Títulos que distorcem
A Comissão de Constituição e Justiça do Senado aprovou proposta de antecipação da maioridade penal. A mudança, como se sabe, precisa passar pelos plenários do Senado e da Câmara. O que aconteceu ontem está nas primeiras páginas. Mas cada cada jornal dá o título que se casa com suas concepções. Os mais objetivos são o Estadão e a Folha, que apenas registram a decisão da Comissão. O jornal O Dia mente assim, dois pontos: “Cadeia aos 16 anos”. O Globo fica num meio termo maroto. Dá um título otimista na primeira página: “Redução da idade penal passa no primeiro teste no Congresso”, e um título falso, quase igual ao do O Dia, na página 3: “Cadeia mais cedo para menores”.
Berzoini e o controle da mídia
Alberto Dines critica proposta de controle da imprensa formulada anteontem pelo presidente do PT, Ricardo Berzoini.
Dines:
– No mesmo dia em que Ricardo Berzoini e alguns companheiros chamados de aloprados pelo presidente Lula ouviram que o TSE mandou arquivar o caso do dossiê Vedoin, o mesmo Berzoini, na qualidade de presidente do PT, defendeu num seminário o controle da mídia durante as eleições. Isso mesmo: o controle da mídia durante as eleições. Trata-se de uma das propostas mais arbitrárias e estapafúrdias já vocalizadas desde os tempos da ditadura militar. Isso aconteceu na terça. Na quarta os jornais noticiaram a proposta de Berzoini, mas ontem nenhum deles se manifestou. É a tal da apatia. Mas é esta tal da apatia que permite a aceitação de idéias delirantes que depois de serem repetidas, repetidas e repetidas acabam aceitas com a maior naturalidade. O PT nasceu sob o signo da luta contra a ditadura, o presidente Lula declarou num dos debates antes do segundo turno que não fosse a liberdade de expressão não chegaria onde chegou. Mas Berzoini estava muito alegre, não será mais acusado de crime eleitoral, por isso esqueceu seu passado de lutas.
Mauro:
– Hoje, em editorial, o Globo condena a proposta e escreve: “O presidente do PT ficaria bem como delegado da Polícia Federal nos tempos da ditadura, quando era a PF que despachava diariamente para as redações o que não poderia ser divulgado”. A estocada é certeira. Mas diga-se a bem da verdade que o Globo não primou, durante a maior parte da ditadura, pela defesa das liberdades democráticas. Mudou para melhor. Já da direção do PT não se pode dizer a mesma coisa.
A Diarista e Maomé
Na semana passada, o programa A Diarista, da TV Globo, exibiu um quadro em que o profeta Maomé aparecia seminu, cercado de mulheres. Houve críticas da colônia muçulmana no Brasil. O colunista de TV da Folha, Daniel Castro, diz que foi mau gosto. Mas no jornal carioca O Dia, concorrente direto do Globo, o caso já virou o embrião de uma suposta nova guerra santa entre o Islã e a mídia.
Nova revista de História
A mídia impressa ganha mais uma prova de vitalidade dentro de um nicho específico com o lançamento da revista BR História, sucessora da Nossa História. A jornalista Cristiane Costa dirigia a Nossa História e agora dirige a BR História. Ela celebra o nascimento da nova revista:
Cristiane:
– A BR História está no seu primeiro número. O segundo deve sair agora em maio. O primeiro número foi um sucesso. Ficamos até surpresos, porque realmente conseguiu entrar no espaço que a Nossa História deixou. Do fechamento da Nossa História, em dezembro, até ir para as bancas o primeiro número da BR História, em março, foram três meses. Na prática, tivemos quarenta dias para fazer o primeiro número e não tinha nem projeto gráfico, ainda. E aparentemente a revista se firmou, as pessoas gostaram muito, e acho que vai ser um sucesso, se Deus quiser.
Crime organizado
O seqüestro encerrado ontem em Campinas forneceu imagens. Teve destaque na TV. Os jornais paulistas seguiram a mesma lógica. Muito mais importante, e noticiada com menos destaque, foi a prisão de uma quadrilha de seqüestradores sediada no Oeste paulista, ligada ao PCC e que contava com a participação de policiais. Crime organizado, com todos os ingredientes.
BNDES e TV digital
O SBT vai ganhar dinheiro do BNDES para comprar equipamentos de TV digital. Outras emissoras receberão ajuda do banco público.
Chávez e RCTV
Pesquisa feita na Venezuela mostra maioria da população contrária ao fechamento da RCTV, anunciado para 28 de maio. É a emissora mais popular do país. O presidente Hugo Chávez diz que a RCTV participou de tentativa de golpe contra ele em 2002. Mas não houve processo nem julgamento. É uma decisão administrativa do governo.