Você e os ouvintes estão de parabéns – o Observatório no rádio já é um sucesso.
Ontem de certa forma você antecipou a cassação do deputado André Luiz. Hoje é imperioso lembrar que há muitos outros parlamentares que não merecem os mandatos que receberam. André Luiz não era um picareta, para usar o adjetivo empregado pelo presidente Lula, André Luiz era bandido mesmo. Se a mídia não ajudar, essa gente continuará no Congresso. Mas não adianta apenas denunciar, a mídia precisa reaprender a insistir, dar continuidade, não abandonar os casos que levanta. A melhor proteção dos bandidos e picaretas é o esquecimento.
Dines, os jornais desta quinta-feira trataram mal de dois fatos conexos a essa cassação, como diria a polícia. Primeiro, que o surgimento do caso do agora ex-deputado André Luiz tem relação com as denúncias contra Waldomiro Diniz, ex-assessor do ministro da Casa Civil, José Dirceu. Nas duas histórias há um personagem comum, que é o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Ou, como preferem O Globo e outros jornais, instruídos por advogados, o empresário de jogos Carlinhos Cachoeira.
O segundo ponto é o seguinte: André Luiz apareceu numa fita de áudio se gabando, por basófia ou para fazer intimidação, de ter matado oito pessoas. A Folha de São Paulo comentou essa denúncia em editorial, em novembro do ano passado.
Mas hoje ninguém relembrou esse episódio.
Também não veio à tona que André Luiz andou pela Comissão de Defesa do Consumidor, onde, segundo uma denúncia publicada em dezembro passado pela revista Exame, vários deputados eleitos pelo Rio de Janeiro e por São Paulo se especializaram em infernizar a vida de empresários e executivos de grandes companhias, apresentando denúncias graves, etc.
Gripe das aves
A revista The Economist abordou na edição de 16 de abril. O jornal Valor traduziu com destaque anteontem, 3 de maio. Trata-se de uma reportagem sobre a gripe das aves que se tornou endêmica na Ásia. Está causando grande prejuízo na Tailândia. Já matou 50 pessoas. A imprensa brasileira não está dando ao assunto a devida importância. A britânica BBC e os maiores jornais dos Estados Unidos não perdem esse problema de vista.
Estudos da Organização Mundial da Saúde contêm previsões assustadoras. O vírus H5N1 poderia matar entre dois milhões e sete milhões e meio de pessoas. Ficariam doentes um bilhão e 200 milhões de pessoas. E esse não é o cálculo mais pessimista.
Noticiar isso é vender jornal fazendo as pessoas terem medo? Não. Um noticiário sério, equilibrado, tecnicamente fundamentado, ajuda a população a cobrar das autoridades as políticas públicas preventivas que estejam ao alcance da tecnologia existente e dos recursos disponíveis.
Eleição britânica
Nem o Estado de S. Paulo, que tem tradição de ser mais antenado em assuntos internacionais, chama na primeira página para a eleição que poderá dar ao trabalhista Tony Blair um inédito terceiro mandato como primeiro-ministro da Inglaterra. Essa eleição, nem é preciso insistir, é de grande importância.
Loteria aplaudida pela Globo
A tevê Globo noticiou ontem à noite com simpatia a nova loteria criada pelo governo, a Timemania. Deu a palavra a Ricardo Teixeira, presidente da CBF. Globo e CBF são parceiras nos contratos de transmissão de jogos.
Na tevê Record, Bóris Casoy condenou com veemência a iniciativa. Disse que é uma vergonha dar dinheiro público para clubes de futebol cujas contas são obscuras. Disse bem.
Notar que entre os cartolas que rodearam o presidente Lula no anúncio dessa nova loteria estava o presidente do Brasiliense, Luiz Estevão, senador cassado por suposta participação no desvio de dinheiro do TRT de São Paulo. Aquele caso do juiz Lalau, ou juiz Nicolau. Assim a gente vê que cassação, só, não quer dizer que o assunto está encerrado. Vários cassados continuam com grande presença na vida pública.