Wednesday, 25 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O Estado de S. Paulo

ELEIÇÕES 2006
Marco Aurélio Nogueira

O marketing contra a política

‘Pode até ser que os números das pesquisas de intenção de voto se alterem de modo significativo nas próximas semanas, mas isso dificilmente acontecerá por efeito da propaganda eleitoral gratuita de rádio e TV, mantida a formatação por ela exibida desde o dia 15 de agosto.

Temos hoje mais uma boa oportunidade de avaliar o impacto efetivo desta inédita modalidade de propaganda, cantada em verso e prosa como a operação que decidiria em última instância a sorte dos candidatos, especialmente daqueles que disputam cargos executivos. No correr dos últimos pleitos, tem-se apostado tudo, ou quase tudo, no horário gratuito, que funcionaria como um divisor de águas, o patíbulo de alguns e o altar da redenção de outros.

Passam-se os anos e nenhuma avaliação é feita. Será mesmo decisiva a propaganda gratuita? Se sim, sob quais condições? Se não, por que motivos? O suposto tem sido sempre que, dado o alcance do meio (da mídia), quem tiver mais tempo disponível e souber tirar vantagem da exposição tenderá a crescer e a maximizar seus apoios, a ponto de promover reviravoltas surpreendentes ou consolidar posições em definitivo. Em nome dessa suposição, rios de dinheiro e de energia são carreados para o horário gratuito, quase sempre monitorados e direcionados por homens de marketing, mais que por lideranças políticas.

Vista como medida de alto impacto democrático por facilitar a comunicação dos políticos com os cidadãos e abrir espaços para todos os candidatos, a propaganda eleitoral gratuita tem sido interpretada como sendo vítima de uma espécie de efeito perverso não desejado: quanto mais é controlada e formatada tecnicamente (mercadologicamente), mais escapa do discernimento dos políticos, mais os degrada e mais rebaixa o discurso político, fazendo com que a ‘imagem’ seja mais significativa que o ‘conteúdo’. A política, que já não anda muito bem das pernas, ficaria assim irremediavelmente apequenada, entregue a jogos de cena mais ou menos histriônicos, a acusações bombásticas de parte a parte, a revelações surpreendentes e sensacionalistas, a apoios ou traições inusitadas.

Devemos ser realistas, se não quisermos cair prisioneiros de frases de efeito e de elucubrações principistas incapazes de interferir nos espaços efetivos do poder ou de interpretá-lo. Se estamos num mundo cada vez mais ‘visual’ e ‘imagético’, de shows e luzes, de mercado onipresente e marketing permanente, de compra e venda de tudo, poderia a política seguir caminho distinto? Caso tentasse fazer isso, não se condenaria a remar contra a maré e a afastar-se mais ainda dos cidadãos, perdendo uma ótima chance de multiplicar sua mensagem e cumprir uma função?

São ponderações pertinentes, que merecem análise e consideração cuidadosa. Mas também é o caso de perguntar se a política, ao ceder às exigências da época, não estaria correndo o risco de deixar de fazer exatamente aquilo que mais se espera dela: ser um espaço de reflexão crítica sobre o Estado, de agregação cívica de interesses e expectativas, de firme confronto de idéias, não somente de ‘competição pelo voto’. Se a política não puder ser uma perspectiva que aceite o ‘remar contra a maré’ como uma de suas virtudes, que privilegie o debate público como sua razão de ser, que dê mais valor ao Estado e à opinião que ao mercado e aos interesses particulares, que seja uma espécie de viga que não se dobra nem à vontade dos poderosos nem aos hábitos passivos dos cidadãos, então teremos bons motivos para nos preocupar.

O horário gratuito não é um traste inútil ou pernicioso. Tem seus méritos e sua utilidade. Pode, de fato, auxiliar a que se difundam mensagens políticas por este país continental, no qual a população dispersa está midiaticamente conectada, via, sobretudo, rádio e televisão. Em certa medida, ao propiciar isso, pode não apenas democratizar as oportunidades de comunicação política como também ajudar a que os cidadãos escapem do controle unilateral dos poderosos locais, que costumam assediá-los quase sempre de forma não-política.

