Ainda as algemas de Dantas
O Estado de S.Paulo promoveu um debate sobre abuso de autoridade e permite, em sua edição de hoje, que os leitores avaliem as opiniões de algumas das principais personalidades do mundo jurídico sobre os limites da ação policial.
Estiveram presentes o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, o procurador-geral da República, Antônio Fernando de Souza, o ministro da Justiça, Tarso Genro, e o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Cezar Britto.
O encontro tratou basicamente de temas como o uso de algemas em alguns casos de prisão e aplicação de escuta telefônica e monitoramento de correspondências eletrônicas, mas sobraram críticas ao comportamento da imprensa no vazamento de informações sigilosas.
Como era de se prever, o presidente do STF criticou o uso indiscriminado de algemas, um dos fatos mais discutidos no episódio recente da prisão do banqueiro Daniel Dantas, do especulador Naji Nahas e do ex-prefeito Celso Pitta.
Também como era de se prever, o presidente da OAB defendeu o projeto de lei, aprovado pelo Congresso, que proíbe a autorização de escuta e monitoramento em imóveis e equipamentos de advogados.
O projeto se encontra no gabinete do presidente da República à espera de uma decisão do Executivo.
Para não ficar de fora do assunto, a Folha de S.Paulo deu destaque à concessão de liminar, pelo Supremo Tribunal Federal, às empresas de telefonia, que com isso não são obrigadas a fornecer aos integrantes da CPI do grampo telefônico os nomes das pessoas cujas comunicações foram investigadas pela Polícia Federal.
A Folha ouviu o presidente do Supremo, o juiz Fausto Martin de Sanctis e outras personalidades, ainda no rastro da Operação Satiagraha, que produziu o entra-e-sai da prisão de Dantas, Nahas e Pitta.
O aspecto mais interessante do noticiário, no entanto, ficou por conta de uma declaração do ministro da Justiça, Tarso Genro, durante o debate no Estadão.
O ministro defendeu um pacto entre o sistema judiciário e a imprensa, para evitar a divulgação de dados caluniosos ou infamantes registrados em comunicações gravadas com autorização judicial.
A proposta não foi sequer respondida pelos debatedores.
Afinal, todos ali sabem que a proteção à informação tem que ser garantida nas instituições policiais, do Ministério Público e do Judiciário, porque, caindo na mão de um jornalista, caiu no mundo.
Jornalismo com barreiras
Todos os grandes jornais inauguraram seus cadernos especiais para a cobertura das Olimpíadas na China.
As emissoras de televisão também já iniciaram suas transmissões dos boletins olímpicos, e a Rede Globo comemora o fato de ser a primeira emissora brasileira escolhida para gerar imagens de um evento dessa magnitude.
Mas será que a imprensa brasileira – e até mesmo a mídia internacional – está preparada para oferecer uma cobertura adequada dos Jogos Olímpicos da China?
O atentado que matou dezesseis policiais num reduto separatista muçulmano a noroeste da China, noticiado hoje, demonstra que o mundo só vai tomar conhecimento de determinados temas sob autorização do governo chinês, através da agência estatal de notícias Nova China.
Ontem, a Globo já havia feito uma reportagem mostrando a dificuldade para obter imagens de treinamentos.
O risco de novas ações terroristas, que cheguem a alcançar o ambiente dos jogos, deve aumentar as restrições ao trabalho dos jornalistas.
E aquilo que vem sendo anunciado como o maior espetáculo esportivo deste início de século pode acabar sendo tão excitante como uma parada militar.
Alberto Dines:
– O esporte é uma simulação pacífica da guerra. Às vezes, nem é pacífica. Olimpíadas em geral celebram a concórdia universal, mas às vezes esta concórdia é sufocada pelas ideologias. Como serão as Olimpíadas que começam na próxima sexta? É possível que a política suba novamente ao pódio, como aconteceu tantas vezes? Hoje à noite no ‘Observatório da Imprensa’ – à meia-noite e dez pela TV-Cultura e ao vivo, às 22:40 pela TV-Brasil.