Tuesday, 24 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

Folha de S. Paulo

POLÍTICOS DO BRASIL
Claudio Weber Abramo

Luz sobre o patrimônio

‘Há poucos dias a Folha publicou reportagem a respeito da evolução patrimonial de deputados estaduais do Estado. Revela-se que, em média, os próceres paulistas enriqueceram 40% entre 2002 e 2006.

Como se trata de uma média, isso significa que, se de um lado alguns não enriqueceram nada, outros viram multiplicado seu patrimônio em proporções épicas.

Alguns desses deputados estaduais mantêm atividades extraparlamentares que talvez justifiquem tamanho progresso. Os restantes, porém, não contam com semelhante reforço. Trabalham só na Assembléia Legislativa, o que permite especular que esse deve ser o melhor emprego do mundo.

Quão melhor o leitor de ‘Políticos do Brasil’, de Fernando Rodrigues, poderá avaliar por si só. Rodrigues promove uma longa jornada através do universo patrimonial dos políticos eleitos nas eleições de 1998 e de 2002.

O livro é um verdadeiro tour de force, uma realização por todos os títulos extraordinária pelo volume de dados processados, pelos cuidados metodológicos que cercaram a sua confecção e pela abundância de informações analíticas extraídas dessa massa. Repleta de tabelas com dados agregados e comparativos sobre o patrimônio declarado de políticos federais e estaduais, a obra lança uma luz inédita sobre esse aspecto fundamental da vida pública dos políticos.

No total, são examinadas declarações de patrimônio de 1.780 indivíduos eleitos em 1998 e 1.790 eleitos em 2002.

Incluem-se presidentes da República e seus vices, senadores e seus suplentes, deputados federais, deputados distritais, governadores e vices e deputados estaduais. Dos eleitos em 1998, 976 foram reconduzidos na eleição seguinte (e, portanto, compõem também o total de 1.790 referente a 2002).

Os dados disponíveis não permitiram analisar a evolução patrimonial de todos esses 976 políticos. Conforme Rodrigues reporta, há integridade de dados para 548 deles. É sobre estes que o jornalista se debruçou com especial atenção, disso resultando informações preciosas.

Rodrigues realiza agrupamentos e cruzamentos (como por Estados e por partidos), focaliza grupos especiais (como os milionários), os que ‘se esquecem’ de declarar patrimônio, analisa a ‘classe média’ política (parlamentares com patrimônio declarado de até R$ 500 mil) e muito mais.

O livro não é só feito de tabelas e de suas interpretações. Rodrigues desenha também um panorama original das instituições brasileiras e de alguns de seus piores vícios. Os leitores de sua coluna na Folha sabem que Fernando Rodrigues vê no Brasil um país não apenas atrasado, mas que gosta do atraso. Este livro mostra bastante por que ele pensa assim.

Fernando Rodrigues tem sido uma das principais lideranças brasileiras, diria mesmo a principal, na cobrança de uma regulamentação que obrigue os órgãos públicos de todos os níveis a disponibilizar ao público informação de que são detentores.

Ele é o idealizador e impulsionador do Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas, que reúne diversas entidades (entre as quais a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo e a Transparência Brasil) em torno dessa reivindicação comum.

Sua experiência como repórter mostrou-lhe que, em condições normais, os agentes do Estado não fornecem informação senão quando pressionados muito de perto, e muitas vezes apenas por ordem judicial. As dificuldades, por vezes francamente surrealistas, que Rodrigues enfrentou para coletar os dados apresentados em ‘Políticos do Brasil’ estão exemplificadas no primeiro capítulo do livro.

Se um repórter famoso, de um dos principais veículos de comunicação do país, enfrenta o que ele descreve, imagine-se um cidadão comum.

A resistência oferecida pelos agentes políticos e administrativos brasileiros na prestação de informação sobre o que fazem choca-se com dois dispositivos constitucionais: o art. 5º, inciso 33, que garante a qualquer pessoa acesso a informação detida pelo Estado; e o art. 37, que especifica a publicidade entre um dos deveres basilares do agente estatal.

No entanto, como sabemos todos os brasileiros, em nosso país há leis que ‘grudam’ e leis que não ‘grudam’. Neste caso, a Constituição não ‘grudou’, o que motiva a reivindicação por uma lei que regulamente o acesso a informação pública.

É claro que leis, por si sós, nada significam se não forem acompanhadas de rotinas administrativas destinadas a cumpri-las. Aqui entram em cena as disparidades brasileiras. Uma das mais gritantes, embora muito pouco explicitada pela imprensa, é a que afeta o desenvolvimento das esferas federal, estadual e municipal.

