Tudo como dantes
Merecem editorial hoje no jornal Valor as notícias sobre loteamento de cargos de segundo e terceiro escalões no governo Lula. Poderiam ser acrescentados governos estaduais. O editorial conclui que “no mínimo, é a demonstração de que os dois anos tomados por CPIs e escândalos foram mera hipocrisia”.
Valerioduto e Banco do Brasil
Surgiu a primeira resposta para a pergunta que não cala: de onde veio o dinheiro do valerioduto? Segundo a Polícia Federal, o esquema que abastecia o mensalão desviou 39 milhões de reais do Banco do Brasil.
Crimes miúdos e graúdos
Em meio a um fluxo constante de notícias ruins sobre violência – como a cota diária de balas erroneamente chamadas de “perdidas” –, há sinais animadores no país.
Ontem o Tribunal Regional Federal da 2 ª Região , Rio e Espírito Santo, confirmou condenação de alguns responsáveis por fraudes no antigo Banco Nacional. E o Senado aprovou legislação mais rigorosa contra crimes financeiros.
Houve um embate entre os senadores Pedro Simon – que defendeu integração entre juízes, promotores e policiais – e Romeu Tuma, que defendeu o velho corporativismo policial, responsável, em parte, pela fragilidade da muitos inquéritos encaminhados à Justiça.
Ontem, também, houve operação contra doleiros e comerciantes de informática, em vários estados, com foco no Rio Grande do Norte e em Pernambuco. Outras operações desse tipo, ainda mais importantes, foram feitas nas últimas semanas. A mídia se limita ao registro clássico. Não dá continuidade ao noticiário.
Previsões de ombudsman
O ombudsman da Folha de S. Paulo, Marcelo Beraba, em fim de mandato, participou ontem à noite do programa de televisão do Observatório da Imprensa. À tarde, ele deu uma entrevista para este site. No final, fez uma previsão.
Beraba:
– Eu tenho uma visão um pouco pessimista. Eu acho que é possível se fazer um bom jornalismo – um país como o Brasil, com o capitalismo que ele tem, com o avanço que ele teve, com a tecnologia que ele tem, com uma sociedade exigente, com uma elevação dos universitários, mesmo com toda a precariedade do ensino –, eu acho que é possível se fazer um jornalismo de qualidade. Agora, eu acho difícil fazer. Porque essa crise que a gente está vivendo, eu não estou vendo como perspectiva se ter como saída dar um salto qualitativo. O que eu vejo é que ela vai ter como saída criar produtos novos, investir em novas frentes.
Para fazer esse jornalismo que eu acho que é possível fazer, no sentido da qualidade, melhorar a qualidade, se teria que ter redações mais fortes do que se tem, mais especializadas, mais experientes – não no sentido de que teria que ser exclusivamente sênior, mas que se tivesse um peso de experiência grande, que sempre foi a fórmula, se ter experientes, especialistas e pessoal novo chegando, com pique, com garra, oxigênio, pernas, essa coisa toda.
Hoje as redações ficaram bastante debilitadas com essa crise toda dos últimos anos. Não estão paralisadas, não estão estagnadas, mas é pontual, é reposição de peça. Não é a idéia de que: Bom, vamos dar um salto de qualidade, vamos novamente no mercado pegar bons, excepcionais – você tem muita gente boa fora.
Eu acho que é possível fazer um bom jornalismo, mas eu acho que nós vamos continuar fazendo esse jornalismo que nós fazemos hoje. Ele é melhor do que nós já fizemos em várias épocas, mas cuja evolução, o ritmo de mudança de qualidade, de qualificação, foi caindo. Há uma evolução, mas essa evolução foi muito maior no início da década de 1980, e depois foi crescendo, crescendo, e acho que de uns cinco anos para cá, por causa de vários fatores, entre eles essa crise toda, houve uma estagnação da melhoria da qualidade desses jornais.
Leia a entrevista ‘Ombudsman da Folha vê com pessimismo futuro de jornais‘.
Bye, bye, Life
Um ícone do jornalismo impresso americano, a revista Life, que já andava mal das pernas, será fechada pela terceira vez, agora definitivamente. Mas, esclareça-se: a tiragem da moribunda Life é de 13 milhões de exemplares.
O racismo é cultural
Prato feito para os oponentes da política de cotas, as declarações da ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria da Igualdade Racial, são exploradas hoje na imprensa como a prova que faltava para condenar as ações afirmativas. Critica-se a ministra por ter confundido raça com etnia, mas ela não falou nem de raça, nem de etnia. Falou de negros e brancos. Conceitos que, como já explicou com clareza neste Observatório o presidente da Biblioteca Nacional, professor Muniz Sodré, não são biológicos, são culturais.
Leia também ‘Questão racial deve ser vista sem subterfúgios‘.