Polícias performáticas
Editorial da Folha de S. Paulo desta quarta-feira, 22 de junho, critica abusos e arbitrariedades cometidos pela Polícia Federal. E por juízes que expedem mandados de prisão sem se certificar dos fatos e sem fundamentar seus despachos. O gancho do editorial é o caso da Schincariol.
Está certa a Folha, mas faltou criticar a prestimosa colaboração de toda a mídia na montagem dos shows das polícias. Inocentes são massacrados e culpados conseguem na Justiça a anulação de processos mal instruídos.
É bom ter em mente que estamos em plena temporada de caça.
IBGE embargado
O presidente Lula bateu boca com os dados da pesquisa do IBGE que mostrou mais problemas de obesidade do que de desnutrição entre a população brasileira. O governo baixou norma obrigando o Instituto a lhe mandar previamente o material de divulgação das pesquisas de periodicidade anual.
A justiça derrubou a norma. E o Ministério do Planejamento, ao qual é subordinado o IBGE, entendeu que a decisão se aplica também ao envio antecipado à mídia das pesquisas.
Resultado, como diz hoje O Globo, é que os jornalistas terão apenas um dia para explicar pesquisas que têm mais de duzentas páginas. Um retrocesso que, se não for derrubado na Justiça, vai provocar o aumento dos erros que a mídia comete ao manipular estatísticas.
Observatório online
O editor do Observatório da Imprensa na Internet, Luiz Egypto, apresenta os destaques da edição que entrou na rede ontem.
Egypto:
− A Associação Mundial de Jornais divulgou o relatório ‘Tendências da Imprensa Mundial’. O estudo abrange 215 países onde existe imprensa diária. Alguns números são animadores, embora não haja sinais de uma retomada consistente para a mídia impressa. Em 2004, houve um crescimento de 2,1% na circulação dos jornais. No ano passado, a publicidade apresentou o melhor resultado desde 2000, com um aumento de 5,3% nas receitas. Nada mal para um setor até aqui imerso numa crise crônica.
No Brasil, surgiu um questionamento sobre os procedimentos da mídia a partir da farta divulgação, na TV, da operação policial que prendeu os donos da cervejaria Schincariol, que só faltou ser transmitida ao vivo. Este e outros assuntos são comentados na edição online do Observatório.
Denúncia contra frigoríficos
Só o jornal Valor noticia hoje que a Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça abriu processo administrativo contra onze frigoríficos para apurar suposta formação de cartel.
As investigações partiram de denúncias da Confederação Nacional da Agricultura e da Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados.
A formação de cartéis é um dos assuntos que a mídia cobre de modo deficiente.
Volkswagen irrita educadores
Gênios da publicidade produziram um anúncio de televisão da Volkswagen em que um aluno deixa uma aluna colar. E isso é apresentado como algo meritório. Está na Folha de hoje. Educadores chiaram, é claro. A Volks defende sua publicidade. Não existe um tal de Conar, Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária?
Ivo Cassol, o editor de fitas
O governador de Rondônia, Ivo Cassol, do PSDB, herói de uma reportagem com câmera oculta exibida em maio pelo Fantástico, foi mostrado ontem pela Rede Bandeirantes de Televisão propondo cinqüenta mil reais para cada deputado estadual que o apoiasse.
A Justiça constatou que os trechos selecionados por Cassol para a Globo constituíram uma manipulação. O deputado Chico Paraíba, do PMDB, disse que vai processar a Rede Globo.
Nos trechos de fitas exibidos pelo Fantástico aparecia só a suposta corrupção passiva de deputados, não a que teria sido proposta pelo governador. Ricardo Boechat dá destaque ao assunto hoje no Jornal do Brasil.
O Senado poderá recomendar amanhã à Assembléia Legislativa a cassação de sete deputados e o impeachment do governador Cassol.
É por essas e outras que a mídia deve ficar muito atenta à maneira como trabalha no tiroteio acusatório desencadeado pela fita dos Correios. A origem dessas ‘reportagens’ entre aspas precisa ser checada com cuidado.