, como era de se esperar, mas foi rápido, e ontem, domingo, já anunciava algumas providências mais ou menos enérgicas.
Pela primeira vez em muito tempo estamos torcendo para que Veja tenha razão – caso contrário, vai ser duro agüentar a prepotência de Severino acusando a imprensa de irresponsável.
Sem bravatas
A mobilização da oposição para provocar a saída de Severino Cavalcanti está nas manchetes. A oposição tem uma chance de atalhar novas conseqüências desastrosas da irresponsabilidade que praticou ao votar em Severino para derrotar o governo na eleição para a presidência da Câmara, em fevereiro.
Em editorial, a Folha de S. Paulo de hoje pede o maior rigor no encaminhamento desse processo: “Embora pública e notória, a inadequação de Severino não basta para removê-lo do cargo. Um movimento nesse sentido precisaria estar amparado em fatos sólidos e observar com rigor as normas constitucionais, caso contrário não passará de uma tentativa de golpe”.
Tudo a ver
Reportagem da Folha de hoje mostra como o faturamento da TV Globo cresceu no governo do presidente Lula em comparação com os últimos anos de Fernando Henrique. O governo e a Globo respondem que a veiculação de anúncios, principalmente de empresas estatais, se faz segundo critérios técnicos. A reportagem dá um panorama da grande imprensa no Brasil. Triste é constatar que os principais jornais e revistas perdem leitores ano após ano.