Nenhuma propaganda opera no vazio, apenas movida a ‘forma’. A comunicação política, se quiser ser democrática e criar vida coletiva, precisa apresentar aos cidadãos um discurso que lhes diga respeito e faça sentido, que dialogue com aquilo que é socialmente relevante, e não somente com o que interessa aos políticos ou ao sistema. Uma política aberta para a cidadania é mais que política dos políticos e mais também que política dos técnicos, com seu bom-mocismo e seu discurso hermético, obcecado pela ‘racionalidade’ e pelos temas gerenciais.

Além do mais, dado justamente o ambiente em que se vive, no qual prevalecem a poluição sonora e visual e a saturação midiática, a propaganda precisa buscar o máximo possível de criatividade. A mesmice a que temos sido expostos ao longo dos últimos anos – e particularmente na campanha atual – pouco produz de positivo. Vira uma espécie de sonífero, que não agrega valor à disputa política e somente consegue, quando muito, a propor aos eleitores alguns rascunhos programáticos que não os educam nem os informam de modo suficiente. São programas chatos na forma e vazios no conteúdo.

Se quisermos descobrir por que a propaganda eleitoral tem sido até agora inócua, bastaria ponderar que, diante de discursos que não lhe falam nem ao coração nem à mente, que oscilam entre a autoglorificação, o radicalismo verbal abstrato e o tecnicismo gerencial, que exibem candidatos pífios e insossos, trucados, desencarnados de partidos ou correntes de idéias, o eleitor optará sempre pelo que já conhece. Portanto, em vez de criar condições para uma reflexão coletiva sobre o País e o mundo, a propaganda acaba por empurrar o eleitor para um conservadorismo defensivo e meio alienado.

Marco Aurélio Nogueira, professor de Teoria Política da Unesp, é autor, entre outros, dos livros Em Defesa da Política (Senac, 2001) e Um Estado para a Sociedade Civil (Cortez, 2004) E-mail: m.a.nogueira@globo.com’

Beatriz Coelho Silva

Artistas criticam defesa aética da reeleição

‘A posição do músico Wagner Tiso e do ator Paulo Betti em encontro recente com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, desprezando a defesa da ética para renovar o apoio à reeleição, provocou forte reação na classe artística. O compositor Raimundo Fagner e o autor de novelas da Rede Globo Aguinaldo Silva concordam que ambos foram infelizes nas declarações, mas o músico foi mais veemente, ao saber que foi acusado por Tiso de ter recebido concessões de rádio e dinheiro por apoiar o PSDB durante os anos 90.

Tiso e Betti haviam dito que as irregularidades praticadas no governo Lula devem ser toleradas, alegando que fazem parte da política.

‘O Lula não tem um nome de peso para defendê-lo e coloca o pobre do Wagner para fazê-lo’, reagiu Fagner, em entrevista ao Estado. ‘Faço política desde sempre, mas nunca fui patrocinado por estatais ou bancos. Meu patrocinador é o povo.’

O músico explicou que tem uma emissora de rádio deficitária em Orós (CE), sua cidade natal, e um projeto social com 400 crianças, premiado pela Unicef e pelo Criança Esperança, da Rede Globo. ‘O que o Wagner Tiso faz na terra dele? Ele é um novato em política e, mal entrou no ônibus e já quer ir na janela.’ Ele declarou voto na candidata Heloísa Helena (PSOL).

Sobre Lula, Fagner diz que há mérito em ‘tirar a sujeira do tapete’, mas alfinetou: ‘Sua preocupação social é importante, mas ele está criando uma ditadura de esquerda.’

