O diário oficial secreto
Toda a imprensa se rende nesta quinta-feira ao “furo” publicado na véspera pelo jornal O Estado de S.Paulo, dando conta de mais um escândalo no Congresso Nacional.
Desta vez, trata-se de um caso silencioso, ou que se pretendia manter em silêncio: a reportagem do jornal paulista descobriu que o Senado Federal contava, havia dez anos, com o recurso de um “diário oficial” secreto, através do qual eram oficializadas medidas controversas.
A maior parte dessas medidas se referia a nomeações de parentes e amigos dos senadores para cargos bem remunerados e à produção de privilégios, como, por exemplo, o fim da limitação de horas extras.
O caso mais rumoroso descoberto pelo Estadão e agora amplificado pelos outros jornais envolve um neto do presidente do Senado, José Sarney, filho do empresário Fernando Sarney com uma beldade de Brasília, fora do casamento.
Ele havia sido nomeado secretamente para trabalhar no gabinete do senador maranhense Epitácio Cafeteira, e ganhava mais de R$ 7 mil por mês. Depois da exoneração do rapaz, o mesmo sistema de gestão secreta colocou em seu lugar a mãe dele, a ex-amante do filho de Sarney.
Segundo os jornais, já foram identificadas 280 decisões administrativas não publicadas regularmente.
A nova revelação sobre falcatruas no Congresso Nacional mantém no centro do escândalo o presidente do Senado, José Sarney, que desde o início da atual legislatura vem sendo constantemente citado em notícias sobre irregularidades.
Mas o período em que se acumularam as medidas secretas denunciadas pelo Estadão envolve outras figuras notórias da República, como o senador Romeu Tuma, que era secretário geral, e o senador Garibaldi Alves, que era presidente do Senado quando boa parte das decisões secretas foi tomada.
Não se pode apostar que o Senado irá muito longe na apuração das irregularidades.
Mas o episódio revela que, pelo menos desta vez, a imprensa não ficou esperando os vazamentos de informações para fazer bom jornalismo.
Violência de torcidas
Os jornais paulistas registram nesta quinta-feira a libertação dos torcedores corinthianos presos após um confronto violento com uma caravana de torcedores do Vasco da Gama, do Rio, ocorrido pouco antes da partida entre as duas equipes pela Copa do Brasil, na semana passada.
Nenhuma referência às evidências de que o noticiário sobre o episódio pode ter sido completamente distorcido pelas autoridades que acompanharam o incidente.
Passados sete dias do acontecimento, os jornais de papel insistem em ignorar as informações divulgadas por blogs e pelo diário esportivo Lance! indicando que os fatos não correspondem à descrição feita pela polícia e pelo promotor encarregado do caso.
Um torcedor corinthiano, o jovem Clayton Ferreira de Souza, foi morto a facadas e golpes de barras de ferro, num entrevero em que se envolveram 50 membros da facção Gaviões da Rua São Jorge com cerca de 500 vascaínos que ocupavam quinze ônibus.
Mas a polícia deteve apenas os corinthianos, liberando os torcedores do Vasco para assistirem ao jogo no estádio do Pacaembu.
Jornalistas que acompanharam a partida testemunharam declarações de vascaínos se vangloriando da violência e um deles foi filmado exibindo uma carteira de identificação pertencente ao jovem assassinado, como um troféu de guerra.
Alguns desses torcedores tinham as roupas manchadas de sangue.
As autoridades policiais e o Ministério Público não explicam como os prováveis assassinos foram liberados para comemorar o feito no estádio de futebol, enquanto os demais envolvidos, que se encontravam em minoria, foram mantidos na cadeia por uma semana.
Os chamados grandes jornais não fazem perguntas, não duvidam da versão oficial.
Apenas repetem os chavões que revelam o preconceito contra grupos de jovens da periferia vestindo camisetas de times de futebol.
Há entre eles, certamente, desajustados e delinquentes.
Mas a generalização apenas ajuda os criminosos que ainda frequentam os estádios.
No caso ocorrido semana passada, aparentemente protegidos pela polícia e pela omissão da grande imprensa.