A mídia começa a se mexer
A composição do comando da CPI dos Correios passou a ser o grande Fla-Flu da mídia. Ofuscou até os juros do Copom. Mas o fato de ter presidente e relator ligados ao governo não significa que a CPI deixará de cumprir sua obrigação.
Importante é que os jornais começaram a se mexer e a encontrar nexos sobre os quais a imprensa pisava distraída. Hoje há novas revelações nos principais jornais. Coisas simples, como verificar quantas vezes o publicitário Marcos Valério, citado por Roberto Jefferson, esteve no prédio de Brasília onde funciona o escritório do PT.
Economia ou caso de polícia?
Não deixa de ser curioso que a ação da polícia contra a cervejaria Schincariol tenha sido tratada nos cadernos de economia e não nas seções policiais dos jornais. O problema na Schincariol é policial ou econômico? Ou ambas as coisas? Mas será que os problemas policiais não têm uma face econômica?
A operação foi literalmente cinematográfica. No dia em que proibirem essas filmagens de suspeitos como condenados, será preciso reformular todo o processo de produção de imagens para noticiários.
Explicações da mídia
O Alberto Dines põe em evidência as maneiras distintas como a mídia reagiu a ataques feitos pelo deputado Roberto Jefferson.
Dines:
– Vale a pena examinar as primeiras reações da imprensa às acusações do deputado Roberto Jefferson. O jornal O Globo e a TV Globo saíram-se com muita dignidade. Veja não estava nem aí. E o Estadão, fingindo-se majestático, pareceu envergonhado. Sequer deu-se ao trabalho de registrar as críticas veiculadas pelo presidente do PTB e assistidas por grande parte da sociedade brasileira através da TV. Se o jornalão estava surdo na tarde de terça, pareceu mudo na manhã de quarta. Não deu um pio.
Se as acusações eram mentirosas e de má fé, mais uma razão para refutá-las. Este tipo de atitude só reafirma a imagem arrogante da imprensa.
Jornalismo é um serviço público. E esse serviço não pode dar as costas para o público. Dar satisfações é um dever. Mostrar o rosto é uma obrigação. Mesmo que o reclamante seja um parlamentar com as características de Roberto Jefferson.
O Estadão fala, na terceira pessoa
Pois é, Dines. Nesta quinta-feira, 16 de junho, O Estado de São Paulo trata jornalisticamente dos ataques de Roberto Jefferson à mídia. A reportagem diz ao final que Jefferson caiu em contradição, porque admitiu que procurou o ministro José Dirceu ‘para pedir a ele que interferisse no trabalho das redações e procurasse amenizar as críticas contra ele’, Jefferson. O Estadão fala na terceira pessoa.
A verdade mora num poço, mas o poço tem fundo
Há uma grande lição na decisão da Corte Suprema da Argentina de autorizar a reabertura de processos contra militares acusados de assassinato, tortura e outros crimes.
A lição é que a liberdade e a democracia não convivem bem com áreas de sombra, intocáveis.
Microsoft e censura na China
O jornal inglês The Guardian noticiou ontem que a Microsoft ajuda o governo chinês a bloquear na internet o uso por blogueiros das palavras ‘liberdade’ e ‘democracia’. A empresa desenvolveu para as autoridades chinesas um software que impede o uso dessas e de outras palavras, como, por exemplo, as da expressão ‘direitos humanos’.
Segundo a reportagem, o governo chinês emprega 30.000 arapongas para vigiar a rede de computadores no país. A Microsoft argumenta que, mesmo colaborando com a ditadura chinesa na censura, está ajudando milhões de pessoas a se comunicar e compartilhar histórias. É a tal filosofia da metade do copo cheia, ou vazia. Ora interessa uma metade, ora outra.
Muitas empresas, de muitos países, fecham os olhos para a realidade política da China.
Segurança que funciona
Na história da avó que se passou pela neta para permitir à polícia flagrar um pedófilo na internet se condensa toda uma filosofia de participação dos cidadãos na defesa de seus interesses.
É um caminho oposto ao que trilha o governo da China.