Por mais inadequada que seja a disposição dos órgãos públicos federais dos três Poderes em franquear acesso aos dados que detêm, Brasília está quilômetros à frente dos Estados. E o abismo que separa Estados de municípios mede-se por anos-luz.

O trabalho de Fernando Rodrigues, mesmo com todas as dificuldades que ele relata, não seria sequer imaginável num país que não obrigasse os políticos a depositar num órgão público central informações sobre seu patrimônio.

Quanto mais informação o Estado disponibilizar, mais Fernandos Rodrigues a utilizarão para explicar ao público o que o Estado faz em seu nome.

CLAUDIO WEBER ABRAMO é diretor-executivo da Transparência Brasil, organização dedicada ao combate à corrupção’



TELEVISÃO
Daniel Castro

Globo e Record disputam mercado externo

‘A Globo finalmente encontrou uma concorrente brasileira nas feiras internacionais de televisão: a Record. Pela primeira vez, as duas redes terão estandes de produtoras de grande porte na próxima MipCom, a última grande feira do ano, que acontece em Cannes (França) em outubro e reúne emissoras do mundo todo.

A Record, que já é a segunda maior exportadora de novelas brasileiras, vai expor cinco produtos. Além de ‘A Escrava Isaura’ (já vendida para 16 países), ‘Essas Mulheres’ e ‘Prova de Amor’, oferecerá ‘Bicho do Mato’ e ‘Cidadão Brasileiro’ (que, diferentemente das demais, não terá seu título traduzido literalmente: em inglês, será ‘Scars’, de cicatrizes).

A Globo, que já vendeu novelas para mais de 130 países, investirá na MipCom em um novo filão: a venda de microsséries e seriados para canais pagos e home vídeo no exterior.

Embalada pela carreira internacional de ‘Cidade dos Homens’ (‘City of Men’, já lançada em DVD na França, o que também ocorrerá em setembro nos EUA, onde passa no canal pago Sundance Channel), a Globo oferecerá agora ‘Hoje É Dia de Maria’ (‘Today Is Maria Day’) e ‘Carandiru – Outras Histórias’ (‘Carandiru’).

Entre as novelas, as novidades serão ‘Belíssima’ (idem) e ‘Alma Gêmea’ (‘Soul Mate’). ‘Da Cor do Pecado’ (‘Shades of Sin’), seu maior sucesso recente (25 países), também vai.

VERMELHOAs doações para o Criança Esperança caíram 33%. Foram cerca de R$ 12 milhões, contra R$ 18 milhões em 2005. A Globo detectou que as pessoas continuam solidárias, mas com menos dinheiro: em 2005, predominaram as doações de R$ 30; neste ano, as de R$ 7.

BAIXAS NO GELOFernanda Lima e Tony Garrido desistiram de participar da segunda edição de ‘Dança no Gelo’, quadro campeão de audiência do ‘Domingão do Faustão’. Alegaram o de sempre: problemas de agenda.

SHOW DE CLONESO ‘Domingão do Faustão’ vai promover um concurso nacional para selecionar sósias de Xuxa Meneghel. As escolhidas irão trabalhar no próximo filme da ‘rainha dos baixinhos’.

PRODUTO NACIONAL 1O departamento comercial do SBT chegou a um diagnóstico ‘definitivo’: é mais negócio ter uma novela brasileira dando cinco pontos no Ibope do que uma mexicana registrando dez. A brasileira vende mais.

PRODUTO NACIONAL 2O problema é que o SBT tem contrato com a mexicana Televisa que o impede de encenar textos brasileiros. É por isso que a emissora não produz o remake de ‘Dona Beija’.

EXTREME MAKEOVEROs maldosos de plantão já arrumaram duas ‘explicações’ para o fato de Regina Duarte e Sônia Braga terem ruguinhas sobre o lábio superior: 1) é que as duas são primas em ‘Páginas da Vida’, logo, trata-se de DNA; 2) as duas freqüentam o mesmo cirurgião plástico.’

