Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Sem provas
>>Agências na mira

No olho do furacão

O senador Renan Calheiros começa a semana no olho do furacão.

A entrevista do usineiro alagoano João Lyra à revista Veja, confirmando que Renan era seu sócio oculto na compra de uma emissora de rádio e um jornal, apanha o presidente do Senado em plena mentira.

Ao afirmar que não era dono da rádio, Renan estava usando um argumento formal, já que, de fato, a emissora nunca esteve em seu nome.

Mas a declaração do usineiro, de que se tratava de uma sociedade secreta, desfeita em 2005, deixa o senador em péssimos lençóis.

Renan nunca declarou à Receita Federal nem à Justiça Eleitoral a compra do sistema de comunicações nem a origem do dinheiro aplicado no negócio.

Sem provas

Os jornais informam que o corregedor do Senado, Romeu Tuma, vai convidar o usineiro para explicar como funcionava a sociedade.

Se for confirmado que Renan Calheiros omitiu os negócios ao declarar seus bens antes da eleição, o caminho para sua cassação pode ser muito curto.

João Lyra não vai poupar o presidente do Senado.

Quando iniciaram os negócios secretos em Alagoas, em 1999, eles eram aliados na política do Estado. Hoje são adversários.

No outro caso, aquele com a jornalista Mônica Veloso, que deu início ao seu calvário, Renan também não aparece bem: os jornais informam hoje que a Polícia Federal encontrou inconsistências nas notas fiscais que ele apresentou para justificar sua renda.

Palavra sem valor

Os jornais acrescentam a cada dia uma nova peça no painel da condenação do senador. Desta vez, revelam que a perícia técnica sobre os documentos da venda de gado, que explicariam  seu patrimônio, vai deixar o presidente do Senado sem provas em seu favor.
João Lyra também deverá ser convidado a depor na Comissão de Ética do Senado.
Renan já se antecipa, dizendo ao Globo que se trata apenas da palavra do usineiro contra a dele.

E lembra que ele, Renan, é um senador da República.

Pois parece que é justamente aqui que o presidente do Senado tem seu destino selado: a imprensa apresenta todos os sinais de que a declaração do usineiro foi tomada como verdade. E que a palavra do senador tem cada vez menos valor nas cotações do noticiário.



Trabalho incompleto

Além da entrevista com o usineiro João Lyra, Veja destaca, em reportagem de capa, um levantamento sobre o que seriam, segundo a revista, as causas da impunidade no Brasil, tanto em casos de corrupção como nos de outros crimes, como assassinatos de autoria comprovada.

Mas a reportagem apresenta um quadro parcial da corrupção, colhendo apenas os casos mais recentes e deixando de lado histórias que poderiam ajudar o leitor a entender melhor a profundidade do problema.

Os personagens do chamado mensalão são as estrelas principais da reportagem, que tem ainda como figurantes o deputado Paulo Maluf, o ex-presidente Fernando Collor, o presidente do PMDB paulista, Orestes Quércia, o ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira e o jornalista Antonio Pimenta Neves.

Todos eles são beneficiados pela incapacidade da Justiça brasileira de escapar do emaranhado de recursos interpostos pelos advogados dos acusados.

Mas a reportagem deixa de fora muitos personagens notórios da nossa história recente.

Escorregão fatal

A revista Época traz uma reportagem inquietante para os passageiros de jatos executivos: a tragédia ocasionada no ano passado pelo choque de um jatinho Legacy com o Boeing da Gol pode ter sido provocada por um simples resvalão de um pé num botão.

A tese apresentada pela revista diz que o piloto do Legacy, num momento de descontração durante o vôo, pode ter colocado o pé direito sobre o botão do painel, desligando sem querer o transponder, o aparelho que permitiria visualizar a rota de colisão com o Boeing.

Segundo Época, a FAA, agência federal responsável pela segurança da aviação civil nos Estados Unidos, mandou um alerta oficial à Embraer, fabricante do Legacy, recomendando que a empresa avise a todos os compradores do seu jato executivo que tomem cuidado com os pés.
A informação pode definir as responsabilidades finais pelo acidente, que matou 154 pessoas em setembro do ano passado.

Agências na mira

O Globo reproduz declaração do presidente da Câmara dos Deputados, o petista Arlindo

Chinaglia, reconhecendo que as agências reguladoras, responsáveis pela fiscalização de empresas que atuam em setores importantes da economia, estão cheias de apadrinhados políticos.



Chinaglia, que vai coordenar nesta semana um debate sobre a atuação das agências, entende que elas podem estar sofrendo influências indevidas, que afetariam sua eficiência.

Pelo menos uma delas, a Agência Nacional de Aviação Civil, deve sofrer mudanças profundas.
Os próprios deputados governistas que participam da comissão especial que começa a discutir quarta-feira o destino das agências estão defendendo uma intervenção radical.

Os parlamentares querem acabar com a estabilidade plena dos diretores das agências reguladoras, que não podem ser demitidos, e o estabelecimento de critérios técnicos para a escolha de seus integrantes.

O mínimo que se espera de agências especializadas é que sejam compostas por especialistas.

Mas são necessários muitos transtornos e algumas tragédias para que o Congresso perceba o que o cidadão comum enxerga há muito tempo.