Renan está de volta
Senador Renan Calheiros, quem há de esquecê-lo?
Pois é. O ex-presidente do Senado, que já caminhou sobre a corda bamba da cassação por conta de um punhado de suspeitas, está de volta ao topo do noticiário político.
Ele é um dos negociadores mais destacados na disputa entre o PMDB e o PT pela presidência do Senado.
E agora quer ser o líder do PMDB no Senado.
Tem grandes possibilidades.
Com sua enorme capacidade de digestão, o partido que já teve em suas fileiras o falecido deputado Ulysses Guimarães cresceu nas eleições municipais e ganhou peso para a sucessão presidencial de 2010.
Seu apoio está sendo disputado desde já pelas principais forças que se digladiam na política nacional.
Com o esfacelamento do Partido Democratas, antigo PFL, nos últimos anos, PT e PSDB tendem a polarizar a disputa.
E o PMDB, com sua vocação para comer as sobras e sem um nome de respeito para apresentar, vai para a mesa disposto a tirar o máximo que puder.
E quem aparece costurando de um lado e de outro?
Renan Calheiros.
Ele é um dos aliados do ex-presidente José Sarney, outra figura-símbolo da nossa política, que pretende colocar sua filha Roseana no posto de líder do governo no Senado.
Isso seria um sintoma de que o PMDB seguirá apoiando o atual presidente até 2010?
Certamente que não.
O PMDB tem agora essa natureza de camaleão: dá uma no cravo, outra na ferradura, apóia o PT em Brasília e o PSDB em São Paulo.
Vai para onde farejar as melhores vantagens.
Se Renan Calheiros volta à cena, convém à imprensa manter o leitor informado.
Mas não custava nada lembrar por onde andava o senador alagoano um ano atrás.
Afinal, foi a imprensa que tentou convencer a opinião pública de que Renan era culpado em meia dúzia de processos, e a maioria dos seus acusadores era do PSDB e do Democratas.
Ele foi absolvido com a ajuda do governo, as acusações foram esquecidas, e o leitor fica com aquela impressão de que tudo na política é encenação.
Baixarias em inglês
Quem considerou de mau gosto certas jogadas dos marqueteiros nas campanhas municipais recentemente concluídas no Brasil, deveria prestar mais atenção ao que se desenrola na política americana, a menos de uma semana da conclusão do processo de escolha do presidente da nação mais poderosa do planeta.
A coleção de baixezas parece não ter limites e envolve interesses multi-bilionários.
Um grupo de apoiadores do republicano John McCain gastou alguns milhões de dólares para imprimir e distribuir cópias de um vídeo contra o candidato democrata Barack Obama, que foram encartadas em cinco jornais de grande circulação.
E o comando da campanha republicana acusa publicamente o jornal Loos Angeles Times de omitir o conteúdo de outro vídeo que, segundo dizem, demonstraria o envolvimento de Obama com um controverso acadêmico e ativista palestino.
Rashidi Khalidi, professor da Universidade de Chicago, é apresentado pelos republicanos como um radical islamita e anti-semita.
E antes que possa provar que não é nada disso, sua má-fama se espalha pelo país.
Ao mesmo tempo em que as insinuações ganham repercussão na grande imprensa, os adeptos de um lado e de outro postam milhares de vídeos no site youtube, radicalizando a disputa e colocando ainda mais lenha na fogueira.
Jornalistas engajados nas campanhas entram explicitamente em cena dando validade a boatos e destacando detalhes de notícias que favorecem um ou outro candidato.
O mais notório desses franco-atiradores da imprensa é o polêmico editor de um jornal da internet, Martin Drudge, aquele que descobriu o caso da estagiária Monica Lewinski com o ex-presidente Bill Clinton.
Segundo o Estado de S.Paulo, o Drudge Report reproduz desde ontem um vídeo de uma emissora da Flórida dando conta de que a venda de armas cresceu 30% no Estado, por causa de boatos de que, se eleito, Barack Obama vai aumentar as restrições ao comércio de armas de fogo.
Com a consolidação da internet como o grande meio de comunicação do nosso tempo, a divulgação de boatos e a manipulação de informações sai do controle da chamada grande imprensa.
E importantes decisões coletivas podem ser tomadas com base na desinformação.