Presidente-candidato
O presidente Lula passou recibo de sua dupla condição ao dizer, no início da entrevista ao Bom Dia, Brasil, da Rede Globo, há pouco, que deveria ter mais do que os vinte minutos dados aos demais candidatos, porque é ao mesmo tempo presidente e candidato. Disse em tom de troça uma grande verdade. Mas essa prerrogativa já lhe é dada dia após dia.
Jornalistas e fontes
Mauro: Dines, você leu os jornais nesta manhã. O que lhe parece?
Dines:
– Eu li os jornais, vi a entrevista do presidente Lula na TV Globo. Do ponto de vista da mídia, e é isso que interessa ao Observatório da Imprensa… alguns leitores de jornais ainda estão cobrando que a mídia está sendo parcial, não está cobrando das autoridades a revelação do teor do dossiê. Isso é uma bobagem. Acho que a mídia está se comportando com muito equilíbrio. Se não fosse a revelação da Época de que ela tinha sido procurada antes ainda da IstoÉ… com isto ficou claro que havia um esquema para peitar a mídia, para intimidar a mídia, e para comprar a mídia, como foi no caso da IstoÉ. Agora, o mais importante que eu vi – pode ser que haja outras coisas – foi a declaração do Mário Simas Filho, redator chefe da IstoÉ, para a Folha de S. Paulo. Isso é uma coisa muito importante, porque o jornalista, realmente, no início comportou-se de uma forma muito reticente, extremamente perigosa, dizendo que não tinha nenhuma responsabilidade, não sabia de nada, antes da assinatura dele na matéria ele não sabia de nada. E agora ele revela que foi procurado pelo assessor do Mercadante e realmente revelou tudo. Acho isso de capital importância. Acaba com esse mito de que jornalista não revela as fontes. Não. Num escândalo desses, se o jornalista não revelar as fontes ele está sendo cúmplice da bandidagem.
Mauro:
– Ele, aliás, podia falar mais um pouco mais da entrevista, porque há informações de que a entrevista foi tumultuada, interrompida, parece que o Vedoin estava negociando o valor da sua participação durante a entrevista.
Dines:
– Exatamente.O que eu acho uma coisa extraordinária – e isso vai obrigar um dia a Veja a revelar como ela obteve, há um ano e meio atrás, aquele vídeo da propina que começou todo o negócio do mensalão – é o jornalista compreender que, quando ele faz uma investigação e uma fonte lhe passa uma informação, ele tem que preservar aquela fonte. Agora, quando os bandidos procuram, como foi este caso e tem sido em outras vezes, o jornalista não pode compactuar com esse tipo de comportamento, porque ele está sujando os próprios procedimentos jornalísticos.
Inclinações de colunistas
Em horas de crise, as inclinações dos colunistas de política ficam mais aparentes. Às vezes no mesmo jornal. Hoje, no Globo, Tereza Cruvinel separa Lula do novo escândalo petista e dá ênfase às previsões palacianas de que as intenções de voto em Lula não se alterarão, embora cite também expectativas otimistas da oposição. Duas páginas adiante, Merval Pereira desenha um mapa das conexões estreitas do presidente com a turma da trapalhada. Merval mostra como é difícil o candidato Lula perder votos para seus opositores, mas termina com previsões acerca de um hipotético segundo turno.
‘Assessor de risco e mídia’
A mídia reproduz sem esmiuçar, às vezes entre aspas, a bizarra denominação da tarefa de Jorge Lorenzetti, petista amigo do presidente envolvido em espionagem paga: “analista de risco e mídia” da campanha pela reeleição. O que pode querer dizer isso? Outros falam em informação e inteligência. Seria melhor dizer desinformação e falta de inteligência.
PCC à espreita
Os novos escândalos políticos ocupam agora as páginas de política. A morte do coronel-deputado Ubiratan Guimarães ocupou durante dias as páginas do noticiário policial. O governo de São Paulo, que manteve a negociação tácita de uma trégua com o PCC, agradece penhorado. Nas cadeias, o PCC aguarda o desenlace da campanha eleitoral em São Paulo e a orientação que será dada à área de segurança. Nenhum preso foi enviado ainda para a penitenciária federal de Catanduvas, no Paraná. A Folha hoje recoloca o PCC em pauta com importante reportagem sobre o planejamento dos atentados de maio.
Ajuda da CBN
Este programa é feito hoje, mais uma vez, nas instalações da Rádio CBN do Rio de Janeiro, graças à ajuda da diretora geral da emissora, Mariza Tavares, do coordenador Alexandre Caroli e dos operadores de áudio Ademil Reis dos Santos e José Augusto Salgado.
De onde vem?
Como no caso do valeriotudo, a grande pergunta é a mais simples, a clássica “de onde saiu o dinheiro?” A origem da dinheirama manipulada pelo lobista Marcos Valério ainda não foi rastreada.
# # #
Outros tópicos recentes
De Alberto Dines
IstoÉ revive jornalismo marrom
O publico como elemento ativo. E consciente
Estranhamento é o caminho da inovação
Do blog Em Cima da Mídia
Mundo digital atropela revistas de História
O Globo tornou mais difícil fugir dos debates