Gostaria de escrever algo bom, positivo, entusiasmante, otimista, mas não posso, pois a realidade não permite máscaras. Quando estamos na fase de transição entre a adolescência e a juventude, pensamos em festas, em baladas, em aproveitar a vida. E aos poucos nos damos conta de que estamos nos tornando homens e mulheres e precisamos de muito mais do que isso. Carecemos de uma profissão, de uma ocupação, algo que nos torne adultos por completo.
Após isso vem a fase da escolha de uma especialidade que se identifique conosco, uma missão difícil. Prestamos vestibulares, iniciamos na faculdade, saímos de casa para encarar a vida sozinhos e iniciar, ou tentar, uma vida independente. Passamos quatro ou cinco anos estudando (alguns não), dormindo poucas horas, comendo miojo, nuggets, sanduíche, lavando nossas próprias roupas, limpando nossa moradia temporária e fazendo amigos que, após a faculdade, provavelmente, nunca mais veremos.
Aí vem a formatura, momento mágico e único, que nos parece abrir a porta para o mundo. Colocamos então o primeiro pé (sempre o direito) neste ‘novo mundo, numa nova etapa de nossas vidas. Nos deparamos com o novo, com o medo, com as incertezas, com a insegurança e com provações, muitas provações. Estamos diante de uma realidade complexa que, na maioria das vezes, não conseguimos compreender: a realidade do mercado de trabalho atual. Ao mesmo tempo em que o mercado exige formação, qualificação profissional e competência, muitos cargos são ocupados através de jogos de interesses. E, assim, não só portas, mas portas e janelas se fecham para muitos e muitos talentos, hoje escondidos, esmagados, soterrados por um sistema.
Nunca é o bastante
Nos últimos dias, revirando coisas do passado, tentando encontrar algo que confortasse a minha realidade, encontrei um CD antigo da banda Legião Urbana. Como se o tempo tivesse parado naquele instante, a letra de uma das musicas me chamou a atenção e confesso que arrancou-me lágrimas. A poesia de Renato Russo diz: ‘Vamos sair, mas não temos mais dinheiro. Os meus amigos todos estão procurando emprego. Voltamos a viver como há dez anos atrás e a cada hora que passa envelhecemos dez semanas’.
Essa é a realidade. Essa é a nossa realidade. Assim como eu, amigos, jovens recém-formados lutam, sofrem, choram, se submetem a quase tudo por uma oportunidade. Mas envelhecem com sonhos e objetivos, muitas vezes frustrados. Muito já ouvi dizer que ‘o mundo é dos espertos’. Mas jamais poderia imaginar que o mundo seria dos espertos e iníquos.
E, deste modo, aqui estamos nós, como tantas fernandas, karines, micheles, elisângelas, flavias, anys, eduardos, joyces, tatianes, lucianas, veridianas, em busca de uma oportunidade para mostrar não o que somos, mas o que poderemos ser como jornalistas, turismólogos, nutricionistas, farmacêuticos, enfermeiros, administradores, advogados.
Mas onde estão as oportunidades?
Para finalizar deixo mais um trecho da música da Legião Urbana que não responde à pergunta acima, mas expressa o meu grito de protesto e de tantos outros. ‘Este é o nosso mundo, o que é demais nunca é o bastante. E a primeira vez é sempre a última chance. Ninguém vê onde chegamos. Os assassinos estão livres, nós não estamos’.
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Jornalista em Realeza, PR