Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Palhaçada não é jornalismo
>>Reclamação em horário nobre

Palhaçada não é jornalismo


Uma pequena nota na editoria de política do Estado de S.Paulo e um texto no Globo recolocam em debate uma recomendação do Tribunal Superior Eleitoral que tem sido apontada pela imprensa como restrição à liberdade de informação.


Trata-se da proibição aos programas humorísticos do rádio e da televisão de ridicularizar ou degradar candidatos durante o período eleitoral.


Integrantes de programas humorísticos como Casseta e PlanetaCQC e Pânico na TV argumentam que a restrição afeta a liberdade de imprensa.


Confundem mídia com imprensa.


A comunicação do TSE, divulgada em nota e reproduzida nesta sexta-feira por alguns jornais, lembra que a determinação está explicitada na legislação eleitoral desde 1997, quando as regras foram aprovadas pelo Congresso e sancionadas pelo então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso.


Considerando que as emissoras de rádio e TV são concessões públicas, o texto impõe restrições à programação, não apenas de noticiários, mas também de programas de entretenimento, como novelas e humorísticos.


O artigo 45 da Lei 9.504 veda o uso de trucagem, montagem e outros recursos de áudio ou vídeo que alterem, degradando ou ridicularizando, a imagem pública de candidatos, partidos ou coligações, prevendo multas para as emissoras em caso de desobediência.


A questão é bastante clara, como é claro também que as emissoras usam programas humorísticos para influenciar a opinião dos eleitores e favorecer determinados candidatos.


Esse tipo de manobra fica claro em seções de programas humorísticos travestidos de jornalismo, nas quais o comediante entrevista um político e depois, na edição, aplica-se um nariz de palhaço sobre o rosto do entrevistado.


As pautas desse tipo de programa são claramente escolhidas para ridicularizar uns e poupar outros, conforme as preferências da emissora.


Humoristas prometem fazer uma passeata – evidentemente no Rio – no dia 22, para protestar contra a restrição.


Pode até ser engraçado, e certamente a imprensa vai cobrir com toda atenção.


Mas não muda a verdade segundo a qual um jornalista fazendo humor é humorista.


E quando o humor é usado para favorecimentos, não tem graça nenhuma.


Reclamação em horário nobre


Alberto Dines:


– A Globo saiu-se bem do incidente como presidenciável Plínio Arruda Sampaio ocorrido ontem pela manhã. O Jornal Nacional divulgou corretamente a reclamação do candidato do PSOL a quem foram oferecidos apenas três minutos, em seguida colocou no ar a íntegra da sua entrevista e, logo depois, a explicação do Editor-Chefe do programa, William Bonner [ver Plínio de Arruda Sampaio é entrevistado pelo Jornal Nacional].


O portal UOL revelou porém que a reclamação gravada e transmitida no JN foi a segunda versão. A primeira não foi aceita pela emissora [ver Crítica de Plínio de Arruda à TV Globo interrompe gravação para o ´Jornal Nacional´]. Plínio teria sido convencido a refazer o protesto pelo deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) que o acompanhava.


De qualquer forma, fica claro que a mídia brasileira está aprendendo – muito lentamente, diga-se – a tolerar as críticas e reclamações. Evidentemente, trata-se de um caso excepcional já que o primeiro debate entre os candidatos à presidência (na Rede Bandeirantes), deu a Plínio uma razoável exposição e a série de entrevistas do Jornal Nacional está chamando muita atenção.


O pleito presidencial goza hoje de um status especial porque transcorre na classe executiva (para usar a metáfora utilizada por Plínio) enquanto na classe econômica e no andar de baixo ainda impera a lei da selva – o reclamante não é apedrejado como no Irã, simplesmente some para sempre do noticiário como em Cuba ou na antiga União Soviética.


A TV-Cultura, por exemplo,  teoricamente uma TV pública e teoricamente democrática, ainda na era Paulo Markun-Gabriel Priolli (2008),  tirou o programa Observatório da Imprensa da grade porque este site reclamou através de uma nota de 10 linhas contra a transferência do programa para a meia-noite sem qualquer aviso prévio justamente na noite em que seria apresentado um especial sobre o seu 10º aniversário.