Silva também foi contundente. ‘Se eles não estão nem aí para a ética, o País vira um pântano, pois a ética é o pilar de tudo’, disse. ‘Se Betti acredita que para fazer política é preciso sujar as mãos, quando um artista se mete no assunto, se suja e ainda diz besteira.’ Ele diz que não votará neste ano. ‘Tenho 63 anos sempre me decepcionei com os candidatos que elegi. Por isso, vou radicalizar’, completa.

Após a repercussão, Tiso e Betti alegaram que foram mal interpretados e suas palavras foram usadas fora do contexto.’

Aluízio Falcão

Campanha e costumes brasileiros

‘A campanha eleitoral abriu as asas sobre nós. Somos todos livres para teorizar a respeito dos costumes políticos. Aí estão, pela ordem de importância, como nos filmes, os atores principais da questão: candidatos à presidência e governos estaduais, aspirantes ao poder legislativo e lideranças partidárias. Depois, apenas como figurantes, quase invisíveis para o público, as figuras complementares de militantes e cabos eleitorais.

Aqui me detenho muito mais nestes últimos para compensar o espaço que lhes falta na mídia em geral. Devo dizer honestamente que não me agradam os militantes. E não me agradam exatamente pelo que eles proclamam ser a sua principal qualidade, pinçada em alfarrábios de Eduardo Galeano. A tal ‘virtude’ estabelece que os seus portadores ‘não perderam a capacidade de indignação’. Ora, para mim e para muitos, isso não é virtude. Em lugar da ‘indignação cívica’, irmã gêmea da demagogia, por que não usar apenas o voto consciente?

O que escrevo não é politicamente correto, agride um clichê sacralizado, mas tem apoio no bom senso. Quem pode gostar de pessoas indignadas? Elas provocam brigas no trânsito, nos estádios, nos bares, nas ruas. Às vezes, em casos extremos, tocam fogo em ônibus e atiram em policiais. Já os seus opostos, aqueles que graças a Deus (ou aos terapeutas) perderam a capacidade de indignação, destacam-se pelo equilíbrio, são criaturas de fácil convívio. Para usar uma expressão abominável e bastante útil ao entendimento do meu ponto de vista, são ‘pessoas do bem’.

Não sou cientista político e isso me obriga a ser claro nas digressões. Ao cientista político é dado o direito de escrever complicado. A mim, pobre de mim, cabe o dever da nitidez – o que me expõe à fúria de militantes no exercício de sua famosa capacidade de indignação. Militantes não admitem censuras, exaltam-se com facilidade, podem a qualquer momento quebrar sua bandeira ou bengala na minha cabeça. Já fizeram isso com Mário Covas e tentaram fazer com o José Dirceu. Há militantes por aí tudo: partidos políticos, torcidas organizadas, platéias de CPIs, religiões, ONGs, UDR e MST.

Nos partidos, prefiro os cabos eleitorais. Para o bom exercício de suas funções, eles tratam logo de baixar o potencial de revolta e refinar uma nata habilidade para fingir simpatia. Na hierarquia das campanhas estão muito abaixo dos militantes. Desprezam espaço nos palanques. É natural, eles não têm ídolos. Olham para os candidatos como contratantes de serviços prestados com eficiência e pragmatismo. Cabos eleitorais não enjeitam tarefas, por mais humilhantes que sejam, como a de servir de ‘camelos’. Camelos, caro leitor, são os caras que enfiam o pescoço entre as pernas de candidatos e vão carregando suas excelências, que acenam ou fazem o ‘V’ da vitória. Cabos eleitorais assumem tarefas que militantes julgam incompatíveis com o seu status de homens de idéias.

A modernidade quer tomar os empregos desses laboriosos praticantes do civismo de resultados. Li um anúncio que oferece cabos eleitorais digitais, capazes de encaminhar mensagens, montar sites ou blogs e até fazer pesquisas de opinião. O texto fala em ‘impactar com ética’ os eleitores e vai logo oferecendo aos usuários, como ‘promoção’, 15% de desconto e mais 60 mil e-mails. Na campanha em curso já se adota panfletagem online, com vídeos no YouTube e infiltração de correligionários no Orkut.

