Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Deu no New york Times
>>De olho nas eleições americanas

Deu no New york Times

O interesse da imprensa brasileira pelas eleições nos Estados Unidos é claramente manifesto pelo número de páginas dedicadas nas últimas semanas à disputa eleitoral entre os candidatos presidenciais John McCain e Barack Obama.

A cobertura nacional das eleições americanas chega a detalhes de envolvimento que incluem a publicação da opinião de analistas brasileiros entre os textos simplesmente traduzidos de agências internacionais.

Resultado inevitável da globalização, que se torna mais evidente com as conseqüências da crise financeira de origem americana nos bolsos dos cidadãos brasileiros, o fato é que a imprensa nacional parece ter mudado de atitude com relação às escolhas que os americanos estão fazendo.

De olho nessa tendência, a Folha de S.Paulo lança hoje um suplemento semanal com reportagens do New York Times.

Como era de se esperar, essa edição inaugural é quase completamente dedicada à disputa eleitoral, mas o jornal anuncia que deverá trazer também notícias e análises sobre negócios, arte, ciência e tecnologia.

O movimento da Folha não é inédito. Outros jornais brasileiros têm acordos com a imprensa americana e publicam suplementos do Washington Post e The Wall Street Journal.

Mas o acordo com o New York Times certamente é uma jogada inteligente, ao propor para seus leitores uma segunda-feira mais densa, com uma alternativa para as gordas edições domingueiras.

Num momento em que muitos afirmam que as pessoas não têm mais tempo nem interesse para a leitura de jornais, trata-se de um movimento ousado e uma declaração de confiança na indústria da comunicação.

Seja qual for o resultado da eleição americana, a crise financeira ensina que o leitor brasileiro deverá estar mais atento ao que acontece nos Estados Unidos daqui para a frente.

E o New York Times, ainda que num suplemento de seis páginas, é uma boa fonte de informação.

De olho nas eleições americanas

Alberto Dines:

– Jornais e revistas do último fim de semana estavam empolgados com a disputa pela presidência dos Estados Unidos. Esmeraram-se, ofereceram material em quantidades geralmente reservadas a acontecimentos de alta relevância. Significa então que os leitores brasileiros estão igualmente empolgados pelo duelo entre Barack Obama e John McCain? Há um inusitado interesse no Brasil – como no resto do mundo — pelo pleito de amanhã.

Em primeiro lugar porque o candidato melhor colocado, Barack Obama, tem enorme carisma, retórica fascinante e, além disso, é afro-americano. Em segundo lugar por que o presidente Bush tornou-se uma das figuras mais odiadas do mundo, derrotá-lo tornou-se essencial. Porém a grande maioria dos nossos leitores passará ao largo do farto material oferecido pela mídia impressa sobre a eleição americana, num domingo que além de Dia dos Finados teve a final da Fórmula 1.

Apesar destas distrações, os editores investiram pesadamente no material sobre as presidenciais americanas. Estavam certos. Cabe ao jornal ou revista oferecer aos leitores muito mais do que pedem ou são capazes de absorver. Imprensa é educação, alavanca para o conhecimento. No entanto, há apenas oito anos, novembro de 2000, quando disputavam Al Gore e George W. Bush, nossa imprensa não percebeu a importância do pleito. Para muitos comentaristas brasileiros, os candidatos equivaliam-se, farinha do mesmo saco. Erraram. Al Gore, vice de Bill Clinton foi um dos maiores incentivadores das novas tecnologias de informação e no ano passado ganhou o Nobel da Paz pela cruzada contra o aquecimento global. Bush era o herdeiro de um império petrolífero ultra-reacionário que já elegera o seu pai.

Nosso leitor, mesmo que não seja um expert em questões internacionais precisa ser treinado para enxergar e entender o que se passa no mundo. Ao menos para perceber como estamos distantes.