Haverá campanha
Novas pesquisas e o risco de confronto do presidente Lula com a Justiça Eleitoral mudam na mídia a crônica da campanha sucessória. Pode haver mais espaço para discutir idéias e propostas.
Raça sem confronto
Alberto Dines pede que a mídia evite a armadilha do confronto extremado no debate sobre igualdade racial.
Dines:
– Jornais e telejornais já começaram a “guerra das quotas” a propósito dos Projetos de Lei relativos ao Estatuto da Igualdade Racial e da Lei das Quotas. As matérias publicadas refletem as posições aguerridas de dois grupos diametralmente opostos no tocante às estratégias para resolver o grave problema da desigualdade racial. É preciso no entanto que a mídia não caia na armadilha de converter uma divergência metodológica num confronto extremado que venha a prejudicar os objetivos finais da nova legislação. Enquanto um grupo defende como primeiro passo a criação das quotas nas universidades para estudantes negros e indígenas, os antagonistas alegam que as quotas poderão tornar definitiva a separação racial, preferem o sistema de percentuais para estudantes oriundos da escola pública. Este é um debate inédito na vida pública brasileira e que não pode ser desperdiçado e justamente porque é um debate não pode ser convertido num confronto entre duas facções. Debate é para debater, mostrar argumentos, pró e contra e a mídia existe exatamente para isso, para iluminar, mostrar os dois lados e, não, para radicalizar os conflitos. Para começar, sugere-se uma questão mais simples e menos explosiva: afinal quota escreve-se com “q”-“u” ou com “c”-“o” como a mídia por preguiça está preferindo?
A cota conspirativa
O mais importante é que partidários de diferentes soluções divergem quanto ao diagnótisco e quanto aos caminhos, mas convergem na finalidade, que é combater a discriminação, a desigualdade, o preconceito. Na França, por exemplo, o fascistóide Le Pen diz que há negros em excesso na seleção de futebol. Mas no Brasil também se apela para o nacionalismo. Adversários das cotas opinam em páginas de jornal que elas são parte de uma conspiração dos Estados Unidos para solapar o Estado nação brasileiro.
Domésticas
Outro debate que ameaça descambar para o maniqueísmo é o dos benefícios para empregadas domésticas. Não por acaso, profissão em que predominam amplamente mulheres negras e pardas pobres.
TV digital sem debate
Se há um debate unilateral nos noticiários de televisão é sobre a tecnologia e o modelo de negócios adotado pelo governo para a TV digital. Pode ser que o padrão japonês seja o mais conveniente, mas a discussão foi muito restrita. O que complica é que os rivais comerciais das redes de televisão são poderosos grupos de telecomunicação até aqui pouco ou nada preocupados com qualidade de conteúdos e, menos ainda, com bom jornalismo.
Em busca do essencial
A editora de Política do Valor, Maria Cristina Fernandes, revela qual é o foco principal do jornal na cobertura da campanha eleitoral.
Cristina:
– Quando eu comecei a cobrir política encontrei um sujeito que, hoje, vejo quanto foi preciso no que era importante, no que estava em jogo. Ele disse: – Olha, quando eu começo a assessorar um candidato, eu digo para ele, “Pegue o pessoal que está elaborando aquilo que realmente vai dar para fazer, não aquilo que você está prometendo, jogue esse povo para uma sala, tranque lá, dê comida, bebida, telefone, computador, mas não deixe esse pessoal falar com a imprensa”.
São essas pessoas que a gente quer ouvir, porque são essas pessoas que, no final das contas, vão colocar em prática, vão produzir as políticas de governo que na campanha não necessariamente vão ser discutidas, porque nem todas interessam ao eleitor.
No momento atual, em que se está com a questão fiscal em xeque, o tamanho do Estado, o corte de gastos, o futuro da política econômica, tudo isso são questões cruciais que não estão na pauta do debate político. No jornal, o foco é este: descobrir o que será feito no dia primeiro de janeiro e nos dias subseqüentes para resolver a questão do gargalo fiscal, a Previdência, a continuidade do Bolsa Família, essas questões cruciais que estão na pauta do país.
Clique aqui para ler a entrevista completa.
Fronteiras do crime
As autoridades temem nova onda de ataques do PCC. E a linha de demarcação entre polícia e bandidos continua imprecisa. Foi preso, sob a acusação de pertencer a uma quadrilha que agia no Aeroporto de Viracopos, em Campinas, o delegado André Di Rissio. Ele é presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo.
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