E os candidatos? No Brasil de hoje os aspirantes à presidência apontam como paradigma o falecido presidente Juscelino Kubitschek. Cinqüenta anos depois da posse do mineiro, e apenas seis meses depois da vitoriosa minissérie da Rede Globo, Alckmin afirma que vai copiar-lhe a obsessão pelo desenvolvimento e Lula se diz tão agredido quanto ele foi nos idos de 50. Ficariam ainda mais próximos do sorridente e cordial mandatário se renunciassem totalmente à apologia da fúria, estratégia principalmente recomendável para a dra. Heloísa Helena, sempre à beira de um ataque de nervos.

Falemos um pouco mais de JK, figura tão interessante quanto deformada pelo estereótipo. Nenhum novo líder o imita naquilo que foi mais humano em sua personalidade. Exemplos? O gosto pela boêmia e pela mulher do próximo. Estas suas fraquezas reais, hoje quase esquecidas, não eram mencionadas pelos opositores daquele tempo, que preferiam inventar defeitos. Mas, como está bem provado no livro JK – O Artista do Impossível, de Cláudio Bojunga, seu biógrafo definitivo, ele jamais foi corrupto, inventor da inflação ou entreguista.

Depois de 64, os militares vasculharam brutalmente a sua vida e não acharam nada que o desabonasse. Quanto ao ‘entreguismo’, diferentemente de outros governantes brasileiros, não foi um nacionalista no sentido antigo da palavra. Soube perceber que era melhor para o Brasil atrair investimentos estrangeiros do que tomar empréstimos. Inflação? De fato, não quis pagar o preço político de um duro programa de estabilidade e, no que se refere a gastos públicos, relutou em contê-los. Passou à história o seu diálogo com Salazar, quando o primeiro-ministro português recomendou medidas implacáveis de redução de despesas. JK perguntou-lhe quanto tempo esperaria para colher os frutos da receita e Salazar calculou cinco anos. Comentário posterior do brasileiro: ‘O velho quis me proibir de gastar, a única coisa que sei fazer bem.’ Não aconteceu, porém, em seu governo, descontrole semelhante ao que houve antes e depois dele.

ECONOMIA DA CONFIANÇA

Thomas Skidmore descreve a era kubitschekiana sob o título ‘A Economia da Confiança’ e oferece números extremamente positivos. De 1957 a 1961, a taxa de crescimento real no Brasil foi de 7% ao ano. Em seu mandato a expansão industrial evoluiu 80%, com porcentagens de crescimento setorial jamais igualadas. Vejam só: crescimento da indústria do aço, 100%; indústrias mecânicas, 125%; indústrias elétricas e de comunicações, 380%; e indústrias de equipamentos e transportes, 600%.

Juscelino Kubitschek de Oliveira bateu recordes ainda não superados em matéria de desenvolvimento e governou sem rancores, mesmo sob o fogo de violentas injúrias. Mas, a rigor, não se preocupou em mudar os costumes de governança e atuação nas campanhas. Foi um político tradicional ou, para usar os termos próprios, emérito ilusionista. Para ilustrar este aspecto basta um episódio narrado por Flávio Tavares em seu best seller O Dia em Que Getúlio Matou Allende – e outras novelas do poder.

Em resumo, deu-se que Juscelino, quando prefeito de Belo Horizonte e governador de Minas manteve o hábito de visitar bairros populares e promover incríveis ‘audiências públicas’. Antes de aplicar o seu método, JK instruíra o chefe de gabinete, dr. Oswaldo Penido, homem de boa caligrafia e boa fé, para acompanhá-lo nestas andanças, munido de uma caderneta preta, onde anotaria detalhadamente as queixas e reivindicações apresentadas. Eram muitas e bem se pode imaginar o terrível esforço do dr. Penido para registrar, com a sua letra invejável, as demandas do povão encantado com aquele governante afável, que repetia sem parar: ‘Dr. Penido, anote aí, com todo cuidado, para as devidas providências!’