Laura Mattos

O galã candidato

‘Seis anos após a traumática estréia como mocinho da novela das oito da Globo, Reynaldo Gianecchini decide ser político. Com o sucesso de Pascoal, o mecânico cômico da novela ‘Belíssima’, sente-se mais seguro para adentrar a politicagem brasileira a partir desta sexta, como o protagonista da nova montagem de ‘Sua Excelência, o Candidato’, sucesso teatral dos anos 80. O candidato Gianecchini, 33, quer conquistar as massas, não liga para ‘adversários’ da classe artística que têm preconceito com o que é popular e não é ‘cabeça’. À Folha, além de política, ele fala da pressão imposta pelos próprios colegas, entre eles Carolina Dieckmann (sua mulher em ‘Laços de Família’), que não foi das mais solidárias com o despreparo de Gianecchini para protagonizar a novela.

FOLHA – O convite para a comédia veio graças à novela ‘Belíssima’?

REYNALDO GIANECCHINI – É, acho que ninguém pensava que pudesse fazer comédia, até porque sempre fiz o mocinho, sofredor, príncipe, romântico. Isso devo ao Sílvio [de Abreu, autor de ‘Belíssima’]. Sempre busco uma quebra, não quero fazer só o galã. Não tenho preconceito com a comédia, como muitos de meus colegas, que sempre acham que devem fazer algo mais cabeça. Minhas experiências anteriores foram com diretores de vanguarda, Zé Celso [Martinez Corrêa], Gerald Thomas. Adorava, mas não achava que tinha comunicação total com a platéia. Queria algo popular, que se comunicasse muito com o público.

FOLHA – É melhor desempenhar o papel cômico do que o de mocinho?

GIANECCHINI – É mais divertido. Você pode trazer elementos para compor o cômico. Já o mocinho é flat [chato] nesse sentido. Qualquer coisa a mais fica over.

FOLHA – Entraram mensaleiros, sanguessugas e cuecas na peça?

GIANECCHINI – Incrível, mas não houve adaptação, a não ser de valores. A peça é atual. Fez sucesso há 20 anos, época de esperança louca para o Brasil, todo mundo querendo mudar tudo. Hoje vivemos o oposto, todos sem esperança. Não tenho muito a que me apegar. O partido em que todo mundo depositou as últimas fichas, o PT, foi uma catástrofe. Neste ano, não tenho meu candidato ainda.

FOLHA – Como é o político da peça?

GIANECCHINI – O objetivo principal do texto é o entretenimento mesmo, não é fazer grandes questionamentos. Ninguém quer mudar a vida de ninguém nem sair de lá pensando coisas incríveis. Esse candidato é um espelho do Brasil. Não tem a menor vocação para ser político, mas quer usufruir de tudo o que a política pode lhe dar, do dinheiro às facilidades, tendo sempre essa mentalidade do brasileiro, essa coisa nossa de colonizado, em que impera a corrupção, os pequenos delitos.

FOLHA – Inspirou-se no mensalão?

GIANECCHINI – É um pouco de alguns que foram pegos com a boca no botija. Não gosto de dizer quais. Até fisicamente tem uns em que procurei buscar uma postura. Ele é elegante.

FOLHA – É o Collor? GIANECCHINI – É você que disse [risos]. É, o Collor é um cara elegante e tem carisma. Nesse lado dá para pensar muito nele.

FOLHA – Tem trajetória política?

GIANECCHINI – Não, fiz direito na PUC, mas confesso que não sou politizado. Procuro acompanhar o que acontece para exercer meu direito de cidadão. Não sou a favor do voto nulo, quero votar e para isso pesquiso. Na última eleição, votei no Lula.

FOLHA – Nem nas questões de política cultural você se envolve?

GIANECCHINI – Nunca me envolvi. Acompanho, leio, até porque me interessa. Mas também nunca fui chamado. Acho que sou meio moleque, isso é mais para gente grande [risos].

FOLHA – Seis anos após sua estréia como Edu, de ‘Laços de Família’, como avalia sua trajetória na Globo?

GIANECCHINI – A TV é ingrata, um veículo dificílimo para quem não tem experiência. É tudo contra você, não há tempo para ensaiar, decorar, tem que se virar. Foi muito penoso, estava bem despreparado.

FOLHA – Por que te pôr de cara como protagonista de novela das oito?

GIANECCHINI – Porque tem que trazer gente nova. Fiz um jovem parecido comigo, com a minha idade, uma relação com mulher mais velha. Eles pensam ‘é quase ele’, e na verdade não é bem assim. Essa profissão é muito difícil. E TV é a arte do que dá para fazer naquele momento, com 30 cenas por dia. Penei muito na primeira novela. Fora as críticas, eu mesmo sabia que era insuficiente. Fui correr atrás, estudar. Levo a sério a profissão e o mínimo que espero é respeito, porque não sou um babaquinha. Procuro oferecer o meu melhor. No começo, meu melhor era muito pouco, mas fui aprendendo. Mas ainda tenho o maior medão de fazer teatro.

