Luciano Martins:
Como não podia deixar de ser, todas as manchetes conduzem ao ‘mensalão’. Mas sobra também para Denise Abreu, a diretora da Agência Nacional de Aviação Civil acusada de haver fraudado um documento para liberar a pista de Congonhas. E Renan segue balançando da corda bamba.
Fala, Dines
Julgamento histórico
Alberto Dines:
– Qualquer que seja a decisão final do Supremo Tribunal Federal na próxima sexta ou eventualmente na segunda-feira o julgamento ontem iniciado já está cumprindo com uma importante função cívica: rememora com minúcias o maior escândalo político brasileiro de todos os tempos e que, dois anos depois de revelado, parecia completamente esquecido. Num país angustiado pela sensação de impunidade este reencontro frontal com a realidade oferecida pelo poder judiciário é uma preciosa dádiva. Tanto a sustentação oral da denúncia do Ministério Público como as veementes defesas dos 14 advogados tentando desqualificar o trabalho do Procurador Geral da República funcionaram como um tônico para os desmemoriados. Mesmo que algumas denúncias não sejam acolhidas pela suprema corte e mesmo que depois de acolhidas sejam julgadas improcedentes pela justiça comum este julgamento é uma exibição solene do funcionamento do Estado de Direito, flagrante da maturidade da nossa democracia. É preciso lembrar que o Procurador Geral da República representa o Estado brasileiro que está acusando formalmente a antiga direção do partido do governo e dois ex-ministros do governo de pertencerem a uma organização criminosa. Não são muitos os países do 1º Mundo que podem exibir procedimentos tão transparentes e tão rigorosos. Está confirmado: este é um julgamento que vai entrar para a história. Qualquer que seja o desfecho.
Luciano:
Um longo processo
A primeira sessão para o julgamento das denúncias contra o ex-ministro José Dirceu, ex-dirigentes do PT e outros envolvidos no escândalo que ficou conhecido como ‘mensalão’ já revela que o espetáculo vai se demorado e vai se desenrolar em câmara lenta.
O número de questões preliminares aportadas pelos advogados dos acusados vai exigir horas e horas de leituras e avaliações por parte do ministro-relator, Joaquim Barbosa, e depois cada uma delas deverá ser votada pelos magistrados.
Os jornais e as emissoras de rádio e TV montaram seus acampamentos dispostos a acompanhar todos os detalhes da contenda judicial.
Mas no primeiro dia de cobertura, a imprensa repete aquele antigo vício de repetir declarações de advogados.
Adivinhe o ouvinte e leitor: todos os advogados declaram que seus clientes são inocentes e que a denúncia do Ministério Público é uma peça de ficção.
Dicionário à mão
A Folha de S.Paulo faz um pequeno relato de como a linguagem dos magistrados dificulta aos leigos o entendimento do que acontece no tribunal. Em determinado trecho, a Folha nos informa, por exemplo, que ‘o excelso pretório, ou augusto sodalício, reuniu-se para analisar a exordial oferecida pelo parquet’.
A Folha também registra que alguns ministros usaram a internet ou a intranet para fazer consultas e para conversas online, enquanto o relator fazia a leitura do processo.
Inconfidências online
Mas é o Globo que faz o serviço completo: o fotógrafo Roberto Stucket Filho postou-se atrás dos magistrados e fotografou as telas dos laptops dos ministros Ricardo Lewandowski e Carmen Lúcia.
Durante as falas do relator, eles trocavam confidências pelo sistema de comunicação interna do tribunal.
Segundo os registros publicados pelo Globo, eles se mostravam impressionados com o desempenho do procurador Antonio Fernando de Souza e até fizeram revelações de como seria o voto do colega Eros Grau.
Tamanha transparência certamente revela a seriedade do tribunal, mas pode produzir efeitos inesperados no processo.
Como a sessão é pública, registre-se que com isso o Globo fez o melhor trabalho jornalístico na cobertura do primeiro dia do julgamento.
Má notícia para Renan
Depois de analisarem com mais cuidado a perícia técnica dos documentos apresentados pelo senador Renan Calheiros em suas defesa, os jornais trazem hoje péssimas notícias para o presidente do Senado.
Segundo os diários, o relatório produzido pelo Instituto Nacional de Criminalística traz indícios de falsidade ideológica, fraude contábil e crimes financeiros.
Os papéis foram entregues ontem ao Supremo Tribunal Federal e as suspeitas deverão ser aprofundados em inquérito, paralelamente aos procedimentos no próprio Senado.
O senador alagoano pode manobrar entre seus pares, mas daqui para a frente seu destino balança no imponderável juizo do STF.
Mais enrolado
O presidente do Senado conseguiu, sem ajuda da Polícia Federal ou de seus adversários políticos, complicar ainda mais sua situação.
Para explicar a falta de fundos suficientes em suas contas bancárias, o senador apresentou como justificativa um empréstimo que teria sido feito por seu primo Tito Uchôa, apontado como testa-de-ferro em seus negócios.
Operação-abafa
O Estado de S.Paulo informa que o senador alagoano segue ainda otimista.
O jornal afirma que uma operação-abafa, envolvendo um número expressivo de senadores oposicionistas, estaria sendo preparado para livrar Renan Calheiros da cassação.
Isso enquanto as atenções estão voltadas para o julgamento do escândalo do ‘mensalão’ no Supremo Tribunal Federal.
Jobim toma as rédeas
Se tiver de fato, como se especula na imprensa, interesse em se candidatar à Presidência da República em 2010, o ministro da Defesa, Nélson Jobim, já escolheu sua primeira arma de campanha: ele pediu à Advocacia Geral da União que sejam indicados três técnicos para a comissão que vai apurar responsabilidades na Anac – Agência Nacional de Aviação Civil.
Como um magistrado, Jobim não citou nomes, mas deixou vazar por meio de assessores que pretende fazer virem à tona os responsáveis pela entrega à Justiça Federal um documento sem valor legal, que acabou levando à liberação da pista principal do aeroporto de Congonhas.
Até aqui, a imprensa tem apostado que a responsável pela irregularidade é a diretora Denise Abreu.
Jobim prefere esperar o resultado das investigações, mas aproveita para faturar os holofotes.
O mercado respira
O noticiário econômico registra o recuo da crise financeira internacional.
A Bovespa subiu 3,87%, começando o que alguns jornalistas especializados dizem ser uma nova etapa de recuperação.
Os jornais observam que o Brasil foi até agora pouco afetado e que o pior momento já passou.
Mônica nua
A Folha de S.Paulo traz fotografias da nudez da jornalista Mônica Veloso, a ex-namorada do senador Renan Calheiros, quem posou para a revista Playboy.
Diz a jovem que não pretende mostrar apenas o corpo que abalou o Senado Federal.
Ela avisa que vai publicar um livro contando coisas sobre Brasília que ninguém jamais ousou revelar.
Será que nossa corte ainda pode surpreender?