Espalhou-se a notícia por todos os cantos: o doutor Juscelino era uma santa criatura. Gostava dos humildes, ouvia suas lamúrias, determinava tomar nota de seus pedidos e atendê-los com a máxima rapidez. Até o endereço dos pobres ele mandava escrever na famosa caderneta preta. Não se falava noutra coisa, quando o assunto era eleição. Mesmo aqueles que não tinham nada a reivindicar se emocionavam com a generosidade do novo político e decidiam votar nele.

Até que um dia, tendo a caderneta inteiramente preenchida, o dr. Oswaldo Penido foi ao chefe pedir instruções para encaminhar os pedidos. Homem prudente, como é próprio dos mineiros cultos, Penido não cobrou providências. Iniciou o diálogo com uma informação: ‘Dr. Juscelino, a caderneta está cheia, não cabe mais pedidos…’ JK, tranqüilamente, apenas perguntou ‘e daí?’, ao que o homem de boa fé e boa caligrafia replicou: ‘O que faço eu se a caderneta acabou?’ E JK, sem hesitação: ‘Uai, joga fora e compra outra!…’’



CHINA vs. NYT
Jim Yardley e Joseph Kahn

Corte chinesa condena colaborador do ‘NYT’

‘Um tribunal de Pequim inesperadamente rejeitou ontem uma acusação de divulgação de segredos de Estado contra um pesquisador do New York Times na China. O tribunal inocentou o pesquisador, Zhao Yan, de 44 anos, de uma pena de 10 anos ou mais por espionagem, mas o condenou a 3 anos de prisão por fraude.

O veredicto do caso de divulgação de segredo serviu como uma rejeição cabal da investigação empreendida por agentes de segurança do governo. Os agentes começaram detendo Zhao há quase dois anos sob a acusação de vazar segredos de Estado para o NYT. Ele sempre se declarou inocente de ambas as acusações. ‘Na acusação(…), as evidências são insuficientes’, diz a decisão do tribunal. ‘A acusação por esse crime não se sustenta, e esta corte não a aceita.’

O principal advogado de defesa de Zhao, Mo Shaoping, disse: ‘Esta é a maneira como eles proclamam alguém inocente.’ O caso atraiu atenção internacional e o próprio presidente americano, George W. Bush, chegou a exercer pressão sobre autoridades chinesas. O veredicto foi adiado, e alguns especialistas em assuntos legais sugeriram que o resultado final seria tanto uma decisão política por autoridades de alto escalão do governo, como jurídica.

Mo disse ontem que os promotores teriam 10 dias para decidir se vão apelar do veredicto de inocência na acusação de vazar segredos de Estado numa instância superior. Ele e outro advogado de defesa, Guan Anping, disseram que iam se reunir com Zhao para decidir sobre uma apelação da condenação no caso de fraude. Os advogados sugeriram que isso era provável. ‘Não estou satisfeita’, disse a irmã do condenado, Zhao Kun.

Zhao, que já havia sido um jornalista investigativo para muitas publicações chinesas, está preso desde setembro de 2004. Pela lei chinesa, o tempo que ele já ficou preso contará para o cumprimento da pena. Mo disse que considerando a sentença, ele seria solto em 15 de setembro de 2007.

Zhao entrou no escritório de Pequim do New York Times como pesquisador em abril de 2004. O NYT tem negado sistematicamente que ele tenha passado qualquer segredo de Estado para o jornal. ‘Se o veredicto é o que parece ser, nós o consideramos uma confirmação disso’, disse o editor-executivo do NYT, Bill Keller. ‘Nós sempre dissemos que até onde sabemos a única coisa que Zhao Yan praticou foi jornalismo.’

Num outro caso acompanhado com atenção, um tribunal chinês da Província de Shangdong julgou na quinta-feira um defensor de agricultores e o condenou a mais de 4 anos de prisão. Chen Guangcheng, um homem cego, tentava mover uma ação de classe em favor de mulheres que foram sujeitas a abortos forçados. Seu caso, como o de Zhao, era considerado um teste do sistema legal da China, e sua equipe de defesa descreveu a condenação como uma vergonha.