FOLHA – Você sofreu resistência até de colegas da Globo. Isso mudou?

GIANECCHINI – Podem não me achar bom ator, mas quero respeito por ir lá ralar, buscar algo. Acho que me respeitam mais, mas ainda sinto que tenho que matar um leão por dia.

FOLHA – Houve a história com a Carolina Dieckmann [mulher de Gianecchini em ‘Laços de Família’]…

GIANECCHINI – Falo até para ela. Esse tipo de coisa não sinto mais na Globo. Pelo menos em ‘Belíssima’ parecia que todos estavam no mesmo barco, não me senti posto à prova pelo elenco. Mas isso existe. Essa peça muita gente verá com preconceito porque é popular. Tem muito preconceito na classe artística. Mas o preconceito está aí para ser quebrado.

FOLHA – Quem é mais cruel: o público, a imprensa ou os colegas?

GIANECCHINI – [risos] Difícil, está pau a pau. O público é o menos cruel. Quando gosta gosta. O ator ou o crítico às vezes até gosta, vai à peça, ri, mas aí começa a pensar, fazer mil conjecturas e aí decide que não é boa. Mas no fundo ele gostou.

NA INTERNET – Leia a íntegra em www.folha.com.br/062361

SUA EXCELÊNCIA, O CANDIDATO

Texto: Marcos Caruso, Jandira Martini

Quando: estréia 31/8, para convidados, e 1º/9, às 21h30, para público

Onde: Teatro Vivo (av. Dr. Chucri Zaidan, 860, tel. 0/xx/11/3188-4141)

Quanto: R$ 60 (inteira)’



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Candidato-ator defende legalização da maconha e casamento entre gays

‘Gianecchini topou se imaginar candidato a presidente e encarar questões palpitantes. Faria plebiscito para decidir sobre o aborto, legalizaria a maconha e o casamento entre homossexuais. Leia abaixo.

FOLHA – Você é um candidato de esquerda, centro ou direita?

GIANECCHINI – [pausa] Acho que eu seria de esquerda.

FOLHA – Vai legalizar o aborto?

GIANECCHINI – Ai, meu Deus, tão difícil… Não tenho opinião formada. Ia propor um plebiscito. Isso precisa ser questionado, já que muita gente morre em aborto feito clandestinamente.

FOLHA – É a favor do casamento, da união civil entre homossexuais?

GIANECCHINI – Sou totalmente a favor. Não entendo como o sexo é posto tão em primeiro plano, como as pessoas julgam as outras pelo que elas estão fazendo entre quatro paredes. Para mim, não interessa com quem a pessoa está transando, com homem, mulher, cachorro.

FOLHA – Legalização da maconha?

GIANECCHINI – [pausa] Eu sou a favor. Acho que o álcool tem um efeito muito mais devastador do que a maconha, é muito mais perigoso. Na verdade existe uma lenda dessa coisa de ser maconheiro. Por que não existe isso em relação à bebida? Até o cigarro normal é mais grave do que um cigarrinho de maconha.

FOLHA – Baixar música em sites de troca de arquivo e gravar no Ipod será crime no seu governo?

GIANECCHINI – [pausa] Caramba, que difícil [pausa]. Ai, não sei. A princípio, acho que não. Acho horrível a pirataria, mas [pausa]… Estamos caminhando para outra coisa no futuro. Acho isso diferente de vender filme no camelô. É a evolução de um novo tempo.

FOLHA – Vai manter Gilberto Gil no Ministério da Cultura?

GIANECCHINI – [risos, pausa] Ai, ai, meu Deus [pausa]. Acho que sim. Talvez jogando melhor com o novo governo, com uma mão um pouco mais firme.

FOLHA – Em que áreas iria puxar a orelha dele para mantê-lo no cargo?

GIANECCHINI – Nessa questão do incentivo. Se essa lei não for totalmente reformulada… É tão difícil hoje fazer qualquer peça sem patrocínio, sem apoio.

FOLHA – Manterá a meia-entrada?

GIANECCHINI – Sou totalmente a favor da meia-entrada porque teatro é caro para quem paga. Mas é barato para quem faz. O governo deveria se responsabilizar e não deixar nas costas dos atores, produtores. Paga-se meia a advogado, dentista? Por que só para os atores? É muito difícil fazer teatro no Brasil.

