Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Sociedade fragmentada
>>Respostas simétricas

Sociedade fragmentada


Em condições normais, detentor dos votos majoritários, um governador tem poder limitado. Não comanda estruturas que seguem há longos anos suas lógicas próprias. Menos poder ainda tem um governador substituto. Essa é a realidade em que opera o governador Cláudio Lembro, por mais que seja um veterano da política paulista.


Ele se viu diante de fatos de uma gravidade inédita. Espremido entre um crime organizado terrivelmente competente e um aparelho de segurança pouco eficaz, conivente, infiltrado. Enfrenta dificuldades evidentes. De certa forma, é compelido a ocultar uma parte da realidade, para não ter que enfrentar amanhã, além do crime organizado, a polícia e o sistema penitenciário.


Foi positiva, ontem, a disposição do governador de São Paulo de se comunicar com a sociedade por todos os canais disponíveis. Falou na televisão, aceitou o debate com repórteres. A Folha extrai hoje (18/5) de uma entrevista de Lembo uma declaração genérica sobre a riqueza egoísta da minoria e a miséria ou pobreza da maioria, em que alguns verão um expediente para desviar a conversa. Mas Lembo não fala apenas de dondocas. Fala de aliados do PSDB que não foram solidários com o governador de São Paulo. Traduz o grau de fragmentação política da sociedade brasileira.



Métodos de esquadrões


O diretor de redação do jornal carioca O Dia, Eucimar Oliveira, escreveu para o Observatório da Imprensa:


“Para quem defende os esquadrões da morte, uma lembrança: eles exterminam supostos malfeitores e também quem está por perto para eliminar possíveis testemunhas. Fazem jorrar igualmente o sangue dos inocentes”.



Respostas simétricas


Alberto Dines estabelece uma simetria no comportamento da imprensa paulista e carioca em face de investidas criminosas.


Dines:


– Em março no Rio o Exercito saiu dos quartéis para buscar as armas roubadas pelos traficantes. A imprensa paulista desaprovou, era fácil já que estava confortavelmente instalada a quase 500 quilômetros de distância e podia preocupar-se com aspectos legais e teóricos do episódio. Em suas edições de ontem, ficou visível que a situação inverteu-se com a retaliação da polícia paulista aos ataques do narcoterrorismo dos dias anteriores. Confortavelmente instalado a quase 500 quilômetros de São Paulo, o carioca O Globo usou na manchete a palavra matança numa sutil reprovação à reação da polícia paulista. Oposta foi a posição dos jornalões paulistanos que viveram o sobressalto dos últimos dias: a Folha não mostrou qualquer indício de reprovação: “Polícia prende 24 e mata 33 em 12 horas”. O Estadão também não poderia tomar uma atitude contra os interesses dos seus leitores e mancheteou: “Cidade se acalma; advogada foi a Marcola em avião da PM”. Num subtítulo, como se fosse irrelevância, a informação de que a PM matou 32 traficantes. O bairrismo embutido nas manchetes de março e agora nas manchetes de maio parece ignorar um fato de importância capital: o narcoterrorismo é um problema nacional e importa a todos os brasileiros.



Sem nome próprio


Ampliou-se extraordinamente a cobertura dos grandes jornais. A mídia reage à matança indiscriminada de suspeitos, com ou sem aspas. Mas o assunto é difícil e ainda há muita hesitação. Por exemplo, enquanto os veículos das Organizações Globo adotaram há anos a norma de não citar nomes de facções criminosas, outros não têm esse cuidado. E ninguém sabe dizer quem tem razão.


A favor da Petrobrás


O governador do departamento boliviano de Santa Cruz, Ruben Costas, explicita em entrevista ao La Vanguardia, de Barcelona, o racha social e político na Bolívia. Ele quer a Petrobrás presente.


Saber ouvir


A especialista em relações internacionais Iara Leite, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, Iuperj, critica entrevistas em que o jornalista espera ouvir do entrevistado apenas aquilo que já está no seu roteiro.


Iara:


– A forma mais adequada de a mídia melhorar sua cobertura é buscar se informar, primeiro que tudo. E uma busca de informação pode ser feita em veículos tradicionais, livros, artigos, e na internet, agora, mas também no caso de entrevistas, o que eu tenho observado é que muitas vezes os jornalistas já vêm com uma idéia formada e, portanto, essas perguntas vão se limitar a esse idéia formada e não vão criar a possibilidade de que o entrevistado dê informações mais amplas sobre o assunto.



Contra a hegemonia


O dono da Rede Bandeirantes, Johnny Saad, acusou ontem o Ministério das Comunicações de favorecer a Rede Globo e parceiras dela.


# # #


Leitor, participe: escreva para noradio@ig.com.br.