Na quinta-feira, Chen foi condenado por destruir propriedade e organizar uma manifestação para bloquear o tráfego. Ele conquistou a inimizade dos líderes locais do Partido Comunista na Província de Shangdong ( leste), quando tentava organizar uma ação judicial contra esterilizações e abortos forçados ali praticados.

O julgamento de duas horas de Chen e a longa sentença parecem refletir um esforço concertado das autoridades para punir advogados que nos últimos anos têm ajudado a defender pessoas em casos de expropriação de terras, abusos ambientais, perseguição religiosa e controles populacionais.

Os advogados e defensores de direitos humanos chineses acreditam que o presidente Hu Jintao ordenou uma ampla repressão a pessoas que se chamam ‘defensoras de direitos’ por temer que elas possam usar pressões legais para minar o poder do Partido Comunista.

O caso de Chen, um agricultor de 34 anos, foi um choque especial para a comunidade que defende direitos jurídicos e humanos. Além da acusação, chamou a atenção o fato de que três de seus advogados foram presos antes do julgamento.’



MERCADO EDITORIAL
Renato Cruz

Jornais se reinventam na web

‘‘Quem matou os jornais impressos?’, pergunta a capa da edição mais recente da revista The Economist. Resposta: a internet. Na verdade, a morte ainda não aconteceu. Nem ninguém espera que aconteça de uma hora para outra. Mas a migração de leitores e de anúncios do meio impresso para o eletrônico é um fenômeno que já deixa marcas profundas no mercado de comunicação, aqui e em outros países.

‘De todos os meios ‘antigos’, os jornais são os que têm mais a perder para a internet’, aponta a revista. ‘A circulação tem caído nos Estados Unidos, na Europa ocidental, na América Latina, na Austrália e na Nova Zelândia (nos outros lugares, as vendas sobem).’ No Brasil, a circulação média diária de jornais, que estava em 7,883 milhões no ano 2000, passou para 6,789 milhões em 2005, uma queda de 13,9%, segundo a Associação Nacional de Jornais (ANJ). A Economist cita o livro The Vanishing Newspaper, em que Philip Meyer calcula que o jornal impresso acabará nos Estados Unidos no primeiro trimestre de 2043, ‘quando o último leitor cansado colocar de lado a última edição amarrotada’.

Na verdade, assim como os leitores e os anúncios, os jornais migram para a rede mundial. O difícil é encontrar a estratégia certa para isso. ‘A salvação para o jornal impresso é a própria web – que muitos acusam de matá-lo. O futuro dirá…’, escreve Eliana, leitora de um blog no Portal Estadão, comentando o tema. Ainda não se vêem muitos jornais fechando, mas os empregos já desaparecem. De acordo com a Newspaper Association of America, citada pela revista, o total de empregados do setor caiu 18% entre 1990 e 2004.

A Economist destaca um caso de sucesso. As operações de internet da norueguesa Schibsted responderam por 35% do lucro operacional da empresa no ano passado. Há cinco anos, eram deficitárias. A Schibsted aproveitou o prestígio de suas marcas do mundo impresso para criar os dois sites de maior audiência na Escandinávia. Ela também criou novas marcas, como o serviço de buscas Sesam e o portal de anúncios Finn.no. Ano passado foi o melhor da história da empresa em receitas e lucros.

A Schibsted, no entanto, é exceção no mercado mundial. O modelo tradicional dos jornais, de vender leitores aos anunciantes, não pode ser transportado diretamente à internet. Os classificados migram rapidamente para a internet. A consultoria iMedia prevê, segundo a revista, que um quarto dos classificados impressos vai migrar para o mundo digital nos próximos 10 anos. A participação dos jornais no mercado mundial de publicidade caiu de 36% em 1995 para 30% em 2005. Mais cinco pontos porcentuais devem ser perdidos até 2015.

