É a economia, leitor
A questão, presente hoje nos jornais, sobre a possibilidade de ser cortada a ajuda do governo a empresas que promoverem demissões em massa, deve indicar aos leitores a visão que a imprensa brasileira tem sobre os modos de combater a crise financeira e sobre a economia em geral.
Para refrescar a memória: no meio de negociações entre centrais sindicais e representantes da indústria, das quais brotou o entendimento de serem reduzidos temporariamente os salários e a jornada de trabalho em troca da manutenção dos empregos, o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, criticou empresas que, mesmo tendo recebido crédito e incentivos fiscais do governo, estão ameaçando demitir.
O ministro denunciou que alguns empresários anunciam planos de demissão enquanto pressionam por ajuda dos cofres públicos.
Chamou-os de ‘espertos’ e alertou que podem sofrer consequências depois da crise, imagina-se que com o corte de créditos oficiais.
Representantes de 17 das maiores empresas do Brasil se reuniram na Fiesp para apoiar a proposta levada às centrais sindicais, mas a maioria deles rejeita a possibilidade de garantir o emprego em troca dessa redução de custos.
Nenhum dos grandes jornais se lembrou de observar que algumas das empresas presentes ao encontro tiveram no último balanço os maiores lucros de toda a sua existência.
Nenhum jornal também destacou o fato de que alguns setores que engrossam o coro da redução de garantias trabalhistas em função da crise ainda não sentiram nem o cheiro de turbulências.
Há, no meio do noticiário, um artigo na Folha de S.Paulo, de autoria do economista Paulo Nogueira Batista Júnior, no qual ele observa que ‘a turma da bufunfa’ se finge de morta, esperando a tempestade passar, enquanto trabalha nos bastidores para ampliar a socialização do prejuízo.
Os autores e editores das reportagens que circundam o artigo também se ‘fingem de mortos’ e esquecem que algumas das grandes empresas que hoje pressionam pela redução de salários sem qualquer garantia de emprego estavam até algumas semanas atrás na lista dos que se beneficiaram com operações financeiras arriscadas demais.
Jornalistas econômicos costumam lembrar o antigo assessor do ex-presidente Bill Clinton, que em 1992 encerrou uma discussão sobre como derrotar os republicanos declarando: ‘É a economia, estúpido!’.
A frase tem servido como justificativa para todo tipo de desmando em nome da economia.
A crise e a proliferação de ‘espertos’ inspira uma variante: ‘Que economia, estúpido?’
2009, um ano emocionante
A imprensa tradicional não soube se apropriar das novas tecnologias, não conseguiu se adaptar aos novos hábitos e perde espaço na disputa pela atenção do público.
As previsões para o setor de mídia nos Estados Unidos não são das mais otimistas.
Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:
– Os estragos produzidos pela crise financeira global, uma pedra cantada que eclodiu em setembro passado, fará de 2009 um ano dramático para as empresas de comunicação e entretenimento nos Estados Unidos. A previsão é de Douglas McIntyre, editor de um site de informações econômicas produzido em Nova York, especialista na cobertura de negócios de mídia.
Algumas publicações simplesmente vão fechar as portas por falta de compradores ou investidores, outras devem abandonar as edições de papel para concentrar esforços na web; empresas de mídia estão saindo da Bolsa de Nova York, e nas principais cidades onde existem dois jornais diários, pelo menos um deles estará enfrentando problemas seriíssimos de caixa. A venda de anúncios classificados, por exemplo, caiu 30% na Califórnia e na Flórida, dois mercados até então muito poderosos.
No ano passado, as doze maiores revistas americanas perderam, em média, 20% de suas páginas de anúncios. E como a empresas estão prevendo diminuição de gastos em publicidade nos próximos meses, 2009 promete não dar moleza nesse quesito.
Embora sem dados mais recentes sobre o negócio de mídia no Brasil – até porque os balanços das maiores corporações ainda não foram publicados –, a percepção é de que, aqui, o baque da crise financeira será menor, por dois motivos principais: mercado interno ainda em expansão e a pouca exposição das empresas de mídia às armadilhas e, sobretudo, aos delírios do papelório bancário, como foi o caso americano. De todo modo, lá como cá, 2009 promete ser um ano de fortes emoções.