A floresta entra na moda
Em meio ao rescaldo do noticiário sobre o apagão de terça-feira, os jornais destacam o anúncio de que o Brasil registrou, entre agosto de 2008 e julho deste ano, o menor índice de desmatamento em 21 anos na Amazônia.
No período anterior, de 2007 a 2008, haviam sido derrubados 13 mil km2 quadrados de florestas. Entre 2008 e 2009, o total ficou em 7.008 km2, ou seja, o desflorestamento foi reduzido em 45,7%.
A conquista é resultado do Plano Amazônia Sustentável, elaborado na gestão de Marina Silva no Ministério do Meio Ambiente.
Não está escrito nos jornais, mas também é preciso registrar o papel da iniciativa privada, coordenada por organizações não governamentais, que fizeram avançar na prática as normas mais rigorosas propostas pela ex-ministra.
O movimento denominado Conexões Sustentáveis São Paulo-Amazônia, por exemplo, congrega quase 600 entidades dedicadas diretamente à preservação da floresta e a outras ações pela sustentabilidade, como o combate ao trabalho escravo.
Esse movimento ajudou a consolidar os pactos de empresas privadas, que também se comprometeram a desestimular o desmatamento para a criação de gado, expansão das lavouras de soja e da cana.
Grandes bancos investiram na criação de fundos para projetos sustentáveis e reduziram a oferta de financiamento de empreendimentos predatórios.
Há sempre muita controvérsia em torno dos números sobre desmatamento, mas, segundo os jornais desta sexta-feira, desta vez há razões convincentes para comemorações.
O sistema Prodes, utilizado para o monitoramento cujos resultados foram agora divulgados, produz imagens de alta resolução e é aceito como uma fonte confiável.
O destaque dado pelos jornais é demonstração de que a Amazônia entrou definitivamente na agenda pública.
Com esses dados, o Brasil pode ingressar na convenção da ONU sobre o clima pela porta da frente.
Difícil vai ser acomodar em Copenhague todos os ecologistas de última hora, políticos oportunistas de todos os naipes recentemente convertidos em pais e mães da floresta.
O apagão da imprensa
Alberto Dines:
– Além da corrida para descobrir as causas do apagão da terça-feira, a mídia está empenhada em, pelo menos, mais uma competição: qual o apagão mais grave, o de Lula ou o de FHC em 2001? Até agora não apareceu um modelo ou aparelho medidor de apagões e, mesmo que apareça, a questão é enganosa, acionada por uma radicalização política que a mídia não deveria encampar.
O que se torna necessário neste momento não é um ranking dos apagões – ou blecautes – mas uma mudança de mentalidade capaz de acrescentar aos grandes projetos sistemas de acompanhamento permanentes. Barragens, estradas, portos, aeroportos, escolas ou hospitais nunca deveriam ser considerados definitivamente prontos. São ações permanentes, contínuas.
A pressa em festejar o fim de uma obra pública leva os políticos a imaginar que a sua missão foi cumprida ao descerrar a respectiva placa comemorativa. Na verdade nosso mal é a febre das inaugurações, a ânsia de cortar fitas sem dar atenção às obras complementares integradoras.
Nossa rede de geração e distribuição de energia elétrica estará sempre defasada e obsoleta se não for permanentemente monitorada, reparada e implementada. Catastróficas enchentes se sucedem em todo o país ao longo do ano provocadas pelas mais variadas causas – sobretudo pelo aquecimento global – mas ninguém vai verificar como está o desempenho das represas e canais recentemente inaugurados para resolver o problema. O sistema de agências reguladoras foi criado justamente para manter alto o padrão de funcionamento dos serviços públicos mas quem regula as agências reguladoras? Teoricamente o legislativo, mas o nosso legislativo está gazeteando há quase um ano. Restam os tribunais de contas, o ministério público e… a mídia. Se a mídia converte tudo numa rinha de galos e esquece de concluir o que levantou na semana passada, fica difícil evitar que os apagões virem moda.