O problema é que o valor do internauta para o anunciante não é o mesmo que do leitor do impresso. A Economist cita estimativa de Vin Crosbie, da consultoria Digital Deliverance, para quem os jornais precisam de 20 a 100 leitores online para compensar a perda de somente um leitor do impresso. As pessoas lêem menos páginas na internet que no jornal de papel. Além disso, é muito mais fácil de qualificar o assinante que o internauta, muitas vezes um leitor casual, trazido por um mecanismo de busca.

A experiência mundial mostra a necessidade de adaptar o conteúdo. Em tempos de internet, o leitor estaria mais interessado em informações que melhorem a sua vida pessoal e no noticiário local. ‘Eles normalmente querem mais dos nossos suplementos de casa e cozinha e menos Hezbollah e terremotos’, afirma à Economist Marcelo Rech, editor do Zero Hora, sobre uma pesquisa diária com leitores.

Além da migração para a internet, os grupos tradicionais enfrentam o fenômeno dos jornais gratuitos. A sueca Metro International, pioneira deste mercado, estima que são impressas 28 milhões de cópias por dia de jornais gratuitos. Na Europa, eles já respondem por 16% da circulação.’



INTERNET
Graziella Valenti

Telefônica quer banda larga sem fio

‘O presidente do Grupo Telefônica no Brasil, Fernando Xavier Ferreira, defende o leilão das freqüências para banda larga sem fio, com tecnologia WiMax, para todos os participantes do mercado. ‘Em nenhum outro lugar do mundo onde este processo já ocorreu as concessionárias tiveram que ficar de fora’, afirmou o executivo, em entrevista ao Estado.

Pelas regras estabelecidas pela Anatel, a Telefônica, aTelemar e a Brasil Telecom não podem adquirir frequências para a sua área de concessão, somente fora de suas regiões. No entanto, as companhias não concordaram com essa restrição e solicitaram a modificação das condições, não tendo sido atendidas pela agência reguladora.

O presidente da Telefônica afirma que nenhuma das operadoras solicitou o envolvimento do Ministério das Comunicações nesse assunto. Segundo ele, foi por livre iniciativa que Hélio Costa entrou no debate e o próprio ministro abriu as portas às companhias para discutir a questão. O ministro pretende interferir no entendimento da Anatel e já possuiria, inclusive, uma portaria para adiar a licitação, prevista para 18 de setembro. O questionamento está provocando amplo debate sobre a intervenção do ministério no órgão regulador. Xavier não quis se pronunciar sobre o assunto.

Segundo o executivo, o objetivo da empresa não é proteger seu mercado do aumento da concorrência em banda larga, como acredita parte do setor. Com essa tecnologia, a Telefônica poderia tornar viável a oferta do serviço em áreas mais remotas que hoje não têm essa alternativa. A implantação aérea é substancialmente mais viável e menos custosa do que por meio terrestre – fios e fibras. ‘Para nós, esse leilão é importante e temos interesses. Não se garante competição por simples protecionismo. Não podemos abdicar de defender uma concorrência saudável.’

Além disso, ele diz que a concessionária, como uma sociedade cujos bens são reversíveis à União, precisa ser vista como instrumento para promover o bem-estar social. ‘Você não pode nunca inviabilizar este instrumento. Ele tem de estar sempre saudável e garantir os serviços à enorme parcela da população que é atendida por força das regras de universalização.’ Na opinião do executivo, se a intenção da Anatel é garantir a capacidade competitiva de novos concorrentes, a agência tem condições de atingir essa meta sem impedir a participação das operadoras locais.’



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Além de voz e dados, objetivo é oferecer vídeo

‘O presidente do Grupo Telefônica no Brasil, Fernando Xavier, afirma que o objetivo da empresa ao solicitar uma licença de satélite (DTH) para operação de TV por assinatura é alcançar o modelo triple play – provedor único de voz, banda larga e TV. Para ele, é natural que as companhias de cabo ofereçam voz, assim como é perfeitamente correto que as concessionárias atuem no segmento de TV. Inicialmente, o serviço deverá ser oferecido na região da empresa – o Estado de São Paulo. Mais à frente, segundo o executivo, será estudada a possibilidade de extensão para outros Estados: ‘Vamos avaliar gradativamente a questão. Primeiro, temos que conseguir a licença’.

