Por falta de assunto
A revista Época merece a duvidosa primazia de ter sido o primeiro
veículo da grande imprensa a oferecer refletores para a brasileira
Andreia Schwartz, depois que foi desmentida a farsa segundo a qual ela
teria sido a responsável pela renúncia do ex-governador do Estado de
Nova York, Eliot Spitzer.
Mesmo duas semanas depois que a revista mensal Joyce Pascovitch
demoliu a história, Época apresenta nesta edição uma entrevista na
qual a jovem aventureira reconstrói o enredo fantasioso que fez
circular na imprensa americana e que foi comprado, com embalagem e
tudo, pela imprensa brasileira.
Com quatro páginas, incluído um ensaio fotográfico conduzido pela
própria entrevistada, Época dá a ela mais espaço do que à reportagem
política da mesma edição, sobre o caso do vazamento de informações
sobre gastos privados com cartões corporativos do governo.
Andreia Schwartz posa de vítima, nega que tenha atuado como prostituta
e cafetina em Nova York.
Disse que apenas apresentava amigas bonitas para homens ricos.
Ela também desmente que tenha sido informante da polícia americana no
escândalo que envolve Eliot Spitzer, versão que ela mesma havia
inventado.
Sobre o patrimônio que acumulou nos Estados Unidos, que foi na sua
maior parte confiscado antes de sua deportação, disse que foi
resultado de presentes ou empréstimos de homens poderosos com os quais
se relacionou.
Na versão comprada pela revista Época, ela é uma vítima dos homens,
que sempre a acostumaram mal.
Entrevistas e perfis são parte do arsenal do jornalismo para levar ao
leitor informações sobre personagens interessantes do cotidiano.
No entanto, devem ser sempre contextualizadas à relevância do
personagem e conduzidas com senso crítico.
Se a revista queria esclarecer a história, que achou interessante,
comeu barriga ao comprar sem reservas a versão da protagonista
Se pretendia ser irônica, faltou talento.
Andreia tem contrato com a revista Playboy para posar nua.
Também pretende lançar um livro em português e inglês, mostrando como
uma jovem brasileira pode se dar bem no exterior.
Época acaba de lhe dar uma bela vitrine.
Talvez por falta de assunto mais interessante.
Cem anos de ABI
A crise no modelo de negócio das empresas de comunicação produziu, ao
longo dos últimos anos, uma série de deficiências que afetam a
qualidade do jornalismo.
Num período mais longo, a imprensa brasileira ainda guarda seqüelas da
censura durante o regime militar e enfrenta o desafio do
desenvolvimento das tecnologias de informação que colocam novos
competidores no mercado, a disputar a atenção de leitores, ouvintes e
telespectadores.
A Associação Brasileira de Imprensa é testemunha e protagonista dessa história.
A entidade, que tem em sua trajetória momentos memoráveis em defesa da
liberdade de expressão, é o tema do Observatório da Imprensa na TV.
Alberto Dines:
– O centenário da ABI não pode ser dissociado do bi-centenário do nosso
jornalismo e da nossa imprensa. Em 1908 quando foi fundada, nossa
imprensa tinha apenas cem anos, a República era muito recente e a
sociedade ainda não havia criado instituições capazes de preencher os
espaços entre os poderes.
A ABI nunca foi um grêmio ou corporação de profissionais, sempre
reuniu jornalistas e donos de jornal em torno de uma idéia que é
garantidora do sistema democrático: a liberdade de expressão. Hoje, no
‘Observatório da Imprensa’ um pedaço desta história. Às 22:40, ao
vivo, pela TV-Cultura e TV-Brasil.