Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>A imprensa na campanha
>>Enfrentando o arbítrio

A imprensa na campanha

A definição de algumas candidaturas a prefeito nas principais cidades brasileiras dá o tom do que será a campanha eleitoral vista pela imprensa.

Pressionados pelo excesso de zelo de alguns representantes da Justiça Eleitoral, cujas decisões têm sido amplamente contestadas, os jornais e revistas terão que enfrentar não apenas as restrições legais ao tratamento das notícias, mas também precisarão exercitar muito o senso crítico no que se refere à necessidade de equilibrar a pauta entre os candidatos.

Sabe-se que as eleições municipais deste ano são uma espécie de ensaio geral para a sucessão presidencial, marcada para 2010.

Estará em jogo não apenas o primeiro teste real da popularidade do atual presidente, mas principalmente a capacidade dos partidos de se reorganizarem para uma nova etapa da democracia brasileira, quando o País projeta uma presença internacional mais relevante e consolida sua liderança na América Latina.

Completamente desfigurados, os grandes partidos já não representam o que dizem suas siglas.

Além disso, o interesse na eleição de 2010 condiciona alianças, provoca dissidências e pode mudar completamente a relação de poder atualmente assentada sobre os dois grandes blocos políticos que compõem a situação e a oposição ao atual governo federal.

O Partido Democratas, por exemplo, pretende unificar o tema de sua campanha em todo o País, responsabilizando o presidente Lula pela inflação, o que pode desviar os debates das propostas de questões municipais

Mas nem sempre as intenções dos políticos se concretizam.

O varejo das campanhas municipais acaba impondo temas e posicionamentos que distanciam ainda mais o discurso dos compromissos programáticos, e os líderes habituados aos temas nacionais terão que pisar o barro e dominar as temáticas do cotidiano, como os problemas habitacionais, a violência e o trânsito caótico.

Em São Paulo, por exemplo, a premência de algumas dessas questões vai exigir muito discernimento dos jornalistas quanto às inevitáveis invenções de campanha que acabam se revelando fantasiosas, como o custoso e inócuo ‘fura-fila’ ou o delirante ‘aerotrem’.

Ao lado das pressões de uma Justiça Eleitoral ansiosa por demonstrar seu ativismo social, os jornais e revistas terão que provar que podem prestar um bom serviço de esclarecimento aos leitores/eleitores sobre o que interessa neste ano: avaliar a capacidade dos candidatos de melhorar a vida nas cidades.

Mais difícil do que contestar as restrições de procuradores e juizes eleitorais será ganhar a confiança do público, para que não fique a sensação, já percebida em outros tempos, de que a imprensa se comporta como um partido político.  

Enfrentando o arbítrio

A imprensa não se deixou intimidar por algumas decisões controversas da Justiça eleitoral.
Depois de reagir timidamente à proibição de entrevistas de candidatos antes da homologação nas convenções partidárias, jornais e revistas tomam a direção correta: seguem praticando o jornalismo e deixam o debate para os juristas.

Alberto Dines:

– A imprensa enfim levanta a cabeça e enfrenta a mordaça judicial. Já era tempo. A capa da última Veja-S.Paulo com a entrevista do pré-candidato a prefeito Geraldo Alckmin é  uma resposta cabal à censura imposta pelo juíz auxiliar Francisco Carlos Shintate que considerou como propaganda a primeira entrevista da série (com Marta Suplicy).

Tanto a Vejinha como  a Folha de S.Paulo até agora vinham reagindo à censura togada com protestos e contestações de juristas, entidades da sociedade civil, jornalistas e corporações profissionais. Fazer onda é pouco, quase nada. Jornais e revistas não são apenas mensageiros passivos, são também protagonistas, atores pró-ativos. Faltava nesta história uma ação afirmativa.

A Vejinha deste fim de semana encarou o magistrado e o desafiou. Correu riscos de ser novamente multada e considerada reincidente fazendo aquilo que seus leitores e a sociedade brasileira esperavam: continuou a serie de entrevistas com os pré-candidatos e cumpriu com o seu dever de informar.

Em outras palavras, afrontou a injustiça. A mídia eletrônica, porque depende de concessões do Estado, em geral se resigna mesmo quando está certa. Desta vez, o voluntarismo esbarrou na vontade firme de quem está com a razão. Este é um dado novo, positivo. Quando os poderes se equilibram numa República, ganha a democracia.