Para ler o Brasil
Dois novos estudos divulgados ontem, publicados hoje com destaque por todos os principais jornais brasileiros, comprovam a permanência dos avanços sociais registrados no Brasil nos últimos anos.
Um deles, realizado pela Fundação Getulio Vargas, indica que a classe média já representa mais da metade da população brasileira.
O outro, desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, da USP, mostra que a taxa de pobreza caiu nas seis maiores regiões metropolitadas do País.
Diferente dos estudos anteriores, que demonstravam resultados das políticas sociais de transferência de renda, desta vez os bons indicadores sociais são produzidos pelo aumento na oferta de empregos formais.
O tema foi tratado não apenas nos jornais, mas também nos sites das revistas semanais de informação, e está presente no material distribuído por agências internacionais de notícias.
Paralelamente, o noticiário econômico ainda traz repercussões do seminário promovido na segunda-feira pela revista Carta Capital, durante o qual o ministro da Fazenda, Guido Mantega, apresentou os resultados da estratégia de combate à inflação.
Tomados como uma cena geral, os dados econômicos e sociais formam um quadro otimista.
Mas, como a função da imprensa não é estender tapetes para governantes, convém observar outros aspectos do noticiário.
Por exemplo, onde estão os sinais de sustentabilidade do bom momento econômico?
A Folha de S.Paulo publica hoje um mapa da violência no município de São Paulo que mostra, pela primeira vez em seis anos, a distribuição dos tipos de crimes por distrito.
Esse tipo de estudo deixou de ser divulgado pelo governo paulista em 2002, o que dificultava as análises do problema da violência por parte da imprensa e dos especialistas.
O cruzamento de dados sobre os ganhos sociais e as características da violência pode orientar melhores políticas de segurança, revelar oportunidades de negócios e ajudar os planejadores urbanos a desenvolver projetos mais adequados às necessidades da população.
Acontece que nem sempre a imprensa oferece uma visão sistêmica dos fatos e suas correlações.
Quando o noticiário vem fragmentado, resta ao leitor desenvolver a capacidade de vincular as diversas frações do jornal para obter o retrato inteiro.
Só assim se pode contruir pontos de vista consistentes.
Ainda a questão do diploma
O longo debate sobre a obrigatoriedade do diploma para o exercício do jornalismo pode estar chegando ao fim.
A questão está pendente de julgamento no Supremo Tribunal Federal.
De um lado, as empresas de comunicação e profissionais de outras especialidades que pretendem atuar como jornalistas.
Do outro, os jornalistas diplomados e as faculdades de comunicação.
O debate é complexo e tem envolvido temas como o futuro da imprensa e a liberdade de expressão, mas também inclui questões menos nobres, como o custo de manutenção das redações.
Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:
– O Supremo Tribunal Federal (STF) deverá decidir, ainda neste semestre, sobre a legalidade ou não da exigência do diploma de curso superior específico para o exercício da profissão de jornalista.
Desde 2001, tramita na Justiça uma ação civil pública, de iniciativa do Ministério Público Federal, contra a exigência do diploma de jornalismo. Em novembro de 2006, o atual presidente do STF, Gilmar Mendes, concedeu uma liminar solicitada pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, que suspendeu a exigência do diploma em jornalismo para a obtenção do registro profissional. A decisão era provisória e o assunto deverá ser debatido em plenário. Agora estamos próximos de uma interpretação definitiva do STF, que julgará o Recurso Extraordinário 511961 interposto pelo Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão no Estado de São Paulo (Sertesp) e pelo Ministério Público Federal.
Este Observatório tem acompanhado de perto a discussão. Na edição online desta semana há um bom material a respeito, além de um dossiê com o que já publicamos sobre o assunto. Confira.
** ‘Os defensores do diploma e seus debates imaginários’
** ‘A necessidade da formação universitária’
** ‘O STF e o jornalismo de qualidade’
** ‘A titulação é necessária?’
** ‘Jornalista não precisa estudar?’