Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Assistir de camarote é barato
>>PCC escamoteado

Homenagem às raízes


O Brasil homenageia suas origens no apoio do PSDB ao deputado Arlindo Chinaglia, qualquer que seja a metáfora escolhida para descrever o bizarro episódio: um acordo de caciques, ou um acerto entre donatários de capitanias.


Assistir de camarote é barato


Alberto Dines critica os grandes jornais brasileiros por não terem enviado repórteres à Venezuela.


Dines:


– As declarações de Hugo Chávez ao iniciar o seu terceiro mandato como presidente não deixam dúvidas de que o homem está mesmo disposto a acelerar o processo autoritário na vizinha Venezuela. Mas ontem nossos três jornalões nacionais não mandaram ninguém a Caracas para conferir. Fiaram-se apenas no noticiário das agências telegráficas internacionais e na retórica inequívoca do líder venezuelano. Abriram mão do dever de acompanhar os acontecimentos in loco. A desculpa de que foram pegos de surpresa não cola: já na semana passada o delirante Chávez deixara claro que a terceira posse não passaria em brancas nuvens. Então o que aconteceu? Economia. Este é o nome do jogo. Como nesta época do ano caem drasticamente as vendas em banca, os classificados e também os grandes anúncios, os jornais fizeram as contas e concluíram que não compensaria despachar para Caracas um enviado especial. Poderiam ter as notícias e até destacá-las (como efetivamente aconteceu) sem qualquer gasto extra. O curioso é que chegaram à mesma conclusão conjuntamente. Fica a impressão de um acerto prévio e isso enfraquece a imagem de uma imprensa competitiva e plural. Hugo Chávez detesta a imprensa livre e este tipo de sovinice coletiva só reforça o seu arsenal retórico contra o que ele chama de complô da mídia.



A Globo foi a Caracas


Desde anteontem o Jornal Nacional tem o repórter Ernesto Paglia em Caracas. Ontem, ele entrevistou a diretora de jornalismo da mais antiga emissora de televisão da Venezuela, a RCTV, ameaçada de fechamento. A Folha de hoje diz que o presidente Lula criticou Chávez em conversas reservadas. Resta saber o que Lula dirá publicamente quando os dois se encontrarem na semana que vem, no Rio de Janeiro, em reunião do Mercosul.


O SNI vive e atua


Nunca chegou a ser feito um desmonte completo dos antigos serviços de espionagem da ditadura. A Folha noticia hoje que a Abin, sucessora do SNI, quer ter direito de grampear telefones, como se fosse polícia judiciária.


Léo Gilson Ribeiro


Com a morte de Léo Gilson Ribeiro, o jornalismo perde um intelectual que foi referência para várias gerações de leitores.


PCC escamoteado


A repórter da TV Record Fátima Souza foi a primeira pessoa a falar publicamente do PCC, quando trabalhava na TV Bandeirantes. Ela acusa jornalistas e autoridades de insensibilidade e irresponsabilidade.


Fátima:


– É até deselegante para mim, que também faço parte da mídia, também já errei, mas no episódio do PCC o que a mídia fez foi cometer um grande erro. Não é “super” ego, não, mas eu acho que se eu tivesse sido ouvida naquele momento, se o resto da mídia tivesse dado essa força, para que o PCC estivesse rapidamente em todos os jornais, em todas as revistas, em todas as rádios, o governo teria se mexido, teria trabalhado com mais empenho, não teria simplesmente fingido que era um problema que não existia. Tenho certeza absoluta de que se o PCC tivesse sido combatido naquele momento, quando tinha 700 homens, ele não chegaria a ter 130 mil.


Mauro:


– Há contestação a respeito desse número, mas para Fátima o fundo da questão é que os governos tentam negar o que lhes parece incômodo.


Fátima:


– Hoje você tem uma coisa muito alarmante no PCC, mais do que na cadeia, é o PCC aqui do lado de fora. Nós tivemos ataques aqui em maio, que pararam a maior cidade do país, que de repente você via brotar PCCs de todos os cantos, camicases saindo às ruas das favelas, dos bairros, de todos os pontos de São Paulo, dispostos a atacar, detonar, seguir uma liderança. O próprio Estado, durante os ataques, demorou a reagir. A gente estava no 17º ataque, eu estava na porta do Deic, o diretor do Deic, Godofredo Bittencourt, olhou para a minha cara e disse: “Não há nada que comprove que há relação entre os ataques e que são do PCC”. Pelo amor de Deus! Isso é ou não enxergar absolutamente nada, ou fazer um jogo sujo, como fizeram quando morreram 111 e anunciaram que eram 11 até as cinco horas da tarde e terminou a eleição.


Mauro:


– Fátima Souza se refere ao massacre do Carandiru, em 1992. Clique aqui para ler a entrevista completa da jornalista.