A companhia optou por este caminho por sofrer restrições para operar pela tecnologia terrestre e por já ter experiências similares na América Latina, especificamente no Peru e no Chile. Sociedades de controle estrangeiro não podem deter licença de cabo. A empresa tem garantida a escala para a infra-estrutura, uma vez que usará o mesmo satélite que provê o serviço para os demais países na região.

Apesar da vantagem com a escala, a Telefônica não vê sentido em restringir o capital estrangeiro no controle do serviço quando a tecnologia adotada é o cabo, pois a operação neste segmento é permitida em outros tipos de tecnologia.

No Brasil, existem quatro regras diferentes para a prestação do serviço de TV paga, conforme a infra-estrutura utilizada (Lei do Cabo, MMDS, DTH e TV por assinatura). Segundo Xavier, esta limitação de controle existe apenas no Brasil.

O executivo não quis falar muito sobre a estratégia de IPTV – fornecimento de serviços de TV paga sobre linha telefônica. ‘Esse assunto está num espaço muito sujeito a interpretações. O ideal seria que, de uma vez por todas, isso fosse formalmente regulado, de maneira que nós pudéssemos acompanhar o cenário internacional.’’



TELEVISÃO
Tramas derrapam

Keila Jimenez

‘Estava muito bom para ser verdade. As investidas da Record em teledramaturgia estavam indo bem até que uma maré de probleminhas resolveu atrapalhar a emissora. Nada muito grave, mas que já está tirando o sono de alguns diretores da rede. Os problemas se resumem em: atrasos nas gravações, queda na audiência e novos horários que não emplacaram.

No quesito atraso, a campeã é Cidadão Brasileiro. A trama já trocou de direção, passou por problemas com externas, por causa do mau tempo, e os atores continuam reclamando que estão recebendo os capítulos em cima da hora. Em ibope, até que a novela se manteve fiel à sua audiência inicial, na casa dos 10 pontos.

Já Bicho do Mato, trama que tinha tudo para consolidar o horário, derrubou a audiência na faixa das 7. Se a antecessora Prova de Amor chegou a alcançar a casa dos 20 pontos de ibope, Bicho comemora quando atinge 12.

Outro escorregão foi na opção por reprisar, na faixa das 15h30, a novela Louca Paixão. A audiência do horário caiu de 6 para 3 pontos desde a estréia da novela. Já tem gente apostando que ela será editadíssima ou sairá do ar antes do fim.

entre- linhas

O Globo News Especial exibe amanhã um programa com ex-integrantes de organizações armadas de esquerda que, em uma entrevista coletiva de 1970 declararam, estar arrependidos por terem lutado contra a ditadura pegando em armas. As imagens foram conseguidas com o Arquivo Nacional. Às 23 horas.

Auto-intitulado ‘Silvio Santos do Norte’, Carlos Santos virá a São Paulo a cada três meses para gravar seus programas. Fica mais barato do que levar artistas ao Pará. A primeira rodada será nos dias 4 e 5, com Amado Batista e um time de dar inveja ao Rei Majestade, do ídolo Abravanel.

TV Cultura e TV5 renovam parceria

Completado o primeiro aniversário de cooperação jornalística entre TV Cultura e TV5, as duas emissoras assinaram anteontem a renovação do contrato por mais dois anos. Assim, está garantida a bem-vinda exibição na Cultura do telejornal Le Journal, único jornal estrangeiro transmitido em TV aberta no Brasil.

E a TV5 ganhará mais uma vaga na Cultura: o Kiosque, programa de debates bem ao gosto dos franceses, também deverá ser exibido pelo canal. A parceria prevê ainda apoio mútuo em equipamentos e estúdios.’



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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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