FOLHA – Qual a primeira lei que gostaria de sancionar?

GIANECCHINI – [pausa] Ah, ia puxar a sardinha para a minha área. A lei de incentivo [à cultura] é uma bagunça. Está tão difícil para o teatro. Iria priorizar a cultura e a educação. Ouvi o presidente [Lula] dizer: ‘Temos mais comida hoje em dia’. Está errado. Dando educação e cultura à população automaticamente haverá mais comida.

FOLHA – Se eleito, dará sua primeira entrevista para o ‘Jornal Nacional’?

GIANECCHINI – [risos] Realmente é uma prova de que as coisas estão indo bem para o seu lado. ‘JN’ ou ‘Fantástico’ são de grande tradição. Tomara!

FOLHA – Pensei que a primeira seria para [sua mulher] Marília Gabriela…

GIANECCHINI – Ai, não sei. Adorei as duas vezes em que fui entrevistado por ela, mas sempre é difícil. Sua mulher te entrevistando é uma exposição [risos].’

Nelson de Sá

Como se faz um presidente

‘Um clássico foi obrigado a mudar de nome: ‘Como se faz um deputado’, de França Jr., só estreou em 1882 após virar ‘Como se fazia um deputado’. Veio a República, com ditaduras e democratizações -e o verbo no presente: assim se faz um deputado.

Um século depois, ‘Sua Excelência, o Candidato’ foi um tributo. E também resiste: nasceu sob Sarney, voltou sob FHC e, agora, sob Lula. É Sua Excelência em campanha: os desvios de verba, a propaganda, a fisiologia, o caixa dois.

Até o líder sindical dos hortifrutigranjeiros foge com a verba, ‘pra Suíça!!!’. Depois de peças de choque tipo ‘120 Dias de Sodoma’ chegou a hora, outra vez, de rir da farsa brasileira.’

Bia Abramo

Faltam alternativas ao horário eleitoral

‘DEU AQUI na Folha mesmo, na coluna ‘Outro Canal’ (Ilustrada, 18/8): os dois primeiros dias de propaganda eleitoral fizeram 1,4 milhão de televisores na Grande São Paulo ser desligados entre 20h30 e 21h20. Esse intervalo, considerado o horário nobre da TV, tinha, na terça-feira anterior ao início do horário eleitoral gratuito, registrado 72 pontos de Ibope, na soma de todas as emissoras abertas.

No total, 3,2 milhões de pessoas deixaram de assistir à TV aberta: desse total, 45% desligaram a TV e 55% mantiveram o aparelho ligado, mas em outras mídias, como DVD e games, ou migraram para a TV paga. Sinal dos tempos e da temperatura da campanha, se compararmos com dados do mesmo período de 2002: àquela ocasião, 952 mil domicílios fugiram da propaganda.

Menos do que um sinal de desinteresse pela campanha -embora esse aspecto não deva ser desprezado-, esses números parecem questionar a eficiência do formato que se consagrou como a pedra fundamental do moderno marketing político. Parte do eleitorado decide independentemente do circo armado para a TV e isso, sem ironia, é um signo animador.

Não era, então, a hora de a TV paga aproveitar essa fuga em massa da TV aberta e reservar estréias, inícios de temporada, maratonas especiais de seriados cult? Pois não é o que fazem os canais especializados em séries. Como o período coincide com o verão e as férias no Hemisfério Norte (um momento de hibernação da programação à espera da temporada nobre que inicia no outono), prevalece a lógica de atirar os refugos para o mercado brasileiro que, pelo entusiasmo que se pode medir pela quantidade de blogs e sites de fãs, não deve ser pequeno. Neste ano, por exemplo, o Sony até trouxe quatro seriados novos.

Não era o caso de o AXN preparar uma bela retrospectiva de ‘Lost’, uma das melhores séries em exibição na TV paga, cuja segunda temporada acabou justamente nesta última segunda-feira? Ou de a Warner mexer na grade de programação, que anda alternando mais ou menos os mesmos programas adolescentes ‘The OC’, ‘Smallville’ e ‘Gilmore Girls’ há anos?

As únicas estréias de peso no próximo mês (as novas temporadas de ‘Nip/Tuck’, na Fox, e ‘Monk’, no Universal Channel) por azar, estão fora do horário eleitoral.’



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Clique nos links abaixo para acessar os textos do final de semana selecionados para a seção Entre Aspas.

Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

Carta Capital

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