Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Um tema raro
>>Jornalistas no comando

Um tema raro


Por motivos diferentes, os três jornais de circulação nacional trazem, nesta quarta-feira, textos sobre inovação, tema raro na imprensa brasileira não especializada.


O Estado de S.Paulo noticia o anúncio, por parte do Ministério de Ciência e Tecnologia, de investimentos no valor de R$ 1,6 bilhão em projetos inovadores nas áreas de energia, nanotecnologia, saúde, defesa e desenvolvimento social.


Parte da iniciativa, segundo o jornal, já havia sido anunciada anteriormente pelo governo.


A novidade destacada pelo Estadão é a subvenção econômica oferecida pelo governo para projetos de inovação, desonerando as empresas do Imposto de Renda e da Contribuição Social sobre Lucro Líquido nos recursos oferecidos como investimento público.


Na Folha de S.Paulo, a referência aparece na reprodução de análises da imprensa internacional, segundo as quais a falta de investimentos em inovação é um dos quatro principais obstáculos que o Brasil enfrenta para realizar seu potencial econômico.


Os outros pontos fracos do País são a educação, a infraestrutura e o baixo reconhecimento internacional de marcas brasileiras, destaca a Folha.


O Globo aborda a questão da inovação na cobertura do 8o. Congresso Internacional Brasil Competitivo, realizado em São Paulo.


O jornal carioca destaca as observações de alguns dos participantes de que o Brasil ainda está longe de alcançar um nível avançado de inovação, em comparação com seus principais competidores entre os emergentes na economia global.


A causa principal, segundo o Globo, seria a burocracia exigida para a abertura de empresas.


Chama atenção a coincidência porque a questão inovação, ponto central em projetos de desenvolvimento sustentável, é tema ausente no noticiário econômico, com exceção dos dois principais jornais especializados, que costumam dar destaque ao assunto periodicamente, Brasil Econômico e Valor Econômico.


No noticiário político, em vez de cobrar dos candidatos um compromisso nesse sentido, os grandes jornais de circulação nacional seguem dando espaço para declarações, trocas de agulhadas e baixarias que de nada servem para o eleitor.


Jornalistas no comando


Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:


– Depois de três meses sem receber salários nem benefícios, com sua empresa editora sob intervenção da justiça trabalhista e enfrentando o jogo pesado dos proprietários do negócio, os jornalistas do jornal Crítica de la Argentina ainda têm forças para resistir.


O diário começou a circular em março de 2008, e logo demarcou um novo referencial na cobertura dos assuntos argentinos. Mal comparando, estava mais próximo da ousadia criativa de um Liberatión que da consistência sisuda de um Le Monde. A independência editorial, exercida num ambiente de crescente esgarçamento das relações entre o governo federal e a mídia crítica, logo cobrou o seu preço.


A publicidade oficial minguou, a discriminação na dotação das verbas ficou cada vez mais evidente, a empresa editora de Crítica foi vendida a um empresário espanhol associado a um argentino, e o caldo definitivamente entornou em maio último, quando o jornal interrompeu a circulação diária e tirou do ar o seu site.


Os jornalistas, no entanto, se mobilizaram, exigiram – e conseguiram – o pagamento dos atrasados que se acumulavam desde outubro do ano passado; foram à Justiça reivindicar seus direitos e, no entremeio, ocuparam a redação da Calle Maipu 271, no centro de Buenos Aires.


Mais do que isso: com o apoio de sindicatos e associações não vinculados ao oficialismo kirchenista, colocaram novamente o jornal na rua, agora sem periodicidade definida. Semana passada começou a circular a terceira edição de resistência, de 40 páginas, com cinco mil exemplares de tiragem. Pouco para a média diária de dez mil exemplares que vendeu em 2009, mas um ato carregado de um profundo significado simbólico.


A edição oferece um cardápio diversificado de bons assuntos e, de quebra, um perfil demolidor de Carlos Mateu, atual presidente da empresa Papel 2.0, dona de direito do Crítica. Dona de direito, porque, de fato, são os jornalistas que estão no comando, fazendo o que melhor sabem fazer: jornalismo.