Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Cacciola ameaça contar tudo
>>Mares ocultos

Luciano:

Os jornais desta segunda-feira não repetem a energia de dias anteriores em relação à agenda que eles mesmos criaram.

As manchetes variam de gastos com seguro-desemprego a rescaldos de notícias do fim de semana sobre o crescimento da renda média dos brasileiros.

Até mesmo o caso Renan Calheiros foi para o pé da página.

Dines:

– A Folha de S.Paulo fez muito bem em convidar Renan Calheiros para escrever um artigo na sua página três de ontem, domingo. Vozes Isoladas é o título do texto que o senador escreveu ou mandou escrever. O político que em apenas quatro meses conseguiu desbancar Paulo Maluf na lista dos mais detestados em todo o país, queria dizer que são vozes isoladas que protestam contra o seu comportamento a frente do Senado. Ora, vozes isoladas não mereceriam o black-out informativo adotado no julgamento há duas semanas, vozes isoladas dispensariam o aparato autoritário, a sessão fechada, o voto secreto. Renan não protestou inocência, não se defendeu porque nem ele acredita nas provas que apresentou. Mesmo hospedado no lugar de honra de um grande jornal que não lhe dá tréguas, Renan queria atacar a imprensa, apenas isso.  O ataque àqueles que, segundo ele, atropelam a opinião pública não é dirigido à oposição, mas à mídia. Renan Calheiros tirou a máscara de democrata lá no finzinho do artigo ao dizer que a imprensa ‘não pode nem irá, jamais, substituir a representatividade do Legislativo.’ Como já se viu, Renan fala mal e escreve ainda pior: duas linhas antes reconheceu que o sistema político-eleitoral está falido. Então, qual a representatividade de um Congresso eleito por um sistema falido? Isso Renan não teve tempo de explicar..

Luciano:

Pouco interesse

As revistas semanais foram com pouco apetite atrás do escândalo Marka-FonteCindam, que renasce com a possível extradição do ex-banqueiro Salvatore Cacciola.

Os jornais também fazem uma cobertura apenas burocrática do processo de extradição, embora o caso de favorecimento possa ter alguma relação com outros escândalos que mobilizaram a imprensa durante meses a fio.



Parece que a possibilidade de passar a limpo o período final do governo Fernando Henrique Cardoso não entusiasma a imprensa.

É como se os jornalistas estivessem desanimados diante da montanha de informações que será preciso revolver para explicar como a mudança na política de câmbio, cobrada durante meses e só realizada depois da reeleição de Fernando Henrique, acabou virando uma ação entre amigos.

O ministro viaja

O noticiário sobre a viagem do ministro da Justiça, Tarso Genro, deixa a impressão de que o governo está mandando um recado.

A rigor, segundo os jornais, a presença do ministro em Montecarlo não acrescenta ao caso mais do que faria um simples carteiro.

Para as autoridades responsáveis pelo caso, bastava que os documentos necessários para analisar o pedido de extradição de Salvatore Cacciola chegassem a tempo.

O ministro já chegou a Montecarlo. Os documentos para a extradição ainda não.

Cacciola ameaça contar tudo

O Globo saiu na frente, em sua edição de domingo, com um alentado levantamento sobre os crimes financeiros ocorridos no Brasil nos  últimos 25 anos.

Segundo as fontes do Globo, calcula-se em quase 51 bilhões de reais o total das perdas causadas à sociedade e aos cofres públicos por trambiques privados em bancos e corretoras.

É um bom começo, mas ainda distante de relacionar os crimes financeiros com a política. Por enquanto, o único banqueiro que já passou uma noite numa prisão brasileira foi o italiano

Salvatore Cacciola, ainda antes do seu julgamento.

Nenhuma prisão de criminoso do colarinho branco aconteceu depois de condenação. Nem um centavo desses muitos bilhões foi devolvido ao tesouro nacional.

Por que investigar?

O caso Marka-FonteCindam pode estar ligado a outros escândalos que atraíram recentemente o forte interesse da imprensa.

Pelo menos é o que insinua o próprio Salvatore Cacciola, no livro que publicou em 2001 para apresentar sua versão do escândalo.

Naquela época, véspera de ano eleitoral, a imprensa deu pouca importância às declarações do ex-banqueiro.



Ninguém quer ouvir

Com a possibilidade da extradição, que deve ser decidida num prazo de quatro a seis semanas, entra em cena um personagem que pode jogar alguma luz em certos episódios recentes da nossa conturbada cena política.

Mas até aqui a imprensa não manifestou grande apetite pelo assunto.

Renan ganha folga

Os jornais desta segunda-feira afrouxaram o noticiário em torno do senador Renan Calheiros.

O Estado de S.Paulo nem cita o presidente do Senado.

O Globo apenas requenta notícias antigas, dizendo que os adversários de Renan apostam nas chances de cassação, por conta do processo pela compra de emissoras de rádio em Alagoas.

A Folha de S.Paulo observa que o presidente do Conselho de Ética está com dificuldades para nomear o relator do processo.

O Conselho de Ética deve se reunir nesta quarta-feira e até lá deve haver um relator para o caso.

Renan luta para ter um aliado conduzindo o julgamento e a oposição não se incomoda com a demora.

Seus adversários querem tempo para mudar as regras e acabar com o voto secreto no plenário.

O pai de todos os mensalões

Os jornais começaram a tratar do chamado ‘mensalão mineiro’, que segundo os petistas deveria se chamar ‘mensalão tucano’, por ter como principal envolvido o senador do PSDB Eduardo Azeredo.

Mas se prestar atenção ao noticiário de hoje, o leitor vai imaginar que se trata do mesmo escândalo que levou ao banco dos réus, no Supremo Tribunal Federal, o ex-ministro José Dirceu e outros ex-dirigentes do PT.

Mares ocultos

O Globo e a Folha colocam no centro do noticiário o ministro das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia.

Mares Guia era vice-governador de Minas Gerais em 1998, Azeredo era governador e candidato à reeleição.

Azeredo teria utilizado para sua campanha, na qual Mares Guia não era candidato, o mesmo esquema que seria depois montado pelo publicitário Marcos Valério para o PT.

Mares Guia é apenas citado por haver emprestado a Azeredo dinheiro que não foi contabilizado na Justiça Eleitoral.



O ex-governador Azeredo, atualmente no Senado, é o suposto beneficiário do esquema.

No entanto, quem está nas manchetes é Mares Guia.

Ainda não deu para entender.