A palavra e o silêncio
O site da revista Veja faz desde ontem uma enquete com a seguinte pergunta: Você acha que o ministro Palocci foi convincente na entrevista de domingo? Até as oito horas desta terça-feira, 23 de agosto, das 7.900 pessoas que haviam respondido, quase 57% diziam que sim, e pouco mais de 43% diziam que Palocci não foi convincente.
O procurador-geral de São Paulo, Rodrigo Pinho, defendeu no domingo os promotores de Ribeirão Preto, mas ontem baixou sigilo. E a Ordem dos Advogados, informa hoje o Ancelmo Gois no Globo, vai representar no Conselho Nacional do Ministério Público contra o promotor Sebastião da Silveira, aquele que virou repórter amador.
Silêncio despreparado
O ministro Palocci se defendeu tão bem, e os jornalistas presentes à coletiva de domingo ficaram tão surpresos, que muitas perguntas importantes deixaram ser feitas. E continuam no noticiário. Principalmente sobre outros contratos feitos durante sua gestão na prefeitura de Ribeirão Preto. A imprensa não faz dever de casa.
Silêncio misterioso
O Alberto Dines informa que o Observatório da Imprensa na televisão desta noite vai discutir como a mídia tenta varrer para debaixo do tapete a crítica que sofre quando pisa na bola.
Dines:
− Mauro, repare no absurdo desta situação: o ministro Antônio Palocci convoca uma inédita entrevista coletiva no domingo por causa das denúncias publicadas por Veja no dia anterior. Isto foi dito por ele na explanação inicial e isto foi registrado nos jornais de domingo quando comunicaram a decisão ministerial de convocar uma coletiva. Durante cerca de dez minutos e pelo menos em três passagens o ministro Palocci referiu-se à imprensa. Pois bem: ontem todos os jornais destacaram em manchete o teor da defesa do ministro da Fazenda, elogiaram a sua competência mas a menção à matéria de Veja ficou escondida e assim também os reparos que fez a outros veículos.
O ministro da Fazenda fala durante duas horas para o grosso da mídia brasileira, rádios e canais por assinatura interrompem sua programação dominical para retransmitir e comentar a entrevista mas o motivo causador desta celeuma é escondido. É sobre estes mistérios que vamos falar hoje no programa Observatório da Imprensa. Às dez e meia da noite pela rede da TVE e às 11 horas na rede Cultura.
Na TV Cultura, economia na madrugada
Dines, você se lembra de um programa da TV Cultura com a Fundação Getúlio Vargas que era transmitido às onze e meia da noite, quando o Observatório da Imprensa o era às dez e meia? Bem, ele ainda existe. Só que agora passou para o horário das duas da manhã. Não, sério, sem brincadeira. Duas da manhã. Como é que alguém consegue ver um programa às duas da manhã e acordar no dia seguinte para trabalhar? Ou será que o programa Conjuntura Econômica é só para quem não trabalha, ou trabalha em outro fuso horário?
PSDB mineiro
Mônica Bergamo noticia na Folha de hoje que uma nova bomba vai explodir no colo do PSDB. O pai do jornalista Chico Pinheiro, Antonio Pinheiro, que era deputado estadual de Minas Gerais em 1994, diz que propuseram à bancada do PSDB 40 mil dólares por mês para aprovar projetos do governo. Em 1994 o governador era Hélio Garcia, no último ano do segundo mandato não consecutivo.
Caipira mexicano
O jornalista brasileiro Wladir Dupont, radicado no México, relata as relações da imprensa com o até recentemente prefeito da Cidade do México Manuel López Obrador, que pretende concorrer à presidência da República pelo Partido de la Revolución Democratica, o PRD.
Diz Dupont que López Obrador sempre apareceu muito, pois é uma figura meio folclórica. Graças ao seu jeitão caipira (é tabasquenho, do estado de Tabasco, sudoeste do país) se comunica bem com os jornalistas, na base de provérbios de sua terra, compensando uma falha natural que o torna um pouco desarticulado. Pontua suas frases com longos silêncios, de repente solta o verbo, a coisa acaba meio confusa, é preciso prestar atenção no que diz. E no que não diz.
Bons colunistas políticos vêem nele um demagogo típico de esquerda, mas como legítimo populista ele vai em frente, não entra em polêmicas inócuas, fala para o povão. Dizem os rumores, segundo Wladir Dupont, que Obrador até já fez um acordo com os donos das televisoras e rádios mais importantes do país para ser notícia dia e noite.