Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Primado do declaratório
>>Alto clero ausente

Primado do declaratório


O jornalismo declaratório é uma praga renitente. Veja-se o caso da manchete da Folha de S. Paulo: “Severino diz ser vítima de fraude”. Após a anunciadíssima coletiva de domingo, qual leitor da Folha precisaria receber tal informação nesta manhã de segunda-feira, 12 de setembro? Ainda não há vôos regulares entre Marte e a Terra. E, quando houver, as notícias os acompanharão.


Importante é traduzir o sentido político da defesa de Severino Cavalcanti, num episódio que une a direita herdeira da ditadura militar e o PT, maior herdeiro eleitoral das lutas pela redemocratização. Mais uma vez, o Jornal do Brasil dá a manchete inteligente: “Severino pede socorro a Lula”.


Alto clero ausente


O Alberto Dines chama a atenção para a ausência do “alto clero jornalístico” na coletiva de Severino e mostra como as manobras do presidente da Câmara podem ajudar o Planalto e o PT.


Dines:


– Mauro: se o domingo tornar-se o dia dos grandes pronunciamentos, como está parecendo, a nossa semana política certamente vai ficar mais longa e muito mais rica. Mas se estas entrevistas dominicais continuarem a ser boicotadas pelo “alto clero jornalístico” vamos descobrir muito em breve que este alto clero jornalístico só serve para as colunas de opinião.


De qualquer forma, as declarações desafiadoras do deputado Severino Cavalcanti, ontem, domingo, depois de um encontro com o ministro Jacques Wagner, revelam claramente a estratégia do governo: quanto mais tempo embolar a crise em torno do presidente da Câmara menos se fala na crise do mensalão, na crise do caixa dois do PT, no dinheiro do Duda em paraísos fiscais e da corrupção em geral.


Já havia ficado visível que o súbito reaquecimento do Caso Maluf teve um componente tático e político – quanto mais se falar no ex-prefeito paulistano menos se fala no ex-prefeito de Santo André, no ex-prefeito de Ribeirão Preto, etc. Para enfrentar estas manobras diversionistas, a sociedade só conta com a capacidade da imprensa em enfrentar duas ou três frentes de noticias ao mesmo tempo. Com o mesmo empenho e o mesmo rigor.


As algemas do espetáculo


É salutar a polêmica aberta pelo jornalista Luiz Weis, em seu blog Verbo Solto, do Observatório da Imprensa (http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs/verbosolto.asp ), contra a reportagem da TV Globo que mostrou a colocação de algemas em Flávio Maluf quando ele se entregava à Polícia Federal. A Folha de hoje diz que o repórter da TV Globo se vestiu como policial e viajou numa viatura policial até o prédio da Polícia, onde entrou junto com o preso e seus carcereiros.


Entre os advogados ouvidos pelo jornal, quatro condenaram e um defendeu a dobradinha da reportagem com a polícia. Argumentar que a maneira como são tratados usualmente os presos no Brasil deveria se aplicar aos poderosos é reivindicar a barbárie. Não vai melhorar em nada a situação da democracia brasileira.


Melhor fez o Estado de S. Paulo, que conseguiu uma entrevista por escrito de Maluf em que o expoente da direita paulista pela primeira vez hesita em se proclamar candidato a alguma coisa nas próximas eleições.


A irmandade entre polícia e jornalistas é uma das pragas mais antigas da imprensa brasileira.



Sexo, drogas e rock and roll


O jornalista Luciano Trigo escreveu no Globo de sábado: “O vício não é um acidente, não é um destino: ele nasce de uma atitude tolerante em relação às drogas – dentro de casa, na sociedade e até na mídia”.


Pois é, Luciano Trigo. Ontem, no Fantástico, uma entrevista com Mick Jaegger e Keith Richards tinha a seguinte passagem: “Keith é um especialista em desafiar a morte. Sempre fumou muito, bebeu muito e se drogou muito. Dizia que o problema dele não eram as drogas, era a polícia. E reflete: Não recomendo o meu estilo de vida pra ninguém”.


Só faltava a entrevista ter sido exibida entre dois comerciais de cerveja, desses destinados a consumidores jovens.


Ombudsman cobra, Folha cala


O ombudsman da Folha, Marcelo Beraba, criticou ontem, como já havia feito uma semana antes, a chefia da redação do jornal por ter assinado noticiário de agências internacionais como se tivesse sido obra de repórter enviado a Nova Orleans. Agora, a observação de Beraba é reforçada pela carta de um leitor. A direção do jornal não responde. O ombudsman diz que não sabe a que atribuir o silêncio da Folha em três oportunidades que